Manuel Vitorino, Ana Pinheiro Torres, in Jornal de Notícias
Novos e velhos esperavam a vez de ser atendidos e receber a senha da sopa do jantar Armazéns do Banco Contra a Fome esperam reposição de alimentos
A fila da sopa engrossou mais cedo do que é habitual em "O Coração da Cidade", no Porto. Ontem, novos e velhos, a maioria sem emprego esperavam a senha de acesso para a refeição. "Estou cá por necessidade. Fiquei desempregado e sobrevivo da caridade alheia", contou um homem de meia-idade. Entretanto, nos armazéns do Banco Alimentar Contra a Fome, em Perafita, Matosinhos, as prateleiras vazias esperam recolher entre hoje e amanhã cerca de 300 toneladas de alimentos para distribuir pelas instituições de solidariedade social.
"Existem novos rostos na linha da pobreza em Portugal", diz La Salette Piedade, de "O Coração da Cidade", enquanto envia e-mails de ajuda às "empresas amigas" e responde aos vários pedidos de ajuda de pessoas que, de um momento para o outro, ficaram sem emprego, muitas delas com dívidas para pagar aos bancos. "Já servimos 300 refeições diárias e nas prateleiras faltam alguns géneros alimentícios. Já não temos arroz, massas, azeite, óleo. Os bens de primeira necessidade começam a escassear".
Perante este quadro, a dirigente da instituição desdobra-se em pedidos, autênticos SOS contra a fome. "No ano passado, valeu-nos a ajuda do El Corte Inglés que permitiu a reposição de stoques, mas este ano ainda não tivemos a mão amiga dos espanhóis. Será vital a ajuda deles", afirma, enquanto esboça um sorriso de esperança.
Como os "ricos estão nos casinos e os pobres nas vielas", La Salette Piedade quer mais "migalhas de amor" a entrar pela porta dentro, capazes não só de enriquecer os vários programas de apoio, como as "Vidas em Risco", destinado às famílias no limite da pobreza ou em situação de recente desemprego.
O mesmo sentimento foi expresso, ao JN, por Vasco António, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome do Porto. "Há cada vez mais gente a pedir produtos para matar a fome. Temos mais de 100 instituições em lista de espera", garante diante das prateleiras vazias e cuja reposição será "fulcral" para acudir aos mais carenciados da região.
Na Legião de Boa Vontade (LBV), a brasileira Noys Rocha confirmou os sinais de pobreza "Todos os dias recebemos pedidos de ajuda e em 2007, distribuímos cerca de 206 toneladas de alimentos", referiu, sem antes elogiar a ajuda dos "empresários amigos" da LBV.