28.10.22

Combater o isolamento dos mais idosos

Ana Margarida Azevedo, opinião, in DN

O envelhecimento populacional é um desafio global comum e está prestes a tornar-se na grande transformação social do século XXI, com implicações transversais a todos os setores da sociedade: no mercado laboral, na procura de bens e serviços como a saúde ou a habitação, na proteção social, nas estruturas familiares e laços interrelacionais.

Atualmente, 22% da população portuguesa tem 65 ou mais anos. Prevê-se que, em 2060, esta percentagem atinja os 36%, o que representa quase quatro milhões de portugueses, ou seja, em menos de 40 anos, quase duplicará o número de idosos no nosso país.

Face a esta nova estrutura demográfica e aos problemas sociais que dela advêm, a Fundação Ageas, fundação corporativa integrada no universo do Grupo Ageas Portugal, tem vindo a apoiar diversos projetos no domínio do combate à solidão e promoção de envelhecimento ativo, bem como na melhoria da rede de apoio ao cuidador.

Alguns desses projetos são de base local e possuem intervenções de proximidade junto da comunidade, enquanto outros possuem já modelos de replicabilidade e escalabilidade, levando a que a própria Fundação tenha inovado a sua abordagem à filantropia para melhor as apoiar. Ilustro essa atuação com projetos que têm tido maior visibilidade como o "Pedalar Sem Idade" cuja intervenção já abrange quatro cidades, os "Palhaços d"Opital" que levam sorrisos e alegria aos seniores que se encontram em ambiente hospitalar; ou o projeto "55+" com vista à dinamização ativa de pessoas com um capital de experiência enorme e que desejam permanecer ativas e criar laços com a comunidade.

Aprender com os seniores

Um dos principais desafios da terceira idade é o isolamento e abandono a que muitas vezes está sujeita. E não falamos apenas de seniores que não têm família direta; falamos também de quem, apesar de ter família próxima, não tem uma visita, um telefonema, um programa lúdico com aqueles de quem mais gosta. Seja porque "não há tempo", ou simplesmente porque é precisa paciência, empatia e carinho, e muitas são as famílias que se esquecem que é um privilégio poder conviver com pessoas mais velhas e experientes.

É uma convivência que traz benefícios para todos, sejam familiares, amigos ou vizinhos. Partilhar vivências, histórias, demonstrar interesse, fazer perguntas, são pequenos gestos que enriquecem os mais novos e ajudam os mais idosos a sentirem-se úteis e com interesse. Cria também vínculos sociais, tão importantes no contexto da sociedade individualista em que se vive atualmente.

Como combater o isolamento social

Há pequenos gestos que podem ajudar a melhorar a vida dos mais velhos e a fazer com que estes se sintam parte ativa da sociedade, sobretudo, evitando o seu isolamento social.

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Atividades de grupo: dar uma voltinha pela vizinhança frequentar um parque, café, ou uma universidade sénior ou centro de dia, pode manter as relações de amizade e proximidade que fazem companhia e reduzem o tempo em que se está sozinho.


Atividade desportiva: respeitando a condição física de cada um e, de preferência, acompanhado por um profissional de saúde, a atividade física moderada ajuda a manter o corpo mais forte e são, promovendo, ao mesmo tempo, o convívio social. Caminhadas ao ar livre, a hidroginástica ou o mesmo pilates são algumas das atividades mais aconselhadas para a terceira idade.

Tecnologia: pode ser benéfica - evita o isolamento social, pois permite a comunicação mais fácil com amigos e familiares; possibilita que se mantenham a par da atualidade; estimulam, a partir de jogos, atividades cerebrais, prevenindo lapsos de memória e o avanço de algumas doenças neurológicas associadas a uma idade mais avançada.

Hobbies: a oferta é cada vez mais variada e deve ser incentivada - seja aprender uma língua nova, estudar história universal ou fazer um curso de teatro, culinária ou mesmo música. Aprender algo novo é sinónimo de ginástica cerebral em qualquer idade e é extremamente importante para os seniores.

Olhar para o envelhecimento como uma evolução natural e um momento privilegiado da vida é essencial para combater o preconceito da velhice. Os idosos não devem ser vistos como pessoas frágeis, com tratamento infantilizado, e pouco úteis, mas, ao invés, como um ativo importante da sociedade, uma parte essencial da nossa população e um riquíssimo reservatório de conhecimento e sabedoria. Cada um de nós tem uma história particular e intransferível que deve ser respeitada e valorizada.

Envelhecer é natural, e felizmente os cuidados de saúde aumentam a nossa esperança de vida, então é importante que saibamos envelhecer bem.



Secretária-Geral da Fundação Ageas

Quase uma em cada 4 crianças portuguesas em risco de pobreza e exclusão social

“Nunca foi tão difícil ser jovem”. Ou professor, ou músico, ou agricultor ou... empresário

Daniela Carmo, Patrícia Martins, Inês Matos e Carlos Dias, in Público online

Nas vésperas do Conselho de Estado, um trabalhador precário, um professor, um agricultor e um pequeno empresário contam como olham para o futuro próximo, com a crise no horizonte.

O planeta não tem plano B e, por isso, o agricultor António Tavares tem ainda mais receio da crise climática (e da falta de água), do que da crise económica. A primeira tem impactos sequenciais e a longo prazo que o deixam apreensivo, mesmo que a segunda esteja já a bater à porta e a pedir alguns ajustes. E a pedir também planos B, como o que o próprio agricultor alentejano desenhou para reduzir os custos da sua produção ou como o que o músico Luís Coelho, de Penafiel, procurou para fazer face à precariedade laboral.

O desassossego em relação ao futuro é transversal a várias áreas. André Torres, pequeno empresário no sector da restauração, em Gaia, tornou-se patrão e empregado para reduzir gastos. Mesmo assim, o seu receio é ser obrigado a “fechar” as portas. O optimismo não reina, nem quando quem fala é um jovem funcionário do Estado, com supostamente maior estabilidade laboral. Supostamente porque os 17 ou 18 mil euros que ganha por ano como professor (a andar pelo país) não dão para Tiago Leitão planear uma vida. “Nunca foi tão difícil ser jovem”, diz o docente de 27 anos.

Eis quatro casos que mostram como a degradação da situação socioeconómica do país, que Marcelo Rebelo de Sousa quer discutir no próximo Conselho de Estado, está a preocupar os portugueses. Mesmo com as ajudas anunciadas para famílias e empresas.

Precário, mesmo com plano B

Sempre sonhou ser músico, mas reconhece que, actualmente, a profissão que escolheu significa viver na precariedade. “Sendo músico profissional, a precariedade já faz um pouco parte da própria profissão. O mercado está muito cheio e não existe oferta em Portugal que consiga dar emprego a todos os músicos. Além do que, no caso do meu instrumento, não existe lugar de orquestra, logo aí tira também muito emprego”, descreve Luís Coelho, saxofonista, de 28 anos.

O sonho tornou-se realidade em 2018, quando o jovem concluiu os estudos superiores em Música, em 2018. Desde então, tem dado os primeiros passos na carreira, sem grande rentabilidade. “Enquanto músico tenho tido alguns concertos, mas se formos a ver quanto é que retiro desses concertos em termos monetários é muito reduzido, não dá nem para pagar os gastos. Estou formado há quase cinco anos e ainda estou a pagar para tentar singrar na minha profissão”.

Luís precisou de um plano B. Por isso, além de músico, inscreveu-se para leccionar actividades de enriquecimento curricular em algumas escolas de Penafiel. O ensino ajuda-o quando não há concertos — é um complemento. Mas, o plano B também não lhe dá estabilidade financeira. “Dou nove horas de aulas durante a semana e isso perfaz mais ou menos 400€ por mês. Para um jovem de 28 anos, a ganhar metade do ordenado mínimo, é uma loucura”, descreve.

Mesmo sendo músico e professor, Luís não consegue ter uma vida pessoal e financeira estável e não consegue ver o copo meio cheio em relação ao futuro próximo. “A minha profissão, para a qual estudei, a qual quero exercer, não me permite ter uma vida digna. Eu não consigo contrair um crédito, não consigo alugar uma casa, não consigo constituir família e ainda estou a viver em casa dos meus pais. E, se olhar para esta realidade e para o montante que me permite viver sozinho, tão cedo não consigo fazer isso”, afirma, desesperançado em relação ao que ouve dizer que aí vem: a crise inflacionária.

Os apoios do Governo, nomeadamente, o Estatuto dos Profissionais da Cultura, é algo com que o saxofonista também não pode contar. “Como músico, não tenho uma agenda programada. Neste momento, tenho mais dois concertos até Novembro e não sei quando é que vou ter mais. É uma coisa que vai surgindo. E nos últimos seis meses, tive quatro concertos, o que significa que não tenho acesso ao estatuto, porque não tenho uma actividade regular que me permita aceder a esse estatuto”.

Apesar do desânimo com que vê actualmente o estado da profissão, Luís considera que o aumento do Orçamento de Estado para a Cultura “mostra realmente que o Governo está a mudar uma página em Portugal, porque neste momento os artistas estão a trabalhar muito contra a corrente, e este aumento significa que ainda há alguma esperança para o futuro”. P.M.

A dupla crise na Agricultura

Pensar no futuro, mesmo a curto prazo, tornou-se para António Tavares, pequeno agricultor em modo de produção biológico, um exercício de gestão repleto de incertezas. “É muito complicado planear o futuro quando as alterações climáticas nos trazem tantos receios”, conjectura.

