in Diário de Notícias
O Dia Internacional da Pessoa com Deficiência assinala-se hoje, uma data que serve para alertar para a necessidade de construir uma sociedade inclusiva para os cerca de 15% da população mundial, que vive com alguma deficiência.
Em 2013, o tema é "Quebrem barreiras, abram portas: Por uma sociedade inclusiva para todos", e o Instituto Nacional para a Reabilitação (INR) assinala a data com uma festa para crianças e jovens, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, mas também com um congresso sobre a surdocegueira, no Centro Cultural de Belém.
As iniciativas do INR são realizadas em conjunto com a Casa Pia de Lisboa e, no dia 04 de dezembro, serão nomeados oficialmente os embaixadores para a deficiência para o ano de 2014.
Os nomes são já conhecidos. No desporto paraolímpico trata-se de Simone Fragoso, de José Arruda, na gestão das Organizações Não Governamentais (ONG), Carlos Pereira para a área das acessibilidades e de Mário Augusto para a comunicação social.
Durante o dia de hoje decorre também uma conferência por "Uma Vida Independente", da responsabilidade dos (d)Eficientes Indignados, que começa de manhã e conta com a participação de vários participantes estrangeiros.
Ainda em Lisboa, tem lugar a entrega dos prémios BPI Capacitar 2013, uma iniciativa integrada na política de responsabilidade social da instituição bancária.
Nesta quarta edição da iniciativa, o BPI vai entregar 500 mil euros a diversas instituições sem fins lucrativos que se dedicam a projetos que promovem a melhoria da qualidade de vida e a integração social de pessoas com deficiência.
Mais à noite, pelas 19:00, a Associação Portuguesa de Deficientes promove uma vigília contra as medidas de austeridade.
Em Cascais, comemoram-se os 25 anos da Comissão para a Pessoa com Deficiência do concelho, com a inauguração de uma exposição de arte.
Mais a norte, no Porto, a Provedoria Municipal do Cidadão, em parceria com a Direção Municipal do Urbanismo, da Câmara Municipal do Porto, leva a cabo um seminário sobre "Espaço Público para Todos".
Durante o seminário, será apresentado o novo portal de sistemas de itinerários acessíveis (SAI), enquadrado no Plano de Promoção de Acessibilidade para a Cidade do Porto.
Lugar ainda para o encerramento da 15.ª edição do "Juntos pela Arte", que inclui uma peça de teatro da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) da Trofa, a hora do conto, a peça de teatro OCEANOS, da APPACDM de Matosinhos, e atuações musicais.
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3.12.13
Aos abraços da Catarina
Texto de Marta Couto, in Público on-line (P3)
Catarina tem 26 anos e um mundo de sonhos pela frente. O cabelo acima dos ombros e aquela certeza nos olhos tornam-na numa das meninas mais bonitas que já vi. A Catarina também tem Síndrome de Down mas isso diz-se numa frase
A Catarina tem o cabelo acima dos ombros e os olhos carregados de vida. Enfrenta o mundo com a doçura e a determinação de quem quer muito ir para lá dos poros da felicidade. Isto é tão raro, sobretudo na era dos descrentes no sorriso, que folgo em saber que aquele olhar quer dizer que o mundo é um berlinde para o tamanho dos sonhos que ela carrega.
Passei uma tarde com ela e — uma mão de horas depois de nos conhecermos — a Catarina assaltava-me o pescoço com a certeza de que nunca mais havíamos de deixar de dar abraços. É tão rara — também — esta entrega que percebi que, quando falamos de empatia, sobretudo entre pessoas que se separam por dois míseros anos de idade, não há abraço roubado que nos faça estranhar.
A dança — ou a forma mais física da felicidade a querer romper para lá dos poros — é uma paixão que a Catarina desenha com raridade. Tem ritmo, uma noção gigante do tempo na música e vê-se sozinha — com ela e com o corpo dela — naquele isolamento gostoso que só toca aqueles que se entregam ao que realmente gostam de fazer.
Quando conheci a Catarina, ela confessou-me baixinho — à medida que eu guardava a sorte de me sentir confidente — que estava apaixonada e que tinha um sonho muito grande: casar e ter filhos. Hoje, aquele príncipe deixou de ser o cavaleiro dela mas não duvido que o sonho continue lá. A julgar pela determinação nos olhos dela, ali não se apagam sonhos com uma borracha.
Um dia, fui vê-la interpretar uma personagem no musical “Jesus Cristo Superstar”, no cinema São Jorge. Não coube em mim de orgulho no talento para o teatro e na forma como se deixou, outra vez, dançar em cima de um palco, desinibida de pequenos, médios ou grandes públicos.
