30.5.08

Sem casa-abrigo algumas mulheres pensariam na morte

Ana Cristina Pereira, in Jornal Público

Investigadores de três países europeus desenvolveram e testaram um modelo de avaliação deste género de equipamento


Não fosse a rede de casas-abrigo para vítimas de violência doméstica, 17 por cento das mulheres que nelas encontram refúgio ficariam em casa e 38 ficariam sem rede - 14 por cento dizem que dormiriam nas escadas, 13 que não teriam para onde ir, seis que se teriam tornado sem-abrigo e cinco que se teriam suicidado.

A amostra é pequena (224 inquéritos feitos em Portugal, na Escócia e na Irlanda - 95 preenchidos ao entrar numa casa-abrigo, 126 ao morar ou ao sair). Não vale generalizar. Mas o resultado pode alertar as autoridades nacionais e locais para "o custo humano do não investimento neste tipo de respostas".

"Tornar-se sem-abrigo ou dormir nas escadas é uma opção considerada mais vezes por mulheres residentes na Irlanda ou na Escócia, enquanto o suicídio é uma situação referida apenas por mulheres portuguesas", nota o relatório Refugees Evaluation Modelling. "A cultura e a organização de respostas dirigidas a sem-abrigo podem explicar este tipo de diferenças".

O projecto - do Centro de Estudos para a Intervenção Social, da National Network of Women"s Refuges and Support Services e da Scottish Women"s Aid - desenvolveu e testou um modelo de avaliação do trabalho desenvolvido nas casas-abrigo. E tal modelo, ontem apresentado em Portugal, está já a ser usado na Escócia e na Irlanda.
Os países vivem fases distintas. O desafio das organizações que gerem as casas-abrigo em Portugal e na Irlanda tem sido "providenciar dados sobre a prestação de serviço". Na Escócia, o desafio já é fornecer informação sobre a qualidade dos serviços.

Em qualquer caso, ao entrar numa casa-abrigo, as mulheres querem sobretudo ficar em segurança (73,3 por cento), obter suporte emocional (70,5), informação e apoio para encontrar casa (70,5). Ao sair, 85 por cento dizem que se sentiram bastante seguras, 81 muito mais protegidas do abusador. Os aspectos menos positivos estão relacionados com a gestão do contacto com o agressor, com o lidar com o impacte do abuso ou entender a violência doméstica.