15.7.13

Crise aumenta casos de suicídio e de tuberculose

in Notícias ao Minuto

A crise económica está a acentuar a existência de depressões e de tendências suicidas em Lisboa, principalmente entre a população masculina, revela um relatório apresentado hoje, que vai servir de base a um plano de saúde para o concelho.

O relatório “Retrato de Saúde de Lisboa”, com dados de 2012, destaca ainda como preocupante o aumento de casos de tuberculose e de incidência de tumores e o envelhecimento da população e foi apresentado por António Tavares, delegado regional de saúde da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.

António Tavares destacou que a pobreza e a crise económica estão a levar ao aumento da depressão e do suicídio, predominantemente entre os novos pobres, relacionados com a crise socioeconómica. “Ser pobre não é um modo de vida, por vezes é um modo de morte”, considerou.

Em 2012 registaram-se 37 casos de suicídios no concelho, sobretudo na população masculina entre os 45 e os 64 anos.

“Com o desemprego, a pessoa sente-se diminuída, há a perda de laços afetivos com os colegas de trabalho, sente-se diminuído em casa, entra em depressão, pode chegar ao alcoolismo e, se esta tendência não for travada, pode levar ao suicídio”, afirmou.

Em Lisboa, a prevalência de doentes mentais situa-se nas 28 pessoas por cada 100.000 habitantes, quando no país a prevalência é de seis por cada 100.000 habitantes.

O doente padrão de doença mental, de acordo com este estudo, é homem, tem entre 30 a 60 anos e apresenta agressividade, psicose e/ou esquizofrenia.

“Há também um ligeiro aumento de tuberculose, depois de ter havido uma queda, o que nos está a preocupar. É das situações com as quais estou mais preocupado”, disse, destacando que “a pobreza é uma situação que pode conduzir a esta situação”, devido às condições ambientais e de habitat, onde os mais pobres “vivem mais expostos a situações de risco”.

No ano passado, houve 217 casos declarados de tuberculose, mais frequente em homens dos 35 aos 44 anos, quando em 2010 foram 183 os casos e em 2011 se registaram 194.

Este aumento poderá estar relacionado com “a crise socioeconómica e o aumento da resistência do organismo bacteriológico, mas também haverá alguma ineficiência dos serviços de saúde, porque há casos não detetados a tempo”, acrescentou.

Também a prevalência de casos de tumores é “muito importante” no concelho de Lisboa, sobretudo “os tumores que podem ser detetados precocemente”, como os da mama, do cólon e do reto.

Para o plano de saúde do concelho, António Tavares sugere a criação de observatórios de saúde, de uma ‘task force’ para selecionar indicadores e fazer recomendações e o desenvolvimento de redes de entreajuda, com o envolvimento da comunidade, para ultrapassar problemas de solidão, minimizar assimetrias e promover a solidariedade intergeracional.

Estas redes serão muito importantes, porque o relatório também realça que a população do concelho diminuiu entre 2001 e 2011 e está envelhecida.

As pessoas com mais de 64 anos representam 24% da população e há um índice de 37,8% de idosos que são dependentes.

Cerca de “65% de mulheres e de 35% de homens vivem em famílias unipessoais. Este é um dado importante. As pessoas que vivem sozinhas estão mais vulneráveis”, salientou.

O relatório cita ainda um estudo realizado na região de Lisboa (NUT II), em 2012, que revela que em cada mil pessoas 46 referem ter muita dificuldade ou não conseguir tomar banho ou vestir-se sozinhas e 97 referem ter muita dificuldade ou não conseguir andar ou subir.

Nos próximos meses a autarquia deverá elaborar um plano de saúde para Lisboa com base no documento hoje apresentado, para ser aprovado no início do próximo mandato, e que decorre da participação de Lisboa na Rede Portuguesa de Cidades Saudáveis, uma associação de municípios que pretende “promover a saúde e a qualidade de vida dos seus munícipes”.