in Jornal Público
Desemprego
O Banco de Portugal nunca faz previsões para a taxa de desemprego, mas quase não há dúvidas de que esta irá aumentar em 2009. O abrandamento do consumo e a queda das exportações vão colocar muitas empresas em dificuldade, tornando o cenário no mercado de trabalho muito mais complicado. Para o volume de emprego, o banco faz previsões e, claro, as notícias não são positivas. Depois de um crescimento de 0,3 por cento em 2008, queda de 0,5 por cento em 2009 e de 0,1 por cento em 2010. O objectivo de 150 mil empregos na legislatura parece definitivamente posto em causa.
Bens duradouros
É aqui que os portugueses já estão a revelar a sua precaução perante a crise. Com a palavra "recessão" na boca de toda a gente, a compra de bens como carros ou televisores com ecrã plasma é a primeira a ser adiada. No total de 2008, a diminuição do consumo de bens duradouros já será de 0,5 por cento. E em 2009, apesar da subida do rendimento real disponível, a queda chegará aos 5,1 por cento, prolongando-se por 2010. Nos bens não duradouros, o consumo abranda, mas de forma moderada. No total, o consumo privado vai crescer a uma taxa de 0,4 por cento em 2009, bastante menos que os 1,4 por cento de 2008.
Crédito
Os bancos vão conceder menos empréstimos durante este ano, mas a autoridade monetária diz que isso não significa necessariamente que o sector esteja a guardar para si todo o dinheiro que tem disponível. "Num contexto recessivo existe uma normal diminuição da procura de crédito por particulares e empresas", afirmou ontem Vítor Constâncio, assinalando não ser possível "distinguir na prática o que na desaceleração do crédito é o resultado da quebra da procura ou das restrições da oferta pelos bancos". O Banco de Portugal parece, assim, pôr-se à parte de qualquer ameaça de redução dos apoios à banca se esta não emprestar dinheiro às empresas e às famílias.
Exportações
Ao contrário do que aconteceu em 2003, uma parte muito importante da actual entrada em recessão da economia portuguesa deve-se à evolução das exportações. A procura em países como a Espanha, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos está a recuar e as empresas que fazem do estrangeiro um dos seus principais mercados vão sofrer. O problema já se fez sentir em 2008, em que por pouco se conseguiu uma variação positiva das exportações. A queda prevista para 2009 é a maior desde 1981. Não é só nas mercadorias que a quebra da procura se nota. Nos serviços, onde o turismo tem um peso fundamental, depois de aumentos superiores a dez por cento nos dois anos anteriores, o acréscimo já só foi de 2,2 por cento em 2008, entrando em terreno negativo durante este ano.
Défice público
Pode subir acima de três por cento, mas não muito, aconselha o governador do Banco de Portugal. Se, por um lado, Constâncio aconselha a colocação em prática de estímulos orçamentais para a economia, por outro, assinala que Portugal não tem "grande espaço de manobra". O Pacto de Estabilidade de Crescimento (PEC) permite que um país a atravessar um período de recessão (como acontecerá com muitos Estados europeus) pode deixar o seu défice ultrapassar de forma moderada e temporária o limite dos três por cento. "Não é um país como Portugal que isoladamente pode quebrar esta regra", diz Constâncio, lembrando os efeitos negativos que uma decisão desse tipo poderia vir a ter ao nível dos custos de financiamento da economia portuguesa no exterior. Por isso, e tendo em conta os efeitos que uma recessão pode ter nas contas públicas, o governador do Banco de Portugal considera que,
apesar de as regras do PEC permitirem ir um pouco mais longe, é melhor que o Governo português mantenha como ponto de partida para 2009 um objectivo de défice de três por cento. "Convém manter essa margem", defende.
Estados Unidos
"Estamos muito dependentes do que vier a acontecer nos Estados Unidos", afirmou ontem Vítor Constâncio. Para ao governador, da mesma forma que foi na economia norte-americana que a crise começou, terá de ser nela que deverá começar a desanuviar-se. Fica o conforto de, nos EUA, muito mais do que na Europa, as autoridades estarem de forma muito agressiva a adoptar políticas para contrariar a travagem da economia.