12.7.13

Portugal é o país da UE melhor posicionado para traçar destino de Merkel

Ana Maria Ramos, in TSF

A declaração é de Gertrud Höhler, ex-conselheira do antigo chanceler Helmut Kohl, crítica da atual política alemã, numa entrevista à TSF a propósito do lançamento do seu livro «Estratégia Merkel - O projeto implacável da chanceler de ferro que põe em perigo a União Europeia».

A antiga conselheira de Helmut Kohl assume-se como uma voz crítica da atuação de Angela Merkel, considerando que a chanceler alemã se move apenas pelo poder, sem ideologia ou valores, manifestando desprezo pela lei e pela própria democracia.

Nesta entrevista à TSF, Gertrud Höhler afirma mesmo que «Merkel até aceitou que lhe chamassem Rainha da Europa, sem contestar, sem afirmar: "atenção, eu sou meramente a chancheler da Alemanha"».

Na introdução do livro agora lançado em Portugal, a autora escreve que «o Sul da Europa é o destino de Merkel, porque as vozes críticas da austeridade excessiva já se fazem ouvir em Berlim, enviando sinais ainda tímidos de que o vento se está a virar a favor do Sul».

Para Gertrud Höhler, os portugueses são o povo melhor posicionado para traçar o destino de Merkel, porque Portugal sempre foi cumpridor. Agora, defende que Portugal deve mostrar sinais de cansaço face às medidas de austeridade que lhe foram impostas pela troika.

Para a autora, «de certa maneira, é uma humilhação para o país, ter que ouvir de outros estados, como deve gerir a sua própria política interna», quando Portugal já demonstrou, com a decisão do seu Tribunal Constitucional em rejeitar quatro medidas do Orçamento de Estado para 2013, que não tolera tudo.

Em matéria económica, afirma Gertrud Höhler, «Portugal pode decidir as suas condições, pedir mais tempo para pagar o empréstimo internacional e recusar aceitar simplesmente as cartas que lhe dá a Merkel ou tolerar medidas de austeridade que vão contra a identidade cultural».

Nesta entrevista à TSF, afirma ainda que, na realidade, «não se pode construir um ideal da Europa baseado na escravidão dos países dependentes, porque isso destruiría o ideal da própria Europa», logo «não se pode construir uma Europa baseada em estados-membros humilhados. Aí, acaba-se o sonho europeu».

Para Gertrud Höhler, o que se está a passar é uma espécie de colonialismo que a chanceler ignora, ou quer ignorar, por ter «uma certa capacidade de não querer ver a realidade e é aí que reside o perigo para a democracia».

Para a autora, Merkel nunca teve uma ideia, ou ideal. Não faz promessas (quando as promessas são a base da confiança) e nem sequer tem uma afirmação pró-europeia, a não ser: «se o euro fracassar, a Europa fracassa».

Höhler adianta que, ultimamente, já nem esta frase se ouve da boca da chanceler, concluindo que já deve ter sido aconselhada a inverter o discurso, porque mesmo que o Euro fracasse, a Europa ninguém quer que fracasse.

Para Gertrud Höhler é preciso seguir com muita atenção a situação europeia e o envolvimento da Alemanha, que se apresenta como a potencia económica mais forte, dentro da União Europeia, mas «não é porque Merkel seja tão boa política que centre todos os olhos em Berlim, mas sim pelo mero facto dela governar o país economicamente mais forte».

Questionada sobre se Angela Merkel terá a pretensão de criar um estado único na Europa, a antiga conselheira de Helmut Kohl considera que, de certa forma, se pode supor isso, porque a atual chanceler alemã atua ativamente para que os países do sul da Europa percam cada vez mais a sua soberania, perdendo grandes valores, pois já não são capazes de fazer a sua própria política económica, financeira e social, exemplificando com o crescente aumento do desemprego, em especial entre as gerações jovens.

Já sobre a hipótese de um conflito maior na Europa, Gertrud Höhler considera que é impensável que Merkel não receba diariamente informações dos seus próprios observadores sobre o que se está a passar na sociedade, mas considera que ela continua relutante, sem respeitar diferenças culturais e a apostar na unificação de tudo, a partir do dinheiro. Aliás, diz a consultora alemã, «tudo se reduz a uma questão de dinheiro, ao ponto de se pensar que até podemos comprar a Europa».

Gertrud Höhler não acredita que, a curto prazo, as grandes mudanças possam partir do interior da Alemanha porque, apesar da existência de cinco partidos no panomara eleitoral, Angela Merkel deve ser reconduzida no cargo de chanceler.