12.2.14

Estudo. 5% dos sem -abrigo de Lisboa fizeram curso superior

Por Marta F. Reis, in iOnline

Santa Casa divulga hoje resultado do diagnóstico da população sem abrigo na capital, que culminou na contagem em todas as ruas

As equipas do programa InterGerações da Santa Casa Misericórdia de Lisboa encontraram 22 sem-abrigo com formação superior na capital durante o projecto de diagnóstico de situações de exclusão e vulnerabilidade social cujos resultados serão apresentados hoje. Um médico, um piloto ou engenheiros estão entre os licenciados identificados a viver na rua, no âmbito de um projecto que visa contribuir para o debate das necessidades e políticas de integração e apoio a esta população.

Os resultados da iniciativa, que serão apresentados hoje pelas 17 horas, resultam de inquéritos a 454 sem-abrigo entre os cerca de 700 contabilizados. Os trabalhos no terreno culminaram em Dezembro numa contagem de sem-abrigo numa única noite, para verificar se a população abrangida pelos inquéritos se aproximava do número de pessoas a viver na rua ou em abrigos, uma vez que os locais de pernoita variam com frequência e a equipa quis garantir a fidelidade do retrato.

Segundo dados a que o i teve acesso, na contagem de 12 de Dezembro, que mobilizou 800 voluntários, foram sinalizados 509 sem-abrigo na rua. Na fase de levantamento de locais de pernoita e inquéritos, a maioria anónimos, obtiveram-se 454 respostas, que permitiram uma caracterização do contexto familiar, pessoal e socioeconómico desta população, mas também sinalizar às entidades competentes um conjunto de casos. Entre esses estavam situações de ausência de identificação pessoal, como cartão de cidadão, a necessidade de apoios de saúde por vezes urgentes, ajudas sociais ou auxílio para regressar ao país de origem.

A identificação de um grupo significativo de pessoas com formação superior em situação de sem-abrigo foi uma das conclusões mais surpreendentes. No extremo oposto, cerca de 8% dos inquiridos admitiram não saber ler nem escrever. A maioria já tinha passado por um centro de abrigo, mas muitos contaram ter deixado de recorrer a estes apoios por não se adaptarem às regras ou por queixas sobre a qualidade dos mesmos. A relação com as equipas de apoio ou o acesso a serviços foram outras temáticas aprofundadas, nomeadamente a importância dada a instituições de distribuição de alimentos ou o acesso e carências ao nível da saúde.

A maioria dos inquiridos são de nacionalidade portuguesa, sexo masculino e solteiros. Um dos maiores tempos registados na rua foi de 37 anos e o mínimo de um dia.

Os resultados completos do projecto vão ser apresentados por Rita Valadas, administradora da Santa Casa para a Acção Social, e por João Marrana, coordenador do programa, com o comentário do sociólogo Paulo Ferreira. A iniciativa da Santa Casa, que replicou um modelo de sinalização e diagnóstico de idosos em risco promovido em 2012, contou com o apoio da câmara, freguesias, paróquias e associações.