9.9.13

Da Hungria, com realismo

in RTP

São poucos os filmes húngaros que nos chegam, mas vão deixando marcas fortes: "Apenas o Vento", de Benedek Fliegauf, aborda um perturbante contexto de perseguição a ciganos provenientes da Roménia.

Historicamente, através de autores como Miklós Jancsó (n. 1921), Márta Mészáros (n. 1931) ou Béla Tarr (n. 1955), sabemos que a cinematografia húngara se distingue por uma energia muito especial, enraizada numa atenção realista às convulsões históricas e sociais, por vezes com impressionantes ecos simbólicos — lembremos o caso recente de "O Cavalo de Turim", precisamente de Béla Tarr, um dos grandes filmes lançados entre nós ao longo do ano de 2012.

O mínimo que podemos dizer deste "Apenas o Vento", de Benedek Fliegauf, que agora chega às salas portuguesas, é que a sua energia confirma aquelas impressões gerais. Felizmente, a sua condição de candidato húngaro ao Oscar de melhor filme estrangeiro, referente ao ano de 2012 (sem ter chegado às nomeações), viabilizou uma difusão mais ampla que nos permite reconhecer que a vocação realista de algum dos mais interessante cinema europeu contemporâneo continua a passar pela Hungria.

Trata-se, aliás, neste caso, de trabalhar a partir de dramáticos factos verídicos, com fortes ressonâncias emocionais e simbólicas na sociedade húngara: em cena está um contexto de marginalização e perseguição de alguns ciganos romenos que, em meados da década passada, gerou uma série de assassinatos. O filme, em vez de tentar propor qualquer visão "global", opta por concentrar-se na experiência particular de uma família, de algum modo multiplicando os detalhes dos eventos e os seus índices de perturbação.

Benedek Fliegauf (nascido em Budapeste, em 1974) organiza o seu filme a partir de uma elaborada sugestão de reportagem, como se a sua câmara estivesse a seguir aquelas personagens, tentando compreender as suas histórias, ânsias e medos. É uma solução minimalista que possui a vantagem de resistir a qualquer "generalização" mais ou menos moralista, eventualmente política. "Apenas o Vento" é tão só um retrato da fragilidade da vida.