Nem mesmo o aumento desmesurado nos factores de produção (que em modo biológico são superiores aos que estão a ser sentidos na agricultura) o preocupam tanto como os efeitos das alterações climáticas que podem ser devastadores. “Assusta-me pensar que um dia me pode faltar a água de Alqueva”. É este o seu receio maior quanto ao futuro, mesmo comparado este cenário crítico com a diminuição no número de encomendas recebidas. “Nem foi preciso aumentar o preço dos nossos produtos” observa o agricultor. Outros encargos e restrições no orçamento familiar obrigam a optar por produtos não biológicos, porque estes são, inevitavelmente, mais caros.

A actividade da pequena empresa de António Tavares está baseada na entrega de cabazes com produtos hortícolas na casa dos clientes. “Nós produzimos e distribuímos”, acentua, realçando o “enorme esforço” que é feito para manter a autonomia, quando os combustíveis aumentam. “Quase de certeza vamos ter de subir os preços”, antecipa, embora ainda não se reflicta no que entrega aos clientes.

“Estamos a ser bastante afectados pela crise” reconhece o pequeno agricultor, admitindo que já foi forçado a fazer escolhas: os produtos que têm menos venda já foram retirados do cabaz e já negociou a partilha de encargos com a empresa do Oeste que fornece a fruta. “Eles transportam-na até Évora e nós vamos lá buscá-la” para assim dividir o custo da deslocação.

“Olhando para o futuro, honestamente e na parte agrícola, não é nada promissor”, salienta António Tavares, dando um exemplo: “Tenho um acordo com um pequeno produtor pecuário que traz o seu rebanho para a minha exploração para a limpar de ervas e matos e ao mesmo tempo fertilizar os terrenos”. Com a seca prolongada, associada às altas temperaturas ambiente e fraca precipitação atmosférica, os animais deixaram de ter pasto.

A situação que é recorrente tornou-se dramática para os donos dos rebanhos de ovelhas e cabras. Deixaram de ter fundo de maneio para a aquisição de rações que estão a um preço inacessível, uma situação que se tornou dramática devido à falta pasto para os animais. Sem condições para sustentar os rebanhos resta-lhes vender os borregos abaixo do preço do que gastaram com eles para que os animais não morram à fome.

“A agricultura, tal como está, passou a ser uma actividade muito complicada e vai obrigar-me a ponderar um plano B, para garantir a sustentabilidade da minha família”. C.D.
Professor com a vida em suspenso

A procura por um horário completo numa escola, capaz de garantir um ordenado digno e, ao mesmo tempo, contribuir para a progressão na carreira, fez Tiago Leitão, professor de História, rumar de Matosinhos — no distrito do Porto — a Lisboa no início deste mês. “Felizmente” tinha já familiares a residir na capital que o acolheram. “Foi-me mais fácil porque tenho esse suporte familiar, mas há muitos professores que não têm isso e é um problema porque é uma mudança muito grande, principalmente por estes dias” de crise, reflecte.

A maior despesa, que seria a da habitação, ficou assim adiada. Mas nem por isso o professor, de 27 anos, deixa de lado a hipótese de encontrar uma casa, ou um quarto num apartamento partilhado, para onde se possa mudar num futuro próximo.

“A expectativa seria, no máximo, sair de casa dos meus tios até Janeiro”, afiança, ao mesmo tempo que nota que “os preços são caríssimos”. “Viver aqui [em Lisboa] sem ajudas de custo é muito complicado e também não quero estar numa situação em que perco dinheiro, como acontece com colegas meus.”

Se, por um lado, o conforto de poder viver com familiares contribuiu para a mudança para Lisboa se efectivar, por outro lado, Tiago Leitão fê-lo também a pensar na poupança de algum vencimento. “A verdade é que nós, jovens, não conseguimos ter dinheiro suficiente para comprar e pagar uma casa e, por isso, andamos a pagar rendas exorbitantes a senhorios por casas partilhadas com desconhecidos, mesmo depois dos 30 anos”, explica. “Nunca foi tão difícil ser jovem.”

A subida da inflação sente-a principalmente no mercado imobiliário: “Sempre que faço uma pesquisa por casas ou quartos aquilo que se encontra são preços caríssimos e senhorios que pedem duas ou três cauções logo à partida, mais os três recibos de vencimento anteriores e outras tantos coisas que, para muitos jovens, não são fáceis de adiantar”.

Também no combustível sente o aumento dos preços. “É impensável para mim levar o carro nas viagens de fim-de-semana entre Lisboa e Porto. Vou de comboio ou de autocarro, principalmente de autocarro porque se comprar com alguma antecedência sai mais barato.”

Os gastos são, de facto, pensados ao pormenor na esperança de conseguir uma almofada financeira mais confortável e, no horizonte, mantém-se a esperança de um dia conseguir comprar casa.

“O objectivo agora é o de conseguir pôr algum dinheiro de lado e, juntamente com a pessoa com quem estou, mais tarde dar a entrada para uma casa. Só que as entradas de uma casa são de 10% ou 20%. Agora não há casas a 150 mil euros, mas 10% disso são 15 mil euros e para poupar 15 mil euros, num ano por exemplo, é complicado. Contas feitas, ao final do ano um professor ganha cerca de 17 ou 18 mil euros, isso significa que temos de trabalhar um ano praticamente sem qualquer despesa para poupar esse montante”, remata.

Quanto às medidas do Governo para combater o aumento dos preços, como o apoio extraordinário de 125 euros, o professor de História diz que “são suficientes durante um mês, até o dinheiro acabar”. “E depois?”, questiona. “As pessoas tiveram uma ajuda com a inflação, mas a inflação continua elevada. E depois? As pessoas, na sua maioria, estão a perder poder de compra. Os meus alunos mais novos foram capazes de me dar exemplos concretos de perda do poder de compra, situações que sentem que os pais estão a ter”, exemplifica.

“Reduzir os preços dos transportes” ou “comida para toda a gente” foram alguns dos exemplos de “acções capazes de mudar o mundo” dados pelos alunos de Tiago Leitão. “Eles não me disseram que passaram fome, mas sinto que, ao pensarem no assunto e ao terem essas questões, é porque já estão a ver alguém a passar por isso, se não forem mesmo eles.” D.C
A luta do patrão-trabalhador

Há meses que André Torres, pequeno empresário na área da restauração, repara nas consequências que a escalada de preços e a crise trouxeram ao seu negócio. “Em termos de facturação, as pessoas já não gastam tanto como gastavam, estão mais limitadas a gastar dinheiro. Isto está muito complicado”, desabafa. Dono do café e snack-bar Newglass, aberto há 12 anos em Vila Nova de Gaia, André receia os tempos que se aproximam devido ao impacto da inflação.

Para tentar amenizar as quebras, foi necessário fazer algumas alterações no funcionamento do café. Viu-se obrigado a dispensar um funcionário — agora, tem apenas dois, contando com ele, sendo que é um “patrão trabalhador” —, teve de “aumentar os preços” dos produtos, uma vez que também os compra a valores superiores, e de “alterar certos produtos” e “procurar os melhores preços” entre os diferentes fornecedores. Além disso, foi necessário “reduzir os dias de trabalho”, passando a fechar as portas do estabelecimento dois dias por semana. Também começou a “fazer promoções, para as pessoas poderem gastar um bocadinho mais”.

Após dois anos de pandemia, em que o negócio esteve limitado e foi preciso fazer um esforço para manter as portas abertas, André não está optimista. “A partir do início do próximo ano vai ser complicado, acho que vai ser ainda mais complicado. São os preços a aumentar, as pessoas têm medo de gastar e tudo isso conta, não há dinheiro para movimentar”, refere.

O proprietário de 34 anos considera que as medidas que o Governo tem vindo a anunciar para apoiar os portugueses não são suficientes. “Isto de dar os 125 euros, acho que isso nem cabe na cabeça de ninguém, é enganar…”, começa por dizer. “Agora, estão-nos a dar, mas a partir do ano que vem vão-nos tirar. O Governo também se aproveita um bocadinho com a guerra”, conclui.

Com o aumento dos gastos constantes e com a imprevisibilidade dos próximos meses, André Torres confessa que o seu “maior receio é fechar”. Para que isso não aconteça, considera que devia haver mais apoios para que as empresas não fechassem”, como por exemplo “reduzir os impostos, reduzir o IVA, reduzir essas coisas que realmente aumentaram muito e que têm muito peso”.

Assim, com as constantes oscilações dos preços e com o poder de compra dos clientes a diminuir, André está apreensivo quanto aos meses que se aproximam e ao início do próximo ano. Só aí considera que se poderão ver, ou não, “melhoras”. Até lá, é “lutar”. I.M.

EAPN: Projeto Crescer na Cidadania já tem Manual

in Reconquista 

Os 11 anos do projeto “Crescer na Cidadania” acabam de ser traduzidos num Manual Pedagógico, que é “um instrumento pedagógico, que servirá de base de apoio e um recurso associado à disciplina de Cidadania”.

Manual vai servir de apoio à disciplina de Cidadania

Os 11 anos do projeto “Crescer na Cidadania” acabam de ser traduzidos num Manual Pedagógico, que se assume em contexto escolar como “um instrumento pedagógico, que servirá de base de apoio e um recurso associado à disciplina de Cidadania”, desde o 1.º Ciclo ao Secundário.

