in Jornal Público
As mulheres portuguesas são, numa análise comparativa com sete países europeus, aquelas que apresentam níveis de stress mais elevado. Motivo: o grande número de horas que dedicam à profissão e à família. E o stress familiar é tanto maior quanto mais baixo é o nível de escolaridade e maior o número de crianças em casa.
A conclusão está contida no livro Família e Género em Portugal e na Europa, do Instituto de Ciências Sociais. A explicação adiantada ao PÚBLICO por Karin Wall é simples: uma mulher portuguesa que exerce uma profissão não qualificada gasta 22 horas por semana em tarefas como cuidar da roupa, cozinhar e limpar a casa. Entre as profissionais qualificadas, as tarefas domésticas já só ocupam entre 12 e 15 horas por semana. Mas continuam, ainda assim, acima dos níveis apresentados pela Suécia, por exemplo, país com taxas de actividade feminina igualmente elevadas.
Leitura: "Nos países do Sul da Europa, há mais brio em redor da limpeza, enquanto para uma sueca essas tarefas são menos importantes, até porque é um trabalho não pago", sublinha Sofia Aboim, para se referir depois à ambivalência portuguesa nesta matéria: "As mulheres acham que podem e devem trabalhar fora de casa mas depois subsiste um modelo de feminilidade muito ligado ao doméstico".
E, apesar de, como refere Karin Wall, haver cada vez mais portugueses a partilhar as tarefas domésticas em pé de igualdade com as mulheres, estas vão continuar sobrecarregadas. "As mulheres adaptaram-se mais rapidamente ao mercado de trabalho do que os homens à nova vida privada", sublinha Wall.
Num país onde 83,7 por cento dos cidadãos dizem que não desejam deixar de trabalhar para poder prestar assistência aos filhos, segundo dados do INE, a questão que se coloca é a da institucionalização das crianças. Neste campo, Wall aponta como bom exemplo a aposta na expansão das creches e infantários.
"Em meados dos anos 80, apenas 29 por cento das crianças entre os três e os seis anos frequentavam o pré-escolar. Neste momento, esse número é de 78 por cento", lembra, sublinhando que, no caso das crianças até aos três anos, "um dos objectivos do Governo é aumentar a taxa de cobertura da rede pública até aos 33 por cento".
Por este dias, 23 por cento das crianças portuguesas até aos três anos estão em creches. Em Espanha, a percentagem é de 17 por cento. Quanto aos efeitos desta institucionalização precoce, não há certezas.
"É um debate que está aceso em toda a Europa. No Norte, a ideologia é que a criança fique os primeiros meses em casa com a família mas, como futuro cidadão, é importante que seja educado pelo Estado, que se socialize através das instituições. Mas em países mais conservadores, como a Áustria e a Alemanha, há uma recusa da institucionalização e julgo que isso tem a ver com os nazismos: todos os regimes ditatoriais impunham a institucionalização das crianças e hoje, apesar de não se dizer isso, há uma reacção forte contra esta institucionalização."
Segundo o INE, 83,7% dos portugueses não desejam deixar de trabalhar para poder prestar assistência aos filhos