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"Em relação a esta pobreza envergonhada, penso que temos que aprender com algumas instituições da Igreja, que conseguem fornecer, além de comida, aquele apoio humano que leva as pessoas a não sentir vergonha de pedir."
A psicóloga Cristina Sá Carvalho considera que os governantes devem tomar medidas para combater as carências alimentares de muitas crianças em Portugal. Caso contrário, diz, a situação pode tornar-se "explosiva" a curto prazo.
"Como as ajudas institucionalizadas foram apertadas, eles têm acesso global ao apoio da acção social escolar, que também terá tendência para diminuir. Penso que ou os nossos governantes percebem isto e tomam medidas ou então, a curto prazo, estamos a caminhar para uma situação explosiva a curto prazo."
Segundo a psicóloga, especializada em psicologia educacional e professora na Universidade Católica, já há professores que pagam do seu bolso o almoço de crianças mais carenciadas. "Penso que há escolas que estão a encaminhar os pequenos lucros do bar, ou estão a pedir ajuda a instituições vizinhas, mas há outras em que são os professores que estão a pagar os almoços dos alunos, que, a partir do meio do mês, já não trazem dinheiro para almoçar."
Para responder este fenómeno, defende Cristina Sá Carvalho, tem que se dar autonomia às escolas. "Há uma alteração de comportamento, dores de cabeça, ida à enfermaria, desmaios. No outro diam vi um aluno que estava verde às nove da manhã - não devia comer há muitas horas. Não disse que tinha fome, mas via-se que era isso que ele tinha.”
Neste campo do apoio aos mais desfavorecidos, o Estado "tem a aprender" com as instituições da Igreja, considera Cristina Sá Carvalho. "Em relação a esta pobreza envergonhada, penso que temos que aprender com algumas instituições da Igreja, que conseguem fornecer, além de comida, aquele apoio humano que leva as pessoas a não sentir vergonha de pedir."