Ao longo de mais de duas décadas, o Núcleo Distrital de Castelo Branco da Rede Europeia Anti Pobreza (EAPN) estabeleceu um protocolo de parceria com os diversos agrupamentos de escolas da região, através do qual fidelizaram o compromisso de aplicar o projeto “Crescer na Cidadania” e dar-lhe continuidade nos anos letivos seguintes, nos concelhos de Castelo Branco, Covilhã, Penamacor e Fundão.

“A escola é um poderoso meio de prevenção social, sobretudo se os valores de ética, democracia, justiça e cidadania forem incorporados no quotidiano das salas de aula”, defende a equipa do projeto.

Na apresentação do manual, que decorreu sexta-feira, dia 21 de outubro, nas instalações do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), estiveram presentes os representantes e coordenadores de cada ciclo de ensino e secundário dos agrupamentos de escolas que abraçaram o projeto “Crescer na Cidadania” em 2010 e deram continuidade às ações nele previstas até ao ano letivo 2022/2023. Marcaram ainda presença os parceiros do projeto “Crescer na Cidadania” que, para além da equipa da Unidade de Cuidados na Comunidade do Centro de Saúde São Tiago de Castelo Branco, integra a da Equipa da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Castelo Branco. A vereadora com o pelouro da Educação, Patrícia Coelho, esteve em representação da Câmara Municipal de Castelo Branco.

O presidente da mesa do conselho geral do Núcleo Distrital da EAPN, Frederico Reis, fez a abertura do lançamento deste Manual e agradeceu a forte rede de parceiros que foi possível estabelecer ao nível da educação no distrito de Castelo Branco.


Município de Redondo participa na Focus Week Distrital de Luta Contra a Pobreza!

Escrito por Ana Rocha, in Rádio Campanário

O Município de Redondo aderiu à iniciativa da “Focus Week Distrital”, promovida pela EAPN/Rede Europeia Anti-Pobreza, usando uma peça de roupa branca, como símbolo de combate à pobreza.

Este ano o evento decorre de 17 a 24 de outubro.

Este evento pretende chamar a atenção para a necessidade de combate à pobreza.

A luta contra a pobreza e a exclusão social deve ser assumida por todos os atores sociais, desde a sociedade civil, passando pelos órgãos de decisão política de nível local, regional e nacional. Neste contexto, podem associar-se à EAPN Portugal as pessoas singulares ou coletivas que se identifiquem com a sua missão e se proponham contribuir para os seus objetivos. A base associativa distribui-se pelas seguintes categorias: Associados individuais, Associados coletivos, Associados honorários e Associados por inerência.

EAPN: Aposta no apoio domiciliário pode ser um desafio futuro das IPSS

in a Reconquista

As IPSS têm falta de recursos humanos, pelo que o novo paradigma passa pela aposta reestruturada no apoio domiciliário.

Um dos encontros decorreu no Lar Major Rato em Alcains

O Núcleo Distrital de Castelo Branco da Rede Europeia Anti Pobreza (EAPN), no âmbito do Dia Internacional de Erradicação da Pobreza (celebrado a 17 de outubro), promoveu, dia 19 na Santa Casa da Misericórdia da Covilhã e dia 20 no Lar Major Rato em Alcains, em parceria com estas instituições anfitriãs, mas também com o Instituto Português do Desporto e Juventude, a delegação de Castelo Branco da Cruz Vermelha Portuguesa e a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Castelo Branco, um encontro de associados, onde analisaram o impacto da crise na vida das instituições.

O encontro de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), associadas à EAPN, teve como foco um “debate de Reflexão da situação atual das instituições do Distrito de Castelo Branco”, na semana dedicada à “Erradicação da Pobreza”.

O Núcleo Distrital de Castelo Branco da EAPN, “tendo um olhar atento às questões das respostas sociais do distrito, associadas à Pobreza e Exclusão Social, que se agravam, debruçou-se neste debate sobre o modelo social atual, com o intuito de contribuir para a construção de um novo paradigma”. Desde logo, “a pandemia, trouxe novos desafios às entidades de cariz social e para os quais não estavam preparadas. Muitas dificuldades foram superadas, enquanto outras se mantêm, obrigando a outras soluções que passam pela formação, pelas respostas sociais e de grande apoio financeiro para manter as respostas que oferecem à comunidade”, avançam os promotores, acrescentando que “o decréscimo de utentes nas respostas socias de Centro de Dia, Apoio Domiciliário, e Centros de Convívio, levaram os utentes a procurarem resposta de ERPI (Estrutura Residencial Para Idosos - Lar) com o aumento da fragilidade das pessoas, devido à dependência e de muitos residirem isolados da comunidade”.

Por outro lado, “a média de idades muito altas, nas direções das IPSS, leva a repensar no rejuvenescimento das mesmas, mas a falta de recursos humanos é notório em todas a instituições, as quais têm que rever todos os seus quadros. O problema mais eminente de hoje e de futuro é o quadro de pessoal”. Além disso, “o envelhecimento populacional de algumas freguesias, leva ao acentuar da questão dos recursos humanos e que futuro, têm as organizações para manter as respostas à comunidade”.

Os associados da EAPN defendem assim que “o apoio domiciliário será o paradigma do futuro, nos próximos anos, numa aposta mais individualizada às necessidades das pessoas, envolvendo uma rede de parceiros locais de forma a envolver todos na reposta social, habitacional e saúde”.

Padre Jardim Moreira. "Se as famílias forem pobres, os filhos vão sofrer as consequências"

João Malheiro, in RR

O padre Jardim Moreira avisa que ter emprego "não basta" para que as famílias tenham qualidade e recursos para viver, até porque "quem tem mais filhos, em Portugal, tem mais risco de viver em pobreza", devido aos custos necessários.

O padre Agostinho Jardim Moreira alerta que as crianças são pobres, porque as famílias são pobres e, enquanto assim for, "os filhos vão sofrer as consequências".

É a reação, à Renascença, do presidente da secção portuguesa da Rede Europeia Anti-Pobreza (REAP), no dia em que o Eurostat indica que uma em cada quatro crianças portuguesas vivem em risco de pobreza e exclusão social.

O padre Jardim Moreira avisa que ter emprego "não basta" para que as famílias tenham qualidade e recursos para viver, até porque "quem tem mais filhos, em Portugal, tem mais risco de viver em pobreza", devido aos custos necessários.

Quando questionado sobre um risco do agravamento dos números da pobreza, no próximo ano, devido à inflação e ao aumento do custo de vida, o presidente da secção portuguesa da REAP admite que pode haver "uma escalada da pobreza".

OE2023
António Costa: "A pobreza não aumentou, a pobreza está a baixar”


Para evitar isso, defende que será necessária "a execução da transferência de competências que está a ser feito do poder central para as autarquias".

"Se isso não for possível, o poder central vai dizer que já não é da sua competência e as câmaras vão dizer que não estão preparadas. E vamos ter aí um fosso", avisa.

O padre Agostinho Jardim Moreira critica ainda a linguagem politica de António Costa "que não corresponde aos números atuais", quando o primeiro-ministro disse que "a pobreza está a baixar", esta quarta-feira, na Assembleia da República.

"Depois da pandemia, as coisas mudaram. Muita gente tem entrado na pobreza e na exclusão social, isso não há dúvida", refere.

27.10.22

Como o ACNUR responde à fome e insegurança alimentar de refugiados em meio à crise global


Com a escalada da fome e da insegurança alimentar no mundo, estas se tornam causa e efeito do deslocamento forçado. Saiba o que o ACNUR faz para apoiar pessoas refugiadas

Atualmente, 828 milhões de pessoas passam fome no mundo, de acordo com as Nações Unidas. Esse número mais que dobrou nos últimos dois anos, recolocando o tema da fome como uma prioridade global.

Existem vários fatores que contribuem para o aumento acentuado da insegurança alimentar nos últimos dois anos: A pandemia da COVID-19 gerou instabilidade econômica, aumento da inflação e interrompimento de cadeias de abastecimento de alimentos, dificultando o fornecimento de ajuda humanitária às pessoas refugiadas, especialmente em locais de difícil acesso;
As mudanças climáticas estão afetando o abastecimento da agricultura e pecuária em todo o mundo e intensificando guerras em decorrência de disputas por recursos naturais;
A desigualdade e a pobreza fizeram com que alimentos acessíveis estivessem fora do alcance de milhões de famílias;
A guerra na Ucrânia teve um efeito cascata nas cadeias de abastecimento e recursos alimentares – além de provocar o deslocamento forçado de mais milhões de pessoas.

Enquanto essas emergências não param de crescer, o ACNUR não pode deixar para trás as mais de 100 milhões de pessoas que foram forçadas a se deslocar e precisam do nosso apoio.

Com os preços dos alimentos atingindo uma alta histórica em 2022 e vários países à beira da fome, o ACNUR Brasil criou a campanha #ComidaPraViagem, fortalecendo os esforços globais de combate à fome entre pessoas que perderam tudo e tiveram que reconstruir suas vidas após o impacto de guerras, perseguições e violações de direitos humanos.

Em um mundo altamente conectado, em que a fome é tanto uma causa como uma consequência do deslocamento forçado, aqui estão quatro maneiras pelas quais o mundo pode se unir para acabar com a fome e a insegurança alimentar – e o que a Agência da ONU para Refugiados está fazendo para apoiar esses esforços.

Entrega de ajuda humanitária

Quando a crise atinge e milhões de pessoas são deslocadas à força de suas casas, receber ajuda humanitária essencial é fundamental para garantir a segurança e a saúde das pessoas forçadas a se deslocar. Durante crises humanitárias de grande escala, como a do Iêmen, essa ajuda humanitária costuma ser a única salvação para os necessitados.

O Iêmen enfrenta atualmente uma das piores crises de fome do mundo, com quase 50 mil pessoas vivendo em condições semelhantes à fome e mais 5 milhões enfrentando risco significativo de passar fome em 2022.

O ACNUR está no Iêmen fornecendo suprimentos e alimentos essenciais, incluindo fontes de alimentos ricos em calorias e nutrientes, mas os conflitos na região e ao redor dificultam o acesso do ACNUR aos mais vulneráveis. Garantir que os caminhos para a ajuda humanitária permaneçam seguros e abertos é fundamental para atender às necessidades de insegurança alimentar.

Assistência em dinheiro

A assistência em dinheiro é um programa que oferece às pessoas deslocadas bolsas com valores que lhes permitem retornar a um senso de normalidade. Com ajuda em dinheiro, eles podem comprar alimentos e outros itens essenciais por conta própria, o que também lhes dá a chance de acomodar quaisquer restrições alimentares.

Yulia e seu filho, Vlad, foram forçados a fugir da Ucrânia em março de 2022. Na Polônia, eles puderam receber assistência em dinheiro do ACNUR, o que lhes permitiu permanecer seguros e saudáveis ​​em sua jornada em busca de segurança.

Geração de renda

Quando as cadeias de suprimentos globais e os caminhos para a ajuda humanitária são ameaçados, garantir a segurança alimentar se resume à autossuficiência das comunidades de refugiados e anfitriãs.

Serafina possui uma barraca de vegetais no mercado do Assentamento de Refugiados Kalobeyei, no Quênia. Aqui, ela pode vender os vegetais que cultiva para alimentar sua comunidade e gera uma renda que pode usar para comprar sua própria comida e suprimentos.

O ACNUR trabalha com parceiros em campos de refugiados em todo o mundo para oferecer oportunidades empresariais aos agricultores. Ao apoiar as habilidades agrícolas e os meios de subsistência dos refugiados, eles têm a oportunidade de ajudar a garantir a segurança alimentar de outros refugiados, bem como de suas comunidades anfitriãs.

O ACNUR apoia esses empreendedores fornecendo subsídios para fazendas e aluguel de barracas de mercado, sementes, lotes de terra para agricultura, bem como outros suprimentos para ajudar os agricultores a prosperar.

Doe hoje mesmo e ajude muitos empreendedores a manterem os seus negócios!

Resposta às mudanças climáticas

A autossuficiência e a garantia de que as comunidades deslocadas tenham acesso adequado a fontes de alimentos são essenciais para combater a insegurança alimentar a longo prazo, mas esse objetivo é impossível sem abordar os efeitos da crise climática nessas comunidades.

O Afeganistão e o Chifre da África, por exemplo, enfrentam atualmente uma das piores secas da história. As fontes de água estão secando, deixando as pessoas deslocadas e as comunidades anfitriãs sem acesso à água potável ou água para plantações e gado. Milhares de famílias perderam suas fazendas e estão sendo deslocadas à força novamente para sobreviver.

Combinado com o aumento dos preços dos alimentos e as preocupações de proteção em relação à entrega de ajuda com segurança às pessoas em toda a região, os indivíduos na Etiópia e na Somália estão se aproximando rapidamente de uma terrível crise de segurança alimentar. No Afeganistão, metade da população está passando fome.

A prevenção de crises humanitárias como essas começa com o enfrentamento da crise climática. Sem abordar as mudanças climáticas, comunidades como as do Chifre da África continuarão a perder suas casas e meios de subsistência, e conflitos antigos como no Afeganistão dificilmente irão se dissolver.

Além de trabalhar para garantir que essas pessoas tenham acesso a ajuda humanitária crítica, o ACNUR também está trabalhando com governos e parceiros em todo o mundo para defender a ação climática e reduzir sua própria pegada de carbono nas operações.

A crise climática é uma crise humana e todos podem fazer a diferença. Doe hoje mesmo e nos ajuda a mitigar os efeitos da crise climática.

“Os efeitos psicológicos de se ser atacado por ódio são mais graves, duram mais” e atingem a comunidade das vítimas

Joana Gorjão Henriques (Texto) e Nuno Ferreira Santos (Fotografia), in Público online

O psicólogo social Rupert Brown vem abrir esta quinta-feira, às 14h30, o ano académico do Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa, com palestra sobre discurso de ódio e efeitos nas vítimas indirectas.

Professor emérito de Psicologia Social na Universidade de Sussex, investigador que escreveu dezenas de artigos em áreas como as relações interpessoais ou o preconceito, Rupert Brown está em Lisboa para a palestra Sedas Nunes, no Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa, que irá abrir o ano académico às 14h30. O autor dos livros Prejudice: Its Social Psychology ou Group Processes: dynamics within and between groups, e de uma biografia sobre o psicólogo social Henri Tajfel: explorer of identity and differences vai falar sobre os efeitos indirectos dos crimes de ódio, algo que “não tem sido tão explorado” — ou seja, das pessoas que são do mesmo grupo identitário que as vítimas directas de crime que não foram directamente atacadas.

Em entrevista ao PÚBLICO na quarta-feira, em Lisboa, explica que nos crimes de ódio o que está em causa — tanto em relação às vítimas, quanto aos agressores — são as identidades de grupo: de um grupo minoritário, no caso das vítimas, e de um grupo maioritário, no dos agressores. Quando cometem o crime, estes agressores vêem-se como membros de um grupo maior a tentar defender a maioria contra minorias, sublinha. “Nesse momento não estão a agir como indivíduos mas como membros de um grupo. Essa foi a contribuição mais importante de Tajfel.”


No Reino Unido e em Portugal há legislação para punir quem comete crimes de ódio de acordo com as características das pessoas, da religião à origem étnica e racial ou à orientação sexual. Mas em Portugal não tem sido muito eficaz, há poucas condenações — como é que se torna mais eficaz a lei?
Tive acesso a algumas estatísticas portuguesas e uma das coisas em comum com o Reino Unido é o facto de os números estarem a subir. O que é muito diferente são os números de crimes de ódio registados pela polícia [que em Portugal eram cento e pouco] e no Reino Unidos eram 120.000. Temos mais população, mas há diferença na forma como a polícia encara a seriedade do crime de ódio.

Desde o assassinato, nos anos 1990, do jovem negro Stephen Lawrence houve uma sucessão de mudanças a nível político e da polícia para que se passasse a tomar estas ofensas a sério, reconhecendo que as pessoas são atingidas por causa da pertença a um grupo, seja a cor da sua pele, a religião ou a orientação sexual. Em relação à legislação isto significa que, se alguém for condenado por um crime de ódio, a sentença é agravada. A lei foi criada por várias razões, para desencorajar, mas, mais importante, para reconhecer que este país leva o crime de ódio a sério — simbolicamente, passa a mensagem de que este tipo de crimes merece atenção especial.

Isto leva a outra questão que desenvolve: quando as pessoas em posição de liderança expressam a sua condenação de comportamentos de ódio, isso tem um efeito positivo na dissuasão...
Sim, cria uma nova norma em que este tipo de crimes são vistos como ofensivos e graves.

Se tivermos pessoas em lugares de autoridade a tomar posições fortes contra a imigração ou contra grupos minoritários, claro que tem efeitos e que as pessoas no terreno vão sentir-se mais legitimadas a agir, partindo dos seus sentimentos negativos já existentes, contra grupos minoritários
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E em relação a líderes que, pelo contrário, expressam ódio e discriminam determinados grupos?
Tem obviamente o efeito oposto. É por isso que olhamos para o crime de ódio não apenas do ponto de vista dos agressores ou de algumas pessoas psicopatas; temos de perceber que, quando acontece em determinado contexto político, e que quando os partidos da extrema-direita estão em ascensão, isso cria uma espécie de influência contranormativa, contra as instituições e contra as leis. Se tivermos pessoas em lugares de autoridade a tomar posições fortes contra a imigração ou contra grupos minoritários, claro que tem efeitos e que as pessoas no terreno vão sentir-se mais legitimadas a agir, partindo dos seus sentimentos negativos já existentes, contra grupos minoritários.

Quais as consequências de ter essas pessoas a expressar de forma tão aberta o ódio e o preconceito? Aumenta o número de ataques ou de pessoas que são abertamente discriminatórias?
É difícil fazer uma associação directa, mas podemos ver algumas conexões. Por exemplo, há seis anos o Reino Unido decidiu sair da União Europeia e isso foi estimulado por alguns políticos que estavam a fazer campanha anti-imigração. Especialmente nos dias seguintes aos resultados do referendo vimos uma subida acentuada dos ataques, e particularmente em relação a imigrantes do Leste — a grande fonte de imigração para o Reino Unido —, que eram vistos como uma ameaça específica. Aos olhos desses agressores, 52% das pessoas do país pensavam como eles — o que obviamente não era verdade, porque os motivos para o “Brexit” foram vários.

Defende que a pesquisa reforça os argumentos morais e legais para tratar o crime de ódio como uma categoria especial e que os tribunais deviam levar em conta não apenas o impacto na vítima, mas também na comunidade. Isto implica uma mudança de mentalidade no sistema judicial, assim como na comunidade maioritária e até nas vítimas. Como se pode fazer esta mudança?
Isso é um grande debate que temos no sistema judicial, mas vai à questão sobre o porquê de o crime do ódio ser considerado tão sério. Quando alguém é atacado por causa da sua religião [ou outra das características], pode passar por algum trauma, mas os efeitos psicológicos de ter sido atacado por ódio duram mais e são mais graves do que num crime equivalente aleatório. Os efeitos sentem-se de forma mais ampla na comunidade a que a pessoa pertence — as pessoas vão sentir mais medo, preocupação sobre se serão os próximos.

