Por Pedro Rainho, in iOnline
O presidente da comissão organizadora do 10 de Junho diz ser preciso um "grande compromisso"
O verdadeiro discurso político do 10 de Junho ficou a cargo do presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal. Silva Peneda pôs o "entendimento" no centro da sua intervenção e lembrou que "a concretização das ideias mais brilhantes aconteceu sempre como resultado da interacção entre os homens".
No mesmo sentido, o ex-ministro de Cavaco Silva inscreveu o consenso no ADN luso, citando o padre António Vieira, Jorge de Sena, Luís de Camões e D. Manuel Clemente para ilustrar que "a busca de compromisso é uma componente indissociável da nossa cultura".
O presidente do Conselho Económico e Social (CES) - palco privilegiado da concretização de entendimentos entre parceiros sociais - disse que "a dimensão da reforma é imensa" e que "precisa de tempo, de coerência e de ser compreendida". Uma mensagem para o PS, que mostra uma crispação pública em relação ao governo que Silva Peneda procurou refrear, mas também para o executivo. Porque se o processo de reformas requer "coragem e visão", não é menos importante que os responsáveis políticos saibam temperar essa posição "com gradualismo e bom senso".
Contudo - e ainda que o tom tenha sido, sobretudo, o da promoção de um "grande compromisso", de abrir portas aos "processos de diálogo" e de quebrar "barreiras sem sentido"-, Silva Peneda lembrou que "a conflitualidade faz parte da vida de qualquer sociedade" e que a "legitimidade" de um governo não se esgota num resultado eleitoral: ela "poderá sair reforçada ou não, conforme o poder político seja mais ou menos capaz de construir pontes com outros centros de poder".
Olhando para a situação social do país, Silva Peneda lembrou que "o trabalho é o principal factor de coesão" social. E quando os níveis de desemprego rondam os 20%, o presidente do CES alerta para a "séria ameaça" para a comunidade. "Daqui ao medo", que poderá originar escolhas políticas menos democráticas, "é um pequeno passo", sublinhou.
É confrontado com a actual realidade que Silva Peneda convoca todos os responsáveis políticos para o "grande compromisso que comece por reconhecer os erros e desvarios cometidos no passado recente".