Catarina Gomes, in Jornal Público
Apesar de nenhum recluso ter aderido à troca de seringas, o presidente do IDT admite alargar o programa
"Quantos pedidos de saída [do Instituto da Droga e da Toxicodependência-IDT] tem na sua secretária?", perguntou o deputado social-democrata Ricardo Martins ao presidente deste organismo, João Goulão. O responsável respondeu ontem no Parlamento que 42 funcionários pediram a saída mas só autorizou 26, apenas oito dos quais são médicos. Recusa assim a ideia de ter havido "debandada" destes profissionais.
Goulão esteve ontem na Assembleia da República para apresentar o Relatório Anual de 2007 - A Situação do País em Matéria de Droga e Toxicodependências. O responsável reconhece que, ao abrigo da figura da mobilidade voluntária, recentemente criada no âmbito da reforma da administração pública, houve funcionários que pediram a saída porque se criou uma "janela de oportunidade". Mas admite que "no âmbito da reestruturação do IDT existe alguma insatisfação, como aconteceu com todos os organismos reestruturados. Houve pessoas que eram dirigentes e deixaram de o ser" e "houve perda de poder médico na nova estrutura do IDT".
Na apresentação do relatório, o responsável assinalou "o decréscimo muito significativo" dos números do HIV/sida entre os toxicodependentes. Ainda assim, de acordo com dados de 2006, Portugal continuava a ser o país da União Europeia com o maior número de novos casos de HIV/sida entre consumidores de droga por injecção. Goulão confirmou que no programa de troca de seringas nas prisões, que existe nos estabelecimentos prisionais de Lisboa e Paços de Ferreira, continua a não haver reclusos a aderir, mas admite alargá-lo a outras prisões porque "tem o mérito de aproximar os reclusos do sistema de saúde". O presidente do IDT manifestou "preocupação" pelo aumento de número de mortes em que foram feitos exames toxicológicos e detectada a presença de droga. Em 2006 tinham sido 216 mortes, no ano passado o número subiu para 314.