No sistema judicial britânico, depois de o arguido ter sido condenado, há a possibilidade de a vítima ir ao tribunal e dizer quanto foi afectada por aquele crime. E porque o crime de ódio tem estes efeitos a sugestão é que os líderes — sejam imãs, líderes de grupos LGBT+ ou outros — possam ir a tribunal dizer quais os efeitos na comunidade. Isso é o reconhecimento de que o crime de ódio é mais do que um ataque individual, tem este impacto maior na comunidade.

Diz que enquanto ser vítima de um crime causa danos psicológicos, ser vítima de um crime de ódio leva a maiores níveis de stress. Isto, porque os crimes de ódio têm como alvo as identidades decisivas das pessoas e fazem-nas saber que não são toleradas. Pode explicar como isto afecta a saúde mental e pode levar à internalização do preconceito?
Ser vítima de um crime afecta a nossa autonomia, e sentimentos de segurança e isso já é mau de mais — mesmo que seja uma ofensa verbal (por exemplo, as mulheres estão constantemente a ser vítimas de ofensas). Quando se é atacado, porque se é muçulmano, ou gay, ou negro ou judeu, o agressor ataca não apenas o sentimento de autonomia e individualidade e a vítima sente que a sua identidade, a sua identidade social como gay ou muçulmano está sob ameaça — “Se calhar não são apenas estes, mas há outros que nos odeiam”, pensam. É o “nós” e não apenas o “eu”. Para muitos membros destas comunidades, este aspecto é central à sua identidade — nem sempre — e pode ser sublinhada pelo ataque, mas é uma identidade que está sob ameaça, porque podia ser qualquer um da comunidade o alvo do ataque. Isso faz com que o crime de ódio seja duplamente duro e que o trauma seja mais duradouro por não ser apenas a identidade pessoal que está ameaçada, mas a identidade social mais vasta.
Há alguns exemplos extremos em que a pessoa mais comum pode cometer estes actos horrendos, mas diria que em tempos normais têm de existir estes padrões de predisposição

Os efeitos no grupo são similares?
Não vou dizer que a vítima indirecta sofre o mesmo que a vítima directa — ser-se agredido na rua não se pode comparar a ter-se visto alguém ser agredido. Mas o que é interessante na nossa pesquisa, quando conseguimos localizar pessoas que foram atacadas e pessoas que nunca foram atacadas mas souberam de quem foi e perguntamos sobre os seus sentimentos, é que é difícil fazer uma distinção entre os dois grupos quanto aos níveis de zanga e medo que sentiam. Pelo menos psicologicamente tem efeitos semelhantes; e quando percebemos como se sentiam e as atitudes em relação à polícia ou ao governo ou o que pretendem fazer no futuro — andar livremente na rua, depois de anoitecer, ou dar as mãos ao parceiro —, sentimos semelhanças entre as vítimas indirectas e directas. Constatámos isto ao longo do tempo.

E o apoio psicológico deve ser o mesmo?
É difícil, porque, se pensarmos em vítimas indirectas, podem existir milhões — por exemplo, no assassinato de Stephen Lawrence houve um efeito na família brutal —, mas como pode dar-se apoio psicológico aos milhões de outras pessoas negras?

Quando alguém de um grupo maioritário comete um crime, é descrito como um indivíduo; quando é de um grupo minoritário, passa a ser o seu grupo. Porque é que isso acontece?
Boa pergunta, não tenho a certeza. Acho que tem que ver com a segurança de se estar numa posição de poder e de vantagem — a identidade como membro da maioria não é questionada, nem trazida para o debate, a não ser em determinadas circunstâncias. Como indivíduos de um grupo maioritário, não somos forçados a confrontar-nos com a nossa identidade maior.

Diz que as pessoas que cometem crimes de ódio não precisam de ser fanáticas. E lista quatro motivações para os comportamentos de ódio: a excitação com a ofensa, a reacção ao que encaram como defesa de território, a retaliação e, em menor número, uma missão ideológica de repulsa. As pessoas normais podem ser agressoras com base no ódio?
Em algumas circunstâncias não habituais, sim — e o exemplo óbvio é a Alemanha nazi, quando muitos milhões de alemães, que não eram de maneira nenhuma monstros psicopatas, estavam rodeados de um regime opressivo. Passou a ser completamente normalizado que os membros da comunidade judaica, pessoas com problemas mentais, e outras fossem vistas como não-pessoas. Houve um debate histórico sobre a extensão do envolvimento de alemães comuns nas atrocidades nazis, mas não há dúvida de que muitos alemães cometeram crimes. Há outros exemplos, como no Ruanda.

Há alguns exemplos extremos, em que a pessoa mais comum pode cometer estes actos horrendos, mas diria que em tempos normais têm de existir estes padrões de predisposição. Por exemplo, os que procuram a excitação: nem todos os jovens brancos vão cometer estes actos; mas sabemos que há pessoas que gostam de cometer estes actos por excitação e se combinarmos isto com outros factores, como o sentimento de que têm que defender o seu território… Depois há a minoria dos que professam a ideologia de ódio, mas que, infelizmente, têm uma influência maior do que o seu número, porque os meios para propagar o ódio estão tão disponíveis para tanta gente nas redes sociais... Um dos projectos que temos é o de olhar para os tweets de ódio, e vemos os altos e baixos de acordo com os acontecimentos. Por exemplo, depois dos ataques em Paris, houve uma subida enorme dos tweets de ódio a muçulmanos. Embora [estes ideólogos] sejam uma pequena fracção dos perpetradores de crimes de ódio, a sua capacidade para criar um clima hostil pode ter muita influência. Agora com as redes sociais há este efeito acelerador de autopropagação em que as pessoas depois se sentem legitimadas.
As emoções dominantes são a raiva que sentem as pessoas que são atacadas por mais nenhuma razão do que pertencer a um grupo (e isto é válido para quem é vítima directa ou indirecta); a outra é o medo

Como é que nesse aspecto a análise do crime de ódio teve de se ajustar à maior difusão do discurso de pessoas que se escondem atrás de falsos perfis?
Complexifica a análise. Fizemos um projecto em que tivemos de correlacionar o número de tweets depois de um evento específico com a proporção de tweets de ódio e parecia haver conexão; também correlacionámos isso com os registos pela polícia de crimes de ódio. Não é implausível pensar que a propagação deste discurso online de ódio leva a incidentes reais, mas é muito complicado perceber o que vem primeiro.

Refere que as emoções e comportamentos podem ser um reflexo da natureza hierárquica da sociedade e que os grupos dominantes em posição de poder vão defender aquilo que acreditam ser o modo adequado de estar em sociedade contra os valores de quem percepcionam como diferentes. O sentimento de superioridade numa esfera — ser branco, por exemplo — é suficiente para desencadear estas emoções? Há pessoas brancas e pobres que se podem sentir superiores a uma pessoa negra e rica.
É uma questão interessante. Há algum debate sobre o que chamamos “identidades sobrepostas” ou “transversais” e torna-se complicado. Diria que em geral, quando se tem identidades sobrepostas, há possibilidade de alianças — por exemplo, há mais crimes contra mulheres negras do que brancas, mas há a possibilidade de que as mulheres brancas formem uma aliança com as mulheres negras, porque têm a categoria partilhada de serem mulheres e poderem ser também alvo de misoginia. Também pode ir em sentido contrário — os homens brancos podem ser duplamente discriminatórios em relação a mulheres negras, porque não partilham nenhuma das características de género e raciais. Em situações especialmente perigosas, há essa possibilidade de dupla exclusão.
É complicado, às vezes, ir apenas à pertença de grupo. Por exemplo, a ministra do Interior britânica, Suella Braverman, é de origem minoritária, podemos celebrar isso, mas, quando fez o seu discurso ao Partido Conservador, usou esta frase de Martin Luther King: “Tenho um sonho.” O sonho era o de que todos os imigrantes ilegais fossem postos num avião para o Ruanda... Neste caso, a sua ideologia política assumiu muito mais importância do que a cor da sua pele.

As pessoas reagem de formas diferentes aos abusos — pode descrever as mais comuns?
As emoções dominantes são a raiva que sentem as pessoas que são atacadas por mais nenhuma razão do que pertencer a um grupo (e isto é válido para quem é vítima directa ou indirecta); a outra é o medo e, dependendo da situação, pode sentir mais medo do que raiva, pois a pessoa sabe que está em minoria e pode reagir a esse medo fechando-se, escondendo a sua identidade de grupo. A raiva conecta-se com o que se sente ser possível fazer de positivo, como contestar, pertencer a grupos activistas, ou juntar-se a aulas de autodefesa.

O que é que a comunidade maioritária deveria fazer para reparar os efeitos do crime de ódio?
É complicado. Para usar um exemplo histórico de culpa colectiva, e de como pode gerar movimentos colectivos para reparação e restituição: Portugal, como o Reino Unido, foi um país que escravizou, os dois foram colonizadores, abusaram. Atrocidades foram cometidas. Hoje em dia, a maioria das pessoas reconhece os horrores do comércio de escravos e muitas aceitam que há motivos para fazer algumas restituições a descendentes de escravos, que muitas das desvantagens prolongaram-se ao longo da história. O argumento mais complicado, que tem tido resistência dos governos, porque reconhecem as dificuldades financeiras e de tensão, é dizer que algumas comunidades deveriam ter vantagens económicas para as compensar de muitas injustiças.

