8.1.13

Fim da crise? Barroso acha que sim, Cavaco tem esperança

Por Liliana Valente, in iOnline

Durão diz que a “ameaça existencial” sobre o euro já passou. Soares não acredita e Cavaco quer Europa mais forte


O primeiro a falar no fim da crise do euro foi um socialista: François Hollande lançou a ideia no final do ano. Angela Merkel apertou o garrote e contrariou o discurso, mas ontem foi o presidente da Comissão Europeia, da mesma família política da chanceler alemã, a dar a boa nova.

Para Durão Barroso, “a ameaça existencial contra o euro está ultrapassada”. Mas se por cá o primeiro-ministro até adopta o tom optimista do discurso, o Presidente da República prefere apenas lembrar que o fim do euro seria “desastroso”, mantendo a “esperança” no país. Já Mário Soares contraria, dizendo que é “muito difícil” que se possa ultrapassar uma crise se os mercados não forem regulados.

Na conferência que assinalou os 40 anos do jornal “Expresso”, o presidente da Comissão Europeia começou o dia de ontem a referir que, apesar de os “problemas financeiros “não estarem “todos resolvidos” e de ainda persistirem “dificuldades económicas e sociais”, a “ameaça existencial contra o euro está ultrapassada”. Para Durão Barroso, um dos países que contribuiu para que a pressão sobre a zona euro fosse menor foi Portugal, através do programa de consolidação das contas públicas – isto apesar de lamentar o facto de o debate político em Portugal estar “muito concentrado no curto prazo”. Mas mais do que isso, Barroso acredita que o caminho de Portugal deve ser o das reformas e que, assim, a crise é também ela “uma oportunidade” que deve ser aproveitada, mas para tal, disse, “é preciso ultrapassar o conservadorismo estrutural” e “reformar” o país.

O discurso optimista de Durão Barroso até colhe apoios por cá. Passos Coelho embarcou no tom do discurso mais leve e, depois de no último mês ter palavras mais optimistas – sobretudo depois da descida das taxas de juro da dívida a dez anos –, no domingo pediu aos portugueses para terem esperança e verem “a luz ao fundo do túnel”.

Se Durão Barroso e Passos Coelho – um ex-líder do PSD, outro actual – acreditam que o pior já passou, o Presidente da República – também ele ex-líder do PSD – prefere um tom mais cauteloso. Ontem, na conferência do “Expresso”, Cavaco Silva optou por um discurso em prol das potencialidades do país (ver ao lado) e por pedir mais integração europeia para evitar as “consequências desastrosas para a Europa” de um “eventual fracasso da zona euro”. E no meio deste cenário, para o Presidente, Portugal “deve ser motivo de esperança”. Do lado dos pessimistas continua o ex-Presidente Mário Soares. Também na conferência do semanário, o socialista considerou “muito difícil que se possa ultrapassar [a crise]”, até porque “são os mercados que governam e os governos não têm margem porque não querem ter”. Na sequência desta opinião, Mário Soares defendeu que os mercados financeiros devem, pois, ser regulados. Ao lado do antigo chefe de governo espanhol Felipe González, Soares disse: “Se fôssemos eu e González, obrigávamos os mercados a estar dependentes do Estado. Os mercados não podem ser os senhores do Estado e tem de haver regras”, disse.