Texto Eduardo Santos | Opinião, in Fátima Missionária
A resposta a esta pergunta é quase sempre afirmativa, dado que a ausência de meios é impeditiva de uma vida agradável. Contudo, só é pobre quem não consegue enriquecer e que nasceu com essa condição
Pobre é a condição de milhões de seres humanos que diariamente lutam pela sobrevivência, apesar de muitos não o conseguirem, pois nos tempos que correm ainda se morre de fome. É triste esta constatação, mas é uma realidade tão visível, que não é possível esconder. No passado, a pobreza e a miséria tinham uma explicação simples: falta de recursos. Não havia controlo populacional e as capacidades de produção eram muito limitadas, por isso a população esteve sempre no limite, não podia aumentar.
A pobreza e a miséria continuam a existir no mundo ocidental e em Portugal mais de que noutros países. As pessoas continuam a pensar que, tal como na geração dos seus avós e dos seus pais, ela se deve à carência de recursos. Nada mais errado! É exatamente o contrário. Salvo em algumas regiões de Ásia e África, a população está controlada e a capacidade de produção é muito maior do que as necessidades. A integração do nosso país na CEE levou a que fossem adotadas políticas económicas impostas pela União Europeia e isso reduziu ao mínimo o setor da agricultura, pescas, industria, com a consequente eliminação de empresas e postos de trabalho, o que criou ainda mais pobreza.
Um dos setores em crise é a construção civil. E porquê? Há mais casas do que as necessidades da população. Há tudo em excesso e no entanto a pobreza e miséria não só continuam a existir como estão a crescer em muitas partes do mundo ocidental desde há uma década a esta parte. Esta é a primeira grande verdade que temos de ter presente. Hoje, contrariamente a todo o passado da humanidade vivemos finalmente numa era de abundância, não há nenhuma razão para existir miséria a não ser a de vivermos numa sociedade que funciona com regras erradas e que geram uma desigualdade gritante. Erradicar a pobreza só se consegue corrigindo as regras da sociedade.
Mas o fato de as pessoas serem pobres «terá vantagens» a explorar, pois se elas não têm nada, então significa que não têm nada a perder. Não tendo nada com que se preocupar, têm razões para se sentirem felizes por não terem nada! É uma metáfora, confesso, mas poderá aliviar a crueza da situação. No entanto, as melhores coisas da vida são de graça: a amizade, o amor, a família, a felicidade. Mesmo sendo pobres nós temos acesso às coisas mais valiosas da vida e como tal a pobreza pode transformar-nos em ricos. Podemos não ter dinheiro para pagar algo aos amigos, o que pode ser mau, mas em compensação, eles vão sempre pagar-nos um jantar, um café, uma bebida e vão ajudar a minorar a nossa pobreza.
A condição de pobre tem o condão de cativar verdadeiros amigos, pois não há segundas intenções, dado que nós só podemos oferecer amizade e pouco mais. Há outra «vantagem» muito importante é que não tendo nada, também não temos a preocupação de conservar e aumentar a riqueza, o que deve ser um trabalho desgastante para os ricos que quanto mais têm, mais querem. Ser pobre não é necessariamente mau, mas a sociedade e os poderes constituídos têm obrigação de ter a sensibilidade suficiente para mudar as regras e dar significado à vida, contribuindo com as condições mínimas para a dignidade das pessoas. O fato de sermos pobres não deve levar-nos a invejar os ricos, se analisarmos bem poderemos concluir que os mais pobres são ricos na miséria, mas os ricos nunca conseguem tudo e os pobres contentam-se com o pouco que conseguem e até vivem com um pouco de felicidade.