Como maioria podemos sentir a culpa colectiva que faz com que pressionemos os legisladores e os agentes de autoridade e outros a criarem um ambiente em que existam menos crimes de ódio, mas não temos uma poção mágica.

É Ou Não É? - O Grande Debate

in Notícias EAPN

A Diretora Executiva da EAPN Portugal, Sandra Araújo, esteve presente no programa da RTP, “É ou Não É?” do dia 25 de outubro.

O programa debateu o tema da pobreza em Portugal e contou com a Diretora Executiva da EAPN Portugal / Rede Europeia Anti-Pobreza como uma das convidadas.

Aceda ao programa completo aqui.

Oito em cada 10 ciganos na Europa vivem na pobreza e sem perspetivas

in RTP

Oito em cada 10 ciganos na Europa vivem na pobreza e sem perspetivas de melhorar, quer na vertente da educação quer na de trabalho, concluiu uma análise da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA), agora divulgada.

Segundo a agência, seis anos depois do último inquérito publicado pela FRA sobre este tema, é possível verificar que "os ciganos em toda a Europa continuam a sofrer privações generalizadas".

Embora a média dos países analisados indique que 80% dos ciganos vive em situação de pobreza, esse número sobe para 98% em Espanha e em Itália, para 96% em Portugal e na Grécia e para 93% na Croácia.

"As famílias ainda vivem em condições chocantes, com perspetivas educacionais e de trabalho muito pobres", refere o relatório "Ciganos em 10 países europeus", adiantando que uma das áreas em que as condições de vida entre ciganos e população geral é mais diferente é a da habitação.

O documento alerta para o facto de mais de um em cada cinco ciganos (22%) viverem em espaços sem água corrente e um terço não ter casa de banho interior.

Além disso, mais de metade (52%) vive em habitações húmidas e escuras e 82% vivem em alojamentos sobrelotados, condições que se mantêm em relação a 2016.

Nestes últimos seis anos, as condições de alojamento dos ciganos melhoraram apenas ligeiramente, sendo que, em 2016, 61% dos membros desta etnia viviam em "casas" precárias e agora o número caiu para 52%.

Ainda assim, a FRA notou que 29% das crianças ciganas vivem em agregados familiares onde alguém tinha ido dormir com fome pelo menos uma vez no mês anterior ao inquérito.

É precisamente entre as crianças que a situação observada se torna ainda mais preocupante, sendo que apenas menos de metade (44%) frequenta o ensino infantil (creches e pré-primária) e 71% abandonam precocemente a escola.

A proporção de ciganos sem qualquer educação formal continua a ser muito elevada, avisa a FRA, sublinhando que a situação é transversal a todas as faixas etárias e é particularmente grave em Portugal, em Espanha, na Grécia e na Croácia.

Segundo o relatório, 43% dos ciganos inquiridos têm trabalho remunerado, uma taxa muito inferior aos 72% da média de população empregada na União Europeia e, para as mulheres ciganas a situação é ainda é pior (28%).

Em termos gerais, mais de metade (56%) dos ciganos com idades entre os 16 e os 24 anos simplesmente não trabalha, não estuda nem recebe formação.

A FRA refere, no documento apresentado, que os Estados-membros devem reduzir para pelo menos metade a disparidade de emprego entre ciganos e não ciganos, garantindo que um mínimo de 60% dos ciganos tenha trabalho remunerado até 2030.


c/Lusa

Museu de Penafiel recebeu apresentação do Plano Municipal para a Igualdade e Não Discriminação

Ana Regina Barros, in a Verdade

Foi apresentado esta segunda-feira, dia 24 de outubro, o Plano Municipal para a Igualdade e Não Discriminação do município de Penafiel aos parceiros do Conselho Local da Ação Social – CLAS de Penafiel.

O plano, desenvolvido pela Equipa para a Igualdade na Vida Local (EIVL), é um documento estratégico para a intervenção interna e externa do município nas áreas da cidadania, igualdade de género e não discriminação, “a fim de sensibilizar, reduzir as desigualdades e promover a diversidade e inclusão, ao nível, por exemplo, da implementação de políticas públicas aplicáveis ao concelho, alinhadas transversalmente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”.

Em comunicado, a autarquia refere que a Equipa para a Igualdade na Vida Local foi instalada em fevereiro deste ano e é fruto do protocolo celebrado entre o município e a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, em que a autarquia se comprometeu à realização de um conjunto de atividades, bem como a nomeação de Conselheiros Locais para a Igualdade e a criação da EIVL.

O evento decorreu no auditório do Museu Municipal de Penafiel, onde aconteceu também a tomada de posse da conselheira interna, Susana Dias, e da conselheira externa, Manuela Santos, que passam, assim, a integrar este Conselho Local da Ação Social.

A data foi ainda assinalada junto das escolas, onde foram criadas dinâmicas de sensibilização para a igualdade e não discriminação, dirigidas às crianças do ensino pré-escolar e do primeiro ciclo do ensino básico: foram colocados toalhetes de mesa nas cantinas com imagens alusivas à igualdade de género – uma atividade também inserida no “Combate à Pobreza e Exclusão Social”, a decorrer entre o dia 17 e o dia 24 de outubro, promovida pela EAPN Portugal a nível nacional.

Para a vereadora com o Pelouro da Saúde e da Inclusão Social, Daniela Oliveira: “Com este plano municipal, que foi muito bem desenvolvido pela nossa EIVL, vamos conseguir fazer um trabalho importante junto dos funcionários do município, mas também da comunidade penafidelense, tendo em vista a construção de uma sociedade mais igual, mais inclusiva e consciente. Estas são questões fundamentais, que merecem a nossa atenção”.

Consulte aqui o plano.

O risco de exclusão social

José Bastos, in RR

José Alberto Lemos, Nuno Garoupa e Nuno Botelho na análise da atualidade.

Números divulgados pela base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos – FFMS - para assinalar o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, indicam que face a três indicadores chave Portugal regrediu: a percentagem da população em risco de pobreza, a taxa de risco da pobreza e a desigualdade na distribuição de rendimento.

O estudo da Pordata sugere que já em 2020, primeiro ano da pandemia, o número de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social aumentou 12,5% - o pior registo desde 2014 – o que fez Portugal recuar 5 lugares (13º/8º) nos países com mais população em risco de pobreza entre os 27 da União Europeia.

Os grupos mais afetados pela pobreza são os agregados com crianças dependentes, os menores de 18 anos e os desempregados, apontam os dados da Pordata. Em Portugal, o valor abaixo do qual se é considerado pobre situava-se, em 2020, nos 6.653 euros anuais, o equivalente a 554 euros mensais.

A Pordata revela que sem apoios sociais 4,5 milhões de portugueses são pobres ou têm rendimentos abaixo do limiar da pobreza (os 554 euros mensais). Mesmo com os apoios do estado, dois milhões de pessoas estão neste limiar, quase 20% da população. Num país que definiu ter menos 765 mil pobres até 2030, há cada vez mais ricos e os ricos são cada vez mais ricos, mas também há cada vez mais pobres.

Em 2022 vive-se uma nova crise que afeta desproporcionalmente os mais desfavorecidos. Neste fim de semana surgem notícias de que dispararam os furtos de bens alimentares básicos em supermercados no atual contexto de inflação e subida exponencial dos preços. O Expresso deu conta de que aumentam “os roubos para comer” e já há “alarmes em alimentos”.

São estes os sintomas avançados de uma iminente emergência social? Onde se falhou nos últimos 30 anos? Como foi aplicado o dinheiro? O que vai ser feito de diferente agora com o PRR num país onde pouco se discute o crescimento e mais a distribuição de uma riqueza não existente?

Este é um dos temas para debate num espaço onde se olhará também para as críticas ao presidente da República, as incompatibilidades de membros do governo, atrasos na Entidade para a Transparência, e para a Ucrânia e Reino Unido.

A análise é de Nuno Garoupa, professor da GMU Scalia Law, Nuno Botelho, presidente da ACP – Câmara de Comércio e Indústria e do jornalista José Alberto Lemos

Segurança Social vai pagar mais a instituições que empreguem sem-abrigo

PÚBLICO e Lusa

Ministra Ana Mendes Godinho diz que Segurança Social vai pagar mais a respostas sociais que integrem pessoas que estiveram na situação de sem-abrigo. Governante sublinhaque existem 9000 pessoas “que não têm casa”, das quais “cerca de 4000 pessoas estão em situação de não terem de todo um tecto”.

O Governo está a preparar um modelo de resposta social que integre antigos sem-abrigo em instituições, disse nesta terça-feira Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, em Leiria, e que passe por beneficiar quem empregue sem-abrigo.

“A Segurança Social vai passar a incluir nos modelos de resposta social um mecanismo para a discriminação positiva destas respostas sociais que integrem na própria resposta, como colaborador ou trabalhador, uma pessoa que tenha estado na situação de sem-abrigo, precisamente para ser um par e para ser também um modelo e um exemplo de mobilização para outras pessoas”, explicou Ana Mendes Godinho à margem do Encontro Nacional da ENIPSSA - Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo.

