11.2.14

Cada vez mais pessoas deixam de poder comprar os seus medicamentos

in Médicos do Mundo

A grande fragilidade socioeconