in TSF
Um relatório europeu revela que as pessoas com deficiência em Portugal têm uma taxa de risco de pobreza 25% superior à das pessoas sem qualquer deficiência, consequência da atual crise.
O "Estudo de avaliação do impacto dos planos de austeridade dos Governos europeus sobre os direitos das pessoas com deficiência" vai ser apresentado no encontro sobre deficiência e inclusão, que decorre segunda-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e é da responsabilidade do Consórcio Europeu de Fundações para os Direitos Humanos e a Deficiência.
Os resultados do estudo mostram que «a taxa de risco de pobreza das pessoas com deficiência é 25% superior [à das pessoas sem deficiência] em países como a Bulgária, Chipre, a Estónia, a Grécia, a Espanha, a Finlândia, a Lituânia, Portugal, a Eslováquia e o Reino Unido».
Aponta que «mais de 1 em cada 5 pessoas com deficiência encontram-se em risco de pobreza na União Europeia (21%)» e sublinha que essa percentagem é superior à que se verifica «na generalidade das pessoas sem deficiência (14,9%)».
Por outro lado, há uma tendência «para que as pessoas com deficiência sejam contratadas a prazo, recebam salários mais baixos e, consequentemente, tenham uma maior insegurança económica».
Em matéria de serviço sociais, e no que diz respeito a Portugal, o relatório diz que «os apoios para os serviços de intervenção precoce da Segurança Social sofreram uma redução entre 160 euros e 240 euros por criança».
Segundo o relatório, Portugal foi um dos países onde foi dispensado pessoal de apoio ao ensino especial e onde os cortes nos apoios técnicos e nas tecnologias de apoio atingiram os 37%.
«Em Portugal, o financiamento da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados sofreu um abrandamento desde 2008, com uma redução de 30% nos fundos a ela destinados», lê-se no relatório, acrescentando que «aumentam diariamente» as listas de espera nesta área.
O consórcio critica o facto de a legislação nacional ter sido alterada para «aumentar o número de residentes por quartos nos lares residenciais ou reduzir a área por residente», bem como os «cortes drásticos» nos serviços de apoio especializado nas escolas de ensino regular.
«Em Portugal, o número de horas de formação profissional para pessoas com deficiência teve um corte de 50% e os salários subsidiados pelo Estado para pessoas com deficiência foram eliminados», aponta.
O Consórcio Europeu refere ainda que os custos dos cuidados prestados a pessoas com deficiência aumentaram quer por «restrições no sistema de comparticipação», quer pelo aumento do custo dos medicamentos e dos cuidados de saúde.
Contesta também que a análise dos rendimentos tenha em consideração todo o agregado familiar, «pelo que a atribuição de pensões foi reduzida em 37%».
Contactada pela TSF, Ana Sezudo, presidente da Associação Portuguesa de Deficientes, confirma que o aumento das medidas de austeridade agravou os problemas dos deficientes (mais desemprego, mais dificuldades decorrentes dos cortes nas prestações sociais).