6.5.13

Contra crise a trabalhar pela noite dentro

Leonor Ferreira, in Expresso

Miguel Gonçalves incentivou os jovens empreendedores a arregaçarem as mangas contra a conjectura, numa maratona na "Católica Lisbon School of Businees and Economias".

Cerca de 350 rapazes e raparigas estiveram, entre as 18h de sexta-feira e a mesma hora de sábado, a trabalhar em ideias e projetos, mas o discurso não foi muito animador.

"O vosso futuro vai ser medíocre. Somos o terceiro país da Europa com mais desemprego, a cada hora há 85 novos desempregados. Isto a mim tira-me o sono. Mas, provavelmente, o que está a acontecer em Portugal é o melhor que podia acontecer a muitos de nós, obriga-nos a crescer", explicou o "embaixador" do programa "Impulso Jovem", dizendo que o seu sucesso tem uma razão de ser: trabalha mais de 12 horas por dia, nunca deixa de pensar em trabalho e se o acusam de neoliberalismo, ou de apelar à escravatura, não se importa.

Mas, durante a troca de ideias, os jovens mostraram que nem todos querem trabalhar um elevado número de horas ou comprometer a vida pessoal. Miguel Gonçalves, que se prepara para escrever um livro, responde que nem todos têm o mesmo tipo de felicidade mas não podem pedir o mesmo tipo de resultados financeiros.

Segundo João Freire de Andrade, um dos organizadores do BET e co-fundador do "Bring Entrepeneurs Together", o clube de empreendedorismo da universidade, o grupo é original só pelo facto de não se limitar a "assobiar e erguer cartazes em manifestações". Quererem mesmo é mudar Portugal. Jovens de mais de 20 cursos diferentes ouviram o testemunho de cerca de 50 oradores nacionais e internacionais sobre a receita para o sucesso. Mas os números que mais desiludem são novamente os do desemprego.

"É incrível como é que um evento grátis com investidores, com prémios, sessões de workshops e divulgação pessoal, como é que não vêm. Isso é que nos fez muita pena", explica João Freire de Andrade. Apesar da publicidade que fizeram através da Internet e em centros de emprego, apenas 7% dos inscritos estão desempregados.

Casos que contrariam a crise

Nuno Pereira, 32 anos, estudou engenharia civil e há um ano estava desempregado quando resolveu participar na primeira edição do evento BET 24h. "A experiência foi muito boa, foi aqui que eu aprendi todas as bases de como criar uma empresa, um plano de negócios, como gerir uma ideia... Aprendi tudo aqui." Já tinha tentado alguns projetos seus mas em todos lhe foi negado financiamento.

Mas durante a espera lembrou-se das palavras de Miguel Gonçalves: "Se não temos uma maneira de ir, vamos por outra e foi o que eu fiz. Os meus pais têm um restaurante eu criei a marca do meu doce, que é uma receita muito antiga da minha mãe". Nuno e a irmã tomaram conta do negócio e a procura tem aumentado desde então e este ano o engenheiro civil ficou responsável por adoçar a boca aos participantes.

Filipe Matos tem 25 anos e estudou economia, mas há um ano, na mesma altura em participava pela primeira vez nesta iniciativa, percebeu que queria outro futuro. Os amigos brincam e dizem que passa o dia no Facebook, Filipe explica: "Sou completamente viciado em redes sociais e resolvi fazer disso o meu trabalho. Nós temos que procurar o que fazemos realmente bem e o que gostamos de fazer". Agora gere redes sociais de empresas e ele próprio organiza eventos de empreendedorismo. No BET vê uma oportunidade para aumentar a rede de contatos.