Céu Neves, in Diário de Notícias
Adesão à Comunidade Europeia abriu portas aos grandes mercados de venda. Híper, supermercados e centros comerciais surgiram como cogumelos. Generalizou-se e facilitou-se o crédito. Portugal aproximou-se do nível de vida europeu, mas nos últimos dois anos perdeu terreno. A convergência com os padrões europeus foi menos acentuada na criação de riqueza que sustenta o consumo. E são grandes as disparidades entre regiões e cidadãos
A maioria chega por telefone, mas também há relatos desesperados pessoais ou por e-mail. De quem deixou de ter poder de compra e ganhou dívidas, o que em grande parte coincide com a perda do emprego e cortes salariais. Pedem ajuda à Deco para se encontrar uma solução, onde lhes perguntam: "Quais são as causas das dificuldades financeiras? Qual é a composição do agregado familiar? Quais são os rendimentos? Quais os encargos além dos créditos (luz, água, alimentação, transportes, impostos, telecomunicações, etc.)? Quais são os créditos (habitação, automóvel, pessoal, cartões)? Como é que pensa pagar?" Abre-se, então, um processo e um técnico do Gabinete de Apoio ao Sobre-Endividamento tentará negociar as dívidas com os credores. Mas também há casos em que não se abre processo porque aquela pessoa não tem hipóteses de pagar, e esses estão a aumentar.
A pergunta que se impõe a Natália Nunes, coordenadora do gabinete, é: "Vivemos acima das nossas possibilidades? "Não podemos concluir que os portugueses viveram acima das possibilidades. O que verificamos é que em 1990 e início de 2000 havia uma contratualização menos responsável por parte das famílias, a quem estava fechado o mercado de crédito e que a ele passou a ter acesso. Não tinham conhecimentos e não lhes foi dada informação sobre esta nova realidade e deixaram-se seduzir. Contratualizaram produtos e serviços além das suas capacidades de esforço", explica, confessando a irritação que lhe causa tal afirmação. Além de que também atribui responsabilidades aos bancos. No entanto, "o problema hoje não tem a ver com o facto de as famílias não respeitarem a taxa de esforço, tem a ver com a redução de rendimentos", sublinha Natália Nunes. Taxa de esforço é o dinheiro afetado aos créditos e que não devem exceder 40% do rendimento mensal.
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