11.7.12

Colégios privados fazem descontos para evitar a saída de alunos

Por André Jegundo, in Público on-line

A crise está aí e tem obrigado a que cada vez mais colégios adoptem estratégias para evitar a redução de matrículas. Só no último ano lectivo houve dois mil alunos que trocaram o privado pelas escolas públicas.

Descontos nas inscrições, bolsas de estudo e prazos mais flexíveis para pagamento das mensalidades são algumas das estratégias que os colégios privados estão a utilizar para conter a saída de alunos para as escolas públicas. Com os períodos de inscrição para o próximo ano lectivo em curso, muitos colégios têm notado uma tendência para a descida do número de matrículas e, sobretudo, para atrasos cada vez maiores nos pagamentos das mensalidades. Também na rede de creches e jardins-de-infância do sector social, onde os pais pagam de acordo com os seus rendimentos, registam-se quedas significativas nos pagamentos às instituições.

Se o ano lectivo passado já foi complicado para muitos colégios privados, o que se aproxima poderá ser decisivo para alguns manterem ou não as portas abertas. "Até ao momento temos conseguido fazer face a todos os compromissos. Mas, se a situação se agravar, não sabemos até quando", admite Bárbara Fernandes, directora pedagógica do Colégio do Sagrado Coração de Jesus, em Bragança. Nesta escola, onde o período de inscrições para o próximo ano lectivo já encerrou, a diminuição do número de alunos acentuou-se, sobretudo devido à situação económica das famílias.

Pacotes anticrise

"Temos muitos pais que, por motivos económicos, decidiram não renovar as matrículas e colocaram os filhos em escolas públicas. Por outro lado, há atrasos cada vez maiores no pagamento", afirma. A tendência para a redução do número de inscrições nos privados vem desde o último ano lectivo, quando a Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo ( AEEP) registou, nos 500 colégios que representa, uma quebra de 3,6% - o que significou a saída de cerca de dois mil estudantes.

Neste momento, mesmo sem números definitivos sobre as inscrições deste ano, a tendência de descida parece manter-se. "É uma diminuição muito assimétrica, uma vez que há colégios que não têm sentido qualquer diminuição. Mas também há outros com perdas muito significativas, que estão muito aflitos. Alguns tiverem mesmo que encerrar", reconhece Rodrigo Queiroz e Melo, director executivo da AEEP.

No Colégio Moinho de Sonho, na Amadora, a direcção da escola criou este ano "pacotes de inscrição anticrise", com preços especiais para inscrições, com ou sem alimentação e actividades extras. "Nestas ofertas especiais, as mensalidades variam entre os 300 e 400 euros, por mês e por aluno, o que representa uma diminuição média dos preços que praticávamos entre os 40 e os 50 euros", explica a directora Maria José Afonso.

Sector social em dificuldades

No Colégio Educação Integral, em São João da Madeira, que tem cerca de 500 alunos desde a creche ao 12.º ano, a direcção tem procurado dialogar com as famílias em maiores dificuldades para acordar soluções específicas para cada caso: ou alargando os prazos de pagamento, ou eliminando actividades extracurriculares para fazer baixar as mensalidades. "Já tivemos casos em que as pessoas nos dizem que não podem pagar durante alguns meses e nós acordamos prazos de pagamento alargados para os semestres seguintes", diz Joaquim Valente, proprietário e director do colégio.

Na rede de creches e jardins-de-infância do sector social, onde os pais pagam em função da sua capacidade económica, as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) têm notado também uma redução geral nas contribuições das famílias.

Entre 2011 e 2012, a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) registou uma quebra de 20% nas contribuições. "Ou por situações de desemprego, ou por redução dos rendimentos, as pessoas vêm ter com as instituições e dizem que já não podem pagar o que estão a pagar e pedem que as suas contribuições sejam revistas", diz Carlos Andrade, vice-presidente da UMP.

Também a Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS) tem notado um decréscimo nas compartições das famílias. "Têm descido em média entre os dez e os 25 euros, o que num valor de mensalidade de 125 euros, por exemplo, ainda é bastante", calcula José Casaleiro, secretário-geral da CNIS.Escolas particulares preparam novos currículos

Os colégios particulares querem aproveitar a maior autonomia dada às escolas na definição dos tempos lectivos para criarem, já a tempo do próximo ano lectivo, novos currículos com cargas horárias reforçadas em determinadas áreas, como línguas estrangeiras, matemática ou artes.

Nas reuniões com as escolas associadas, a direcção da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP) tem incentivado os colégios a preparem as alterações curriculares já para Setembro, com o objectivo de se diferenciarem "ainda mais das escolas públicas".

"É uma oportunidade para os colégios privados reinventarem os currículos adequando-os ainda mais aos seus projectos educativos, para atrair mais alunos", refere Rodrigo Queiroz e Melo, director executivo da AEEP, considerando que as escolas particulares "são mais rápidas do que as públicas a adaptar-se à mudança".

No âmbito da recente revisão da estrutura curricular do ensino básico e secundário, que reforçou a autonomia das escolas, as instituições de ensino têm agora maior liberdade para definir o tempo de duração das aulas, bem como a distribuição das cargas horárias às diferentes disciplinas, desde que respeitem o tempo mínimo por disciplina e o máximo de carga curricular, que continuam a ser definidos pelo Ministério da Educação e Ciência.