Por Nicolau Ferreira, in Público on-line
A maior preocupação de Marcelo Rebelo de Sousa é que o Governo não está a transmitir uma ideia de uma reforma de Estado, o que foi prometido durante a campanha eleitoral.
“Falta a ideia de uma reforma do Estado”, disse neste domingo o comentador e antigo Presidente do PSD durante a sua rubrica semanal que tem no final do noticiário da noite, na TVI.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o que se fez até agora “não é diferente do Governo de Sócrates” – aumentos de impostos e cortes nos sectores sociais. “Mas prometeu-se um Estado diferente, reorganizar o Estado, e nisto não houve um sinal do Governo”, disse o comentador.
Marcelo Rebelo de Sousa falava sobre os cortes anunciados pelo Governo durante esta semana, e sobre as críticas feitas pelo socialista António José Seguro, e pelos também ex-presidentes do PSD, Marques Mendes e Manuela Ferreira Leite.
Sobre o secretário-geral do Partido Socialista, Marcelo Rebelo de Sousa acusou Seguro de uma certa inconsistência e de falta de autoridade. “É cedo de mais para criticar o Governo”, quando foi o PS que deixou o país no estado em que está, referiu Marcelo. Quanto a Mendes e Ferreira Leite, o comentador defendeu que as observações foram mais preocupações do que críticas. E também algumas que tinha.
“Acho que o Governo faz isto [os anúncios dos impostos e de cortes] mal feito. Foi feito às pinguinhas, de improviso, não de uma vez só”, disse. Marcelo Rebelo Sousa exemplifica com o novo imposto extraordinário feito ao 1º e 2º escalão. Para Marcelo, este esforço dos mais ricos deveria ter sido incluído logo no primeiro pacote de aumentos de imposto, e não como um imposto separado, em reacção às críticas da opinião pública.
O comentador disse ainda que apesar de concordar com a carga feita no 1º escalão – onde diz que se encontra –, para o segundo escalão, onde se incluem pessoas que ganham 3000 euros, “a classe média”, o aumento de impostos e cortes nas regalias sociais são capazes de ser “um bocado de mais”.
Risco de socretismo
O social-democrata chamou ainda atenção para um dos dados anunciados pelo ministro das Finanças Vítor Gaspar, quando explicou o que vai acontecer à economia portuguesa nos próximos anos. O ministro disse que “em 2015 temos o mesmo desemprego que temos hoje, de 12,3 por cento”, relembrou Marcelo Rebelo de Sousa. “Quer dizer que isto é uma crise muito profunda.”
Por isso, o comentador criticou as declarações que Passos Coelho deu hoje na Universidade de Verão do PSD, onde disse que em 2012 seria o princípio do fim da crise. “O próximo ano é o ano em que se aplica tudo”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando que se pode dizer sempre que é o princípio do fim da crise. “Passos Coelho não pode correr o risco do facilitismo de Sócrates”, avisou, lembrando que o antigo primeiro-ministro não confrontava os portugueses com a realidade do país.
O antigo Presidente do PSD defendeu ainda três medidas que sabe que o Governo está a estudar e que necessitam de ser implementadas o quanto antes, para pôr a economia a crescer e para combater o desemprego: a recapitalização da banca, para dar créditos de uma forma mais permissiva, uma moratório nas amortizações que as empresas têm que fazer, que permite um folgo fiscal e haver novos fundos para as pequenas e médias empresas.
“Isso é crucial, se o Governo tem medidas destas estudadas, cada dia e semana que passa, é um dia e uma semana que se perde”, referiu.