Sofia Branco, in Jornal Público
Ministro dos Negócios Estrangeiros traçou prioridades da política externa nacional para 2009, em seminário diplomático no Palácio das Necessidades
Não foi um discurso de circunstância o que ontem o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros fez perante as dezenas de embaixadores presentes no ritual do seminário que abre o ano diplomático. Luís Amado reconheceu, de forma até aqui pouco usual, que "o país adaptou-se mal ao choque da integração na união económica e monetária" europeia.
A "rápida convergência" de Portugal resultou num "processo de divergência paulatino" a partir da integração no "núcleo duro" da moeda única europeia, há dez anos. Daí advieram problemas estruturais para o país, como a existência de um "Estado pouco eficiente, uma economia pouco competitiva e uma sociedade com pouca autonomia, excessivamente dependente do Estado", indicou Amado.
"O Governo procurou reagir" com um programa de reformas e de contenção orçamental, mas a crise internacional veio "interromper um processo de recuperação que o país vinha seguindo", reconheceu o ministro, apontando: "No momento em que é preciso mais intervenção do Estado, o Estado tem limitações e constrangimentos orçamentais inquestionáveis. No momento em que a economia se devia flexibilizar e adaptar rapidamente a uma mudança de ambiente tão drástica, as fragilidades do tecido produtivo português sobressaem. E no momento em que precisávamos de uma sociedade mais forte, com níveis de bem-estar sustentáveis, a fraqueza do tecido social evidencia-se".
Neste contexto, só com "esforço e sacrifício" Portugal se manterá no núcleo duro da União Europeia (UE), a que quis pertencer desde o primeiro momento, frisou o governante, sustentando que o país deve "aproveitar a presidência da UE [segundo semestre de 2007] para consolidar a sua posição no sistema europeu".
O ministro aproveitou ainda para fixar as prioridades da política externa portuguesa para 2009: promover e defender os interesses económicos do país, atrair investimento e captar turismo; fazer um "acompanhamento meticuloso" do desenvolvimento da "crise global"; "tentar antecipar as mudanças em curso no sistema internacional", no "início de um longo, complexo e perigoso processo de reequilíbrio".
"É um tempo difícil e apaixonante", que exigirá da carreira diplomática "mais e difíceis tarefas", frisou Amado. "Sabemos onde estamos e temos alianças sólidas", mas é preciso encontrar um rumo para a política externa "que não se reduza à integração europeia" e promova a "liberdade de movimento" dentro dessas alianças.
América Latina e África como eixos do "fortalecimento do sistema euro-atlântico", "reforçar a relação com o mundo árabe islâmico" e "abrir embaixadas na Ásia" são algumas metas. Afirmar a vocação universalista" da política externa nacional passa ainda por "ganhar a candidatura ao Conselho de Segurança da ONU" para o mandato 2011-2012.