“Nos próximos protocolos que a Segurança Social irá desenvolver irá lançar novos avisos e irá criar um critério novo de majoração destes protocolos. Significa pagar mais relativamente a respostas sociais que integrem pessoas que estiveram na situação de sem-abrigo”, reforçou, ao revelar que a tutela prevê uma majoração de 20% para as instituições que integrarem ex-sem-abrigo.

Segundo os últimos números, Ana Mendes Godinho afirmou que existem 9000 pessoas “que não têm casa” [apenas alojamentos temporários], das quais “cerca de 4000 pessoas estão em situação de não terem de todo um tecto”, referiu.

“Lançámos um novo aviso para comunidades de inserção, que teve nove projectos que foram aprovados e seleccionados. Agora, o nosso objectivo é aumentar a capacidade de resposta, mas também trabalhar na prevenção. Estamos a trabalhar em dois níveis, seja na resposta a quem está em situação de sem-abrigo seja na capacidade de prevenirmos essas situações”, sublinhou a governante.

O foco é “cada uma das pessoas”, procurando “encontrar respostas personalizadas para cada uma das pessoas, porque se não forem personalizadas elas não têm capacidade de serem respostas que realmente integrem”, reforçou.
"Fazedores de impossíveis"

Ana Mendes Godinho não tem números sobre os sem-abrigo que não se adaptaram a viver sob um tecto, mas garantiu que o “balanço global é muitíssimo positivo”. "Hoje vou visitar uma dessas pessoas aqui em Leiria, que faz parte do programa de “housing first” desenvolvido pela Associação InPulsar, em colaboração com a Segurança Social, e que me dizem que está a correr muito bem”, acrescentou.

No seu discurso na abertura do encontro, a ministra apelidou de “fazedores de impossíveis” os técnicos das diversas associações que trabalham com os sem-abrigo, que “têm acreditado ao longo destes anos que é possível aquilo que parecia ser impossível para todos”. E têm conseguido “voltar a dar humanidade a tantas pessoas que muitas vezes se sentem completamente desenquadradas, perdidas”.

Ana Mendes Godinho salientou que a estratégia do Governo contribuiu para ultrapassar a “dificuldade de integração no mercado de trabalho das pessoas em situação de sem-abrigo, exactamente porque não eram considerados públicos vulneráveis”.

As medidas previstas têm como “ponto de vista social” garantir que, “como sociedade, não falhamos às pessoas”. "É uma mobilização que tem de ser integral, com capacidade de intervenção em várias dimensões, como já assumimos na Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, que, pela primeira vez, identifica que o combate à pobreza tem de ser feito não através de uma medida, não através de acções pontuais ou de caridade, de paliativos ou assistencialismo sem capacidade de transformação”, disse.

A ministra acrescentou que o combate à pobreza “tem de intervir desde a capacidade de integração no mercado de trabalho, as qualificações e a capacidade de combate à pobreza infantil, cortando ciclos de pobreza intergeracional, que muitas vezes teimam em persistir”.

“Garantindo, por exemplo, que damos às crianças condições de igual acesso, nesta que deve ser uma verdadeira luta real pela inclusão social para todos, independentemente de onde nasceram, em que condições socioeconómicas e em que zona do país nasceram”, rematou.

Subida do valor mínimo do subsídio de desemprego abrange 54 mil pessoas

por Lusa, in Público online

Ana Mendes Godinho foi ouvida na Comissão de Orçamento e Finanças, no âmbito da Proposta de Orçamento do Estado para 2023.

O aumento em 41 euros do valor mínimo do subsídio de desemprego no próximo ano, para cerca de 550,5 euros, vai abranger 54 mil pessoas, disse esta segunda-feira a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

Ana Mendes Godinho falava numa audição no parlamento na Comissão de Orçamento e Finanças (COF), onde está a ser ouvida no âmbito da Proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE 2023).

Segundo disse a ministra, em resposta ao PS, a actualização do Indexante dos Apoios Sociais em 8% para 478,7 euros, prevista na proposta de OE 2023, “procura responder às situações de maior fragilidade”, dando como exemplo o impacto que terá no valor mínimo do subsídio de desemprego.

“Na prática significa que o valor mínimo do subsídio de desemprego passará a ser mais 131 euros face a 2015 (...) e mais 41 euros face a 2022, abrangendo 54 mil pessoas”, afirmou Ana Mendes Godinho.
Orçamento do Estado 2023

A actualização do IAS levará também a mexidas nos escalões das pensões e do abono, o que significa, segundo a ministra, que “em Janeiro de 2023, mais 140 mil crianças serão abrangidas” pela alteração dos escalões do abono de família.

Ana Mendes Godinho referiu ainda que a discussão dos projectos-piloto relativos à semana de quatro dias terá início na próxima reunião da Concertação Social.

O valor mínimo do subsídio de desemprego deverá subir em 2023 para 550,5 euros e o montante máximo para 1196,75 euros, na sequência da actualização do IAS prevista na proposta de Orçamento do Estado para 2023.

De acordo com a proposta orçamental, o Indexante de Apoios Sociais (IAS) será actualizado em 8%, para 478,7 euros, no próximo ano.

O IAS serve de referência para vários apoios e prestações sociais, nomeadamente para o abono de família, a prestação social para a inclusão, o Rendimento Social de Inserção (RSI), entre outros, “podendo impactar a vida de 1,6 milhões de beneficiários”, afirma o Governo no relatório do OE 2023.

A proposta de OE 2023 vai ser debatida na generalidade no parlamento nos próximos dias 26 e 27, estando a votação final global do diploma marcada para 25 de Novembro.
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Quatro idosos por dia são vítimas de violência. Muitas vezes na família

Paula Sofia Luz, in DN

O último relatório da APAV, referente ao ano de 2021, revela que uma média de quatro idosos por dia são vítimas de violência. A partir de Coimbra, a Fundação Bissaya Barreto e a linha SOS Pessoa Idosa registaram o dobro dos pedidos de ajuda. Agressões de familiares aumentam.

Um total de 1594 pessoas idosas foram vítimas de crime e de violência no ano passado, o que corresponde a uma média de quatro pessoas por dia. Os dados são da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e foram disponibilizados a propósito do Dia Internacional da Pessoa Idosa, que se celebrou no início do mês.

No que diz respeito ao perfil da vítima, esta é geralmente do sexo feminino (cerca de 75,5%), com idades compreendidas entre os 70 e os 74 anos. Já o autor do crime é, em cerca de 52,3% das situações, do sexo masculino e com uma média de idades (16%) acima dos 65 anos. Em cerca de 29% dos casos, a vítima é pai ou mãe do autor do crime.

"Reconhecendo que a violência contra as pessoas idosas constitui um problema social e de Saúde Pública, consideramos que o seu eficaz combate pode contribuir para um futuro mais inclusivo, onde todos sejam respeitados ao longo do ciclo de vida, nomeadamente no contexto de um envelhecimento ativo e saudável", refere a APAV.

Duplicam pedidos de ajuda

Os números continuam a revelar aquilo que a pandemia escondeu durante dois anos. Neste caso, é a violência contra os os idosos, mais precisamente daqueles que se encontram em casa, aos cuidados de familiares. Em 2021, o serviço da linha SOS Pessoa Idosa, da Fundação Bissaya Barreto, contabilizou um total de 1812 contactos telefónicos, e-mails e articulações interinstitucionais, o que significa o dobro do que ocorrera no ano anterior.

Desde o início de 2022 e até ao final do verão, os pedidos de ajuda recebidos deram origem à abertura de 244 processos internos, "que obrigaram ao acompanhamento frequente e intervenção, bem como a articulações interserviços", refere uma nota que acompanha um relatório daquela instituição, sediada em Coimbra.

"As denúncias foram realizadas por e-mail/formulário (52,5%), por telefone (47%) e presencialmente (0,5%)", acrescenta o mesmo documento.

"O que verificamos é um aumento de pessoas idosas que são vítimas a residir com familiares - e é uma diferença significativa", confirma ao DN Marta Ferreira, uma das técnicas responsáveis pelo serviço. "Anteriormente o número mais elevado dirigia-se a pessoas a residirem sozinhas. Esta residência partilhada nós cremos que pode ficar a dever-se à pandemia e ao encerramento temporário de alguns serviços, como os Centros de Dia - que fez com que filhos se mobilizassem para casa dos pais ou que contratassem cuidadores para minimizar os danos do contexto pandémico -, e de algum encerramento temporário de serviços de apoio, que são fundamentais para pessoas nestas idades". E aquilo que deveria ter sido benéfico, como a convivência com os familiares, acabou por se revelar o contrário.

"Por outro lado, quando as pessoas já estão a iniciar um quadro de demência, os profissionais que realizam todo o apoio - que nem sequer é profissionalizado - muitas vezes notam que temos por trás desta violência situações de cansaço do cuidador, prevalência elevada de dependência física e situações de saúde mental", sublinha Marta Ferreira.

A responsável lembra que, em anos anteriores, a linha registava um elevado número de mulheres em situação de viuvez. "Aqui, no caso das mulheres casadas, não se refere propriamente a situação de violência conjugal, mas sim o facto de termos enquadrada a categoria de casal como vítimas."

Secundando Lisboa, Setúbal passou a ser o distrito com mais denúncia de casos, ultrapassando o Distrito do Porto. O serviço da Fundação Bissaya Barreto considera que tal fica a dever-se "ao facto de termos uma comunicação muito fácil com as entidades locais, comparativamente com outras zonas do país. E acreditamos que este passa-a-palavra pode ter tido bons resultados em edições anteriores, e que este aumento do número de casos é também pela facilidade que as pessoas têm em denunciá-los, beneficiando por terem visto ou por terem sabido de outras situações bem resolvidas. Temos um grande apoio por parte da PSP e da GNR (do Apoio 65) que fazem aqui um bom acompanhamento", considera.

O serviço existe desde maio de 2014. Marta Ferreira nota o aumento de casos denunciados, paulatinamente, ao longo dos anos. "Temos feito alguma alteração nas estratégias de intervenção, porque estamos no terreno e começamos a perceber o que é que resulta melhor. E no caso das pessoas idosas estes casos têm de ser tratados de forma muito personalizada e muito especial. Temos tentado aprimorar e fazer uma intervenção personalizada a quem precisa de ajuda. É a grande diferença ao longo dos anos", sublinha Marta, que integra uma equipa constituída por psicólogas, assistentes sociais, e uma psicogerontóloga.

Muitas situações de violência são continuadas no tempo, "e às vezes por parte de filhos". Não raramente, são famílias "multiproblemáticas, com problemas de saúde mental, alcoolismo ou toxicodependência", lembra a responsável.

“Impacto da pandemia foi muito forte” e agravou pobreza em Portugal

Joana Russo Belo, in Correio de Minho

Elizabeth Santos, socióloga da EAPN - Rede Europeia Anti-Pobreza, foi a convidada do Programa ‘Da Europa para o Minho’, da Rádio Antena Minho. Relatório de 2021 dá conta de um aumento de 12 por cento da população em risco de pobreza ou exclusão.

Dois milhões e 300 mil pessoas vivem em Portugal em risco de pobreza ou exclusão social. Números preocupantes relativos a 2021 - que representam um aumento de 12 por cento face ao ano anterior, o que corresponde a mais 256 mil pessoas - e revelados pela socióloga Elizabeth Santos, da EAPN – European Anti Poverty Network (Rede Europeia Anti-Pobreza) no Programa ‘Da Europa para o Minho’, da Rádio Antena Minho, conduzido por Paulo Monteiro e o eurodeputado José Manuel Fernandes.

Num programa em que foi analisado o recente relatório preliminar de 2022 do Observatório Nacional de Luta contra a Pobreza, Elizabeth Santos revelou que Portugal tem 22,4 por cento da população em risco de pobreza ou exclusão social e passou a ser o oitavo país da UE27 com maior proporção da população a viver este tipo de vulnerabilidade social e económica.

“Este inquérito de condições de vida e rendimento é um inquérito publicado pelo INE, mas é, simultaneamente, europeu e baseia-se em quatro indicadores, o mais antigo de todos, a pobreza monetária. Em 2020, o limiar de pobreza era de 554 euros em Portugal e esse é o indicador mais antigo. Desde 2003, foram aplicados mais outros indicadores: por um lado olhar para a pobreza do ponto de vista da inserção no mercado de trabalho, não só como fonte de rendimento, mas de integração social, e depois outro indicador de privação material severa”, começou por explicar a socióloga, dando conta de que está em pobreza ou exclusão social “quem está numa dessas situações, sendo que algumas pessoas podem estar nas três”.

“No último inquérito, 81 mil pessoas estavam nas três dimensões de pobreza e exclusão social. Em 2021, estava em pobreza 22 por cento da nossa população, o que equivale a cerca de 2 milhões e 300 mil pessoas e foi um aumento, claramente, elevadas face aos outros países da União Europeia. Comparando os dados de 2020 e 2021, houve um aumento de 12 por cento na pobreza e exclusão social em Portugal, só a Eslováquia teve um aumento superior a esse, todos os outros países estão inferiores e, por exemplo, o Luxemburgo, que foi o terceiro país com maior aumento, teve um aumento de seis por cento. Isso demonstra um impacto, claramente, muito forte da pandemia em Portugal”, sublinhou.

Reforçando esse “impacto da pandemia muito elevado no geral”, Elizabeth Santos diz ter sido “transversal” abrangendo “todos os grupos sociais”, mas alguns grupos estão destacados. “No nosso relatório, destacamos em primeiro lugar os idosos, não porque tenham tido um maior aumento - o maior aumento foi dos 18 aos 64 anos - mas o caso dos idosos é particularmente importante no nosso ponto de vista. Até 2008, eram o grupo onde era a pobreza era mais elevada, depois houve uma diminuição na vulnerabilidade deste grupo e passou a ser as crianças o grupo mais vulnerável. Os últimos dados indicam que a pobreza na infância não diminuiu, aliás aumentou em todos os grupos etários, mas os idosos voltam a ser o grupo mais vulnerável. Tiveram forte impacto não só na pobreza monetária, mas na privação material e social severa e houve uma distância na vulnerabilidade. Sabemos o impacto que teve a pandemia neste grupo, como o isolamento social, para além dos constrangimentos financeiros, a pandemia trouxe esse isolamento social dos mais idosos e achamos ser importante chamar atenção para este grupos”, frisou a responsável, destacando ainda neste lote de mais vulneráveis os estrangeiros, em que os números aumentaram 85 por cento.

Segundo a socióloga, outro aumento importante foi “a pobreza dos trabalhadores”: “Portugal tem níveis de pobreza entre os trabalhadores muito elevados e com a pandemia aumentou ainda mais, passámos a ser o 7.º país com maior pobreza entre os trabalhadores. Houve uma redução importante do rendimento, tivemos trabalhadores que passaram a ter rendimentos muito baixos, associado a isso temos a precariedade laboral, quem passou para o desemprego, quem teve de suspender o trabalho e a questão dos baixos salários”.

“Com baixos salários qualquer redução do rendimento leva a que possam estar em maior risco de pobreza e exclusão social e a pandemia veio trazer essa redução de trabalho, seja pelo lay-off, implicou um corte no rendimento, mesmo respeitando um teto mínimo houve redução, porque não foram consideradas outras partes do rendimento, como horas extras, fins-de-semana, turnos, o que era uma parte do rendimento importante para se estar acima do limiar da pobreza”, explicou, lembrando que a pandemia “levou a que várias pessoas deixassem de ter qualquer rendimento”.

“Baixos salários são uma das principais causas da pobreza”

“Os baixos salários são uma das principais causas da pobreza em Portugal”. A opinião foi deixada pela socióloga Elizabeth Santos no Programa ‘Da Europa para o Minho’, reforçando a ideia de que “as causas da pobreza são estruturais e uma está associada ao mercado de trabalho e aos salários”.
“Se formos caracterizar a população que está em situação de pobreza, o que os dados do último inquérito nos dizem é que, olhando à população dos 18 aos 64, quase 48 por cento está inserida no mercado de trabalho e, se olharmos para a população em pobreza que está inserida no mercado de trabalho, 90 por cento trabalha a tempo inteiro, por isso, os rendimentos do trabalho são importantes para prevenir situação de pobreza. Os agregados mais vulneráveis à pobreza são os monoparentais, que só têm um adulto inserido no mercado de trabalho, assim como as famílias numerosas com três ou mais crianças e depois os idosos que vivem sozinhos e aí temos as questões das pensões sociais”, explicou.

Para a socióloga, “o mercado de trabalho é estrutural e intervirmos a esse nível é fundamental para combatermos a pobreza a médio e longo prazo”.
Questionada por Paulo Monteiro quanto ao futuro, Elizabeth Santos lembrou que olhar para os dados estatísticos “significa olhar com cuidado”, já que os dados deste ano vão ser divulgados em Novembro pelo INE e “não sabemos se vão retratar esta situação”.
“A realidade será difícil, nos números de 2021 temos alguns dados de alerta, aliás um Eurobarómetro de Abril e Maio já era um sinal de alerta e dizia que 74 por cento da nossa população não estava preparada para um aumento dos preços e 57 por cento já dizia estar a sentir uma redução do nível de vida pelo aumento dos custos”, revelou.

E prosseguiu. “Se olharmos para 2021, temos sinais de alerta não só pelo número de pessoas em pobreza, mas pelos números dessa privação: 31 por cento da população não tinha uma almofada financeira de 540 euros para fazer face a uma despesa inesperada, sem pedir dinheiro em- prestado a outras pessoas; já tínhamos cerca de 58 por cento da população com dificuldades para chegar ao fim do mês com despesas pagas e, no momento actual, com o aumento do custo de vida esta proporção será superior. Na questão alimentar, a proporção era baixa, mas 2,4 por cento da população não tinha capacidade para comer carne ou peixe de dois em dois dias e nos idosos sobe para quase 8 por cento. São sinais de alerta e a realidade será grave”, alertou.

Outro alerta foi deixado pelo eurodeputado José Manuel Fernandes, considerando que “vai haver terreno fértil para o aumento dos populismos”. “Disso não tenho grande dúvida, mas não podemos retroceder nos valores europeus de liberdade, de democracia, do estado de direito e valores como a defesa da dignidade humana. São valores que em cima deles podemos construir um desenvolvimento e combater a pobreza, procurando que todos melhorem a sua situação. Nós temos condições para aumentarmos os salários em Portugal, para sermos mais competitivos, mais produtivos, não nos falta dinheiro da União Europeia, temos recursos financeiros que podem melhorar os salários de todos e termos um país competitivo. Claro que há um trabalho interno que é diminuir a burocracia, temos das maiores cargas fiscais da OCDE, a velocidade dos tribunais, há todo um trabalho que temos que fazer e todo este desenvolvimento tem que ser construído em cima de valores europeus”, frisou.