A natação, o teatro e a dança enchem-lhe o coração de prazer mas ainda tem a vontade dos pouco acomodados: não consegue estar parada. Levanta-se, disponível, para tudo o que se permite fazer.
No dia em que em conheci a Catarina, na despedida, ela voltou a assaltar-me o pescoço. Nunca me pareceu tão sentido o abraço de uma — até ali — desconhecida. A julgar por aquele aperto, não havia ali senão muito amor para dar. O príncipe dela há-de ser um sortudo por poder assaltado no pescoço todos os dias da vida deles.
A Catarina tem 26 anos e um mundo de sonhos pela frente. O cabelo acima dos ombros e aquela certeza nos olhos tornam-na numa das meninas mais bonitas que já vi. A Catarina também tem Síndrome de Down mas isso diz-se numa frase. A frase tem doze palavras e não tenho ideia do que possa vir a acrescentar de muito substancial ao que já vos contei sobre ela. A frase já acabou, já veio outra a seguir e acho que perceberam que a Trissomia 21 é apenas mais uma das características da Catarina. O resto das características — ou aquilo que se chama de carácter — diz-se em muitos parágrafos e numa data de frases. O resto não se contabiliza em palavras.
Catarina tem 26 anos e um mundo de sonhos pela frente. O cabelo acima dos ombros e aquela certeza nos olhos tornam-na numa das meninas mais bonitas que já vi. A Catarina também tem Síndrome de Down mas isso diz-se numa frase
A Catarina tem o cabelo acima dos ombros e os olhos carregados de vida. Enfrenta o mundo com a doçura e a determinação de quem quer muito ir para lá dos poros da felicidade. Isto é tão raro, sobretudo na era dos descrentes no sorriso, que folgo em saber que aquele olhar quer dizer que o mundo é um berlinde para o tamanho dos sonhos que ela carrega.
Passei uma tarde com ela e — uma mão de horas depois de nos conhecermos — a Catarina assaltava-me o pescoço com a certeza de que nunca mais havíamos de deixar de dar abraços. É tão rara — também — esta entrega que percebi que, quando falamos de empatia, sobretudo entre pessoas que se separam por dois míseros anos de idade, não há abraço roubado que nos faça estranhar.
A dança — ou a forma mais física da felicidade a querer romper para lá dos poros — é uma paixão que a Catarina desenha com raridade. Tem ritmo, uma noção gigante do tempo na música e vê-se sozinha — com ela e com o corpo dela — naquele isolamento gostoso que só toca aqueles que se entregam ao que realmente gostam de fazer.
Quando conheci a Catarina, ela confessou-me baixinho — à medida que eu guardava a sorte de me sentir confidente — que estava apaixonada e que tinha um sonho muito grande: casar e ter filhos. Hoje, aquele príncipe deixou de ser o cavaleiro dela mas não duvido que o sonho continue lá. A julgar pela determinação nos olhos dela, ali não se apagam sonhos com uma borracha.
Um dia, fui vê-la interpretar uma personagem no musical “Jesus Cristo Superstar”, no cinema São Jorge. Não coube em mim de orgulho no talento para o teatro e na forma como se deixou, outra vez, dançar em cima de um palco, desinibida de pequenos, médios ou grandes públicos.
A natação, o teatro e a dança enchem-lhe o coração de prazer mas ainda tem a vontade dos pouco acomodados: não consegue estar parada. Levanta-se, disponível, para tudo o que se permite fazer.
No dia em que em conheci a Catarina, na despedida, ela voltou a assaltar-me o pescoço. Nunca me pareceu tão sentido o abraço de uma — até ali — desconhecida. A julgar por aquele aperto, não havia ali senão muito amor para dar. O príncipe dela há-de ser um sortudo por poder assaltado no pescoço todos os dias da vida deles.
A Catarina tem 26 anos e um mundo de sonhos pela frente. O cabelo acima dos ombros e aquela certeza nos olhos tornam-na numa das meninas mais bonitas que já vi. A Catarina também tem Síndrome de Down mas isso diz-se numa frase. A frase tem doze palavras e não tenho ideia do que possa vir a acrescentar de muito substancial ao que já vos contei sobre ela. A frase já acabou, já veio outra a seguir e acho que perceberam que a Trissomia 21 é apenas mais uma das características da Catarina. O resto das características — ou aquilo que se chama de carácter — diz-se em muitos parágrafos e numa data de frases. O resto não se contabiliza em palavras.
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