Andreia Dias de Ferro, in DNotícias
Complementar o trabalho que é feito nas escolas e dotar as crianças e jovens das ferramentas necessárias para enfrentarem os desafios do futuro. Pedro Cunha, director adjunto do programa Academias Gulbenkian do Conhecimento, explicou ao DIÁRIO o projecto e a forma como este pretende ganhar forma, ao longo dos próximos cinco anos.
O que são as Academias Gulbenkian do Conhecimento? As Academias do Conhecimento constituem um apoio, que a Gulbenkian dará nos próximos cinco anos a organizações da sociedade civil sem fins lucrativos e também a autarquias e escolas, que pretendam trabalhar com crianças e jovens, dos 0 aos 25 anos, promovendo um conjunto de competências, que nós já identificámos: pensamento criativo, resiliência, resolução de problemas, comunicação, auto-regulação e a adaptabilidade. Esta promoção de competências pode ocorrer em qualquer âmbito, desde escolar a programas dirigidos a crianças e jovens de natureza comunitária como a música, desporto, ciência e tecnologia, voluntariado... não circunscrevemos a qualquer área. Todas as áreas são elegíveis, desde que trabalhem regularmente com crianças e jovens e proponham desenvolver essas competências. Tem de haver um rigor no ponto de vista da avaliação para conseguirmos determinar se, de facto, provocou o impacto que esperávamos.
Serão 2,5 milhões de euros a serem distribuídos por estas organizações. De que forma estas se podem candidatar ao programa? As candidaturas estão abertas desde o dia 17 de Maio e até 11 de Junho. O processo divide-se em duas fases. A primeira fase está agora a decorrer pelo que as organizações só têm que ir ao nosso site e apresentar uma ideia muito genérica sobre como pretendem promover essas competências em jovens. Nós vamos aproveitar as melhores ideias, as mais inovadoras e diferenciadoras, que têm maior impacto junto da comunidade local. Essas melhores ideias serão apoiadas com consultoria, para uma segunda fase de candidatura, onde vão ter que preencher os formulários que são típicos nestes casos. Muitas vezes têm um grau de complexidade elevado e há muitas organizações que acabam por não se motivar tanto. Já contratualizamos com uma empresa de consultoria, que vai apoiar cada uma destas melhores ideias, no sentido de apresentarem uma muito boa proposta e que cumpra com os requisitos de exigência e rigor, que são próprios da Fundação Calouste Gulbenkian.
Quantas organizações é que deverão ser apoiadas por este projecto? Há um montante fixo de apoio a cada uma delas? Nós pretendemos apoiar, no decurso dos cinco anos em que dura o programa Gulbenkian conhecimento, 100 organizações e atingir 10 mil crianças e jovens desta faixa etária. Nós não estamos limitados a estes valores e se aparecerem muito boas candidaturas, podemos ir para além das cem e não vamos limitar o número de jovens. O nível de financiamento varia em função do mérito da proposta, em função do número de anos de intervenção e em função do número de jovens e crianças com que pretendam trabalhar. Estimamos, em média, financiar cerca de 60% dos custos totais de funcionamento destas intervenções, no valor aproximado de 30 mil euros.
Estas Academias do Conhecimento são uma nova ideia da Gulbenkian? Como surge o projecto? Trata-se de uma nova intervenção. O programa Gulbenkian Conhecimento é novo, teve início em Janeiro de 2018 e é uma resposta da Fundação a um conjunto de necessidades, que são também elas novas. Nós sabemos que os problemas sociais são cada vez mais complexos e requerem abordagem integradas. Já não faria sentido manter programas exclusivamente dedicados à saúde, à educação ou a áreas temáticas. Este é um dos três novos programas lançados pela Gulbenkian este ano e que são, de alguma forma, multidisciplinares ou integrados, pois cruzam várias áreas do saber. No caso das Academias, elas traduzem uma resposta à evolução da nossa sociedade, que é cada vez mais complexa, mais automatizada, mais incerta... O que faz com que coloquemos uma pergunta: como podemos ajudar estes jovens e educá-los para o nosso futuro e não tanto para o nosso passado? Temos que os preparar para o futuro. Acontece que o futuro que aí vem, ninguém sabe exactamente como será, mas sabemos que há uma parte importante dos empregos que hoje existem que vão desaparecer. A própria OCDE estima em 50% os empregos que desapareceram, ao longo dos próximos 20 anos. Também serão criados outros tantos. Sabemos também que 4 em cada 5 das crianças que hoje entram na escolaridade obrigatória terão empregos que ainda não foram inventados. No caso português, de acordo com o Fórum para a Competitividade, cerca de 10 a 15% dos empregos na indústria vão desaparecer. Com a robotização, para que estas crianças e jovens possam integrar-se na nossa sociedade, não basta saber ler, escrever e contar muito bem. Isso é muito importante, é fundamental, mas não é suficiente. Cada vez será menos suficiente. Por isso, investimos na melhor das tecnologias, que é o ser humano.