5.5.14

in Sol

A prevalência de famílias numerosas nos Açores é superior ao resto do país, embora seja hoje uma tendência menos acentuada do que no passado, segundo a Associação para o Planeamento Familiar, que alerta para a alta taxa de gravidez adolescente.
De acordo com os Censos de 2011, existiam nos Açores 81.856 famílias (dimensão média familiar de 3.0), enquanto o total do país era de 4.043.726 (dimensão média familiar de 2,6).

Existiam 19.231 agregados descritos como famílias clássicas com três pessoas com menos de 15 anos e 511 agregados com nove ou mais pessoas.

Os dados oficiais indicam ainda que no continente a taxa de gravidez precoce se situava em 2012 nos 6%, enquanto nos Açores era de 10,8%.

O presidente da Associação para o Planeamento Familiar e Saúde Sexual e Reprodutiva no arquipélago, Adelino Dias, disse à Lusa que "os Açores mantiveram sempre esta perspectiva" de famílias numerosas, embora já nem tanto como no passado.

"As famílias numerosas no âmbito rural eram muto importantes na medida em que era uma forma de garantir a sustentabilidade. Nos tempos actuais, a situação mantém-se, embora estas características de ruralidade não se verifiquem tanto. Mas curiosamente é de facto nos Açores que ainda se mantém um pouco famílias mais numerosas, já não tanto, pois a natalidade nos Açores também está a baixar muito", referiu Adelino Dias.

A constituição de famílias numerosas na região, acrescentou, tem a ver com a existência de "algumas comunidades ainda muito tradicionais", nomeadamente comunidades piscatórias que "mantêm esta tradição", e "aspectos que também têm a ver com algum isolamento em algumas localidades".

Ainda assim, e segundo Adelino Dias, a situação das famílias numerosas nos Açores "começa a aproximar-se das médias nacionais", mas a gravidez na adolescência "é superior" à taxa do país, apesar de a região desenvolver também programas de planeamento familiar que abrangem jovens e mulheres em idade fértil e do acesso a alguns métodos contraceptivos.

"A nível das escolas existe uma legislação regional muito bem construída em que existe uma responsabilidade muito grande das entidades tutelares, no sentido de desenvolver um programa de educação afectivo sexual que muitas vezes tem sido implementado com recurso à própria escola e algumas entidades, incluindo a Associação para o Planeamento Familiar", afirmou.

Contudo, a gravidez na adolescência mantém-se: "Uns anos baixa, mas depois volta a subir um pouco", alertou o responsável, considerando que a gravidez entre as adolescentes "é a última das soluções para resolver qualquer problema relacionado com a baixa da natalidade".

Embora o problema da queda demográfica não seja consequência directa da crise, o delegado da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) nos Açores, Nuno Cardoso Dias, alertou para o facto de muitas famílias acabarem por "não ter condições" para terem mais filhos, embora os desejem.

"Verificamos que as pessoas têm vontade de terem filhos, mas precisam de ter condições para os ter ao nível da educação e saúde e uma conciliação da vida diária com a laboral que lhes permita realizarem-se em ambos os planos. Hoje em dia cada vez mais há dificuldades nestas garantias e isto acaba por ser um factor dissuasor, sobretudo nas camadas de população onde não há apoios sociais", disse, em declarações à Lusa.

Em tempo de crise, Nuno Cardoso Dias lembrou que as famílias numerosas têm naturalmente um risco de pobreza superior às outras, porque o rendimento tem de ser distribuído por mais pessoas.

"Esta ideia que hoje em dia temos das famílias numerosas associadas aos apoios sociais vem precisamente do facto de a política de família ser em Portugal sistematicamente confundida com a política social", disse, alegando que isto provoca "distorções".

No seu entender, as políticas em Portugal e nos Açores devem passar a ter em conta o rendimento per capita.

"Ou seja, se tivéssemos em conta o rendimento per capita das famílias, mais famílias numerosas seriam abrangidas pelos apoios que são dados", frisou.

Lusa/SOL