6.7.10

Portugal está demasiado endividado

por José António Cardoso, em Vila Real, in Diário de Notícias

Daniel Bessa diz que é necessário parar e estancar com a actual "hemorragia financeira"

Daniel Bessa culpou os últimos Governos pela crise, pois gastaram "acima das posses". " Em dez anos, o País acumulou uma dívida de dez mil milhões de euros, o que quer dizer que cada português está actualmente endividado em mil euros", disse. Daniel Bessa ressalta o facto de toda a gente dizer que em nada contribuiu para o défice; no entanto, afirma que a maioria gastou e endividou-se acima das suas capacidades.

"Agora vamos todos ter de pagar, e não são os pobres - como por aí se diz - que vão pagar a crise, pois todos vamos pagar em proporção do que ganhamos."

O orador apontou como principal problema o "o pouco que se produz e vende no mercado interno". Deu como exemplo Estados com dívidas bem maiores do que a de Portugal, "onde o Estado gasta demais, mas as famílias de menos." O drama de Portugal é dever ao exterior 350 mil milhões de euros, realçando que os sete mil milhões de euros que a Telefónica oferece à PT pela compra de Vivo apenas dão para liquidar 7% da dívida externa.

Estamos a endividarmo-nos a uma média de dois milhões de euros por hora; há que parar e estancar esta "hemorragia financeira", acrescentou p orador desta iniciativa Encontros Millennium, que conta com o apoio da TSF, Jornal de Notícias e o DN.

Daniel Bessa defendeu que as grandes empresas portuguesas devem procurar financiamento no exterior, deixando o financiamento interno para as pequenas e médias empresas.

Apesar da crise, é possível crescer. "É preciso é que os empresários, em vez de estarem à espera que as encomendas cheguem até eles, que se metam nos carros e vão ter com os clientes, pois quem fabrica produtos de qualidade tem sempre hipóteses de venda", disse.

A crise, que segundo Daniel Bessa começou em 2007 nos Estados Unidos através do sector imobiliário, é actualmente mais europeia, dado que a valorização do euro em relação ao dólar foi um desastre. Mas, apesar de tudo, "defendo o euro que, estou certo, não irá acabar".

Daniel Bessa considera que as medidas tomadas até agora pelo Governo poderão não bastar para diminuir o défice, sendo apologista de que se deveria ter a coragem de Mário Soares que, em 1983/84, delegou no seu ministro da Economia, Ernâni Lopes, a resolução dos problemas que nessa altura seriam tão graves como actualmente, e cuja medida principal foi cortar 13% nos salários reais dos portugueses. "Foi uma medida corajosa mas eficaz e não sei se o actual Governo terá de tomar tal medida. Se o fizer, tenho a a certeza de que os portugueses aceitariam. Pois só assim lá chegaremos: com muita dor e mais desemprego, mas em três anos talvez tenhamos o problema resolvido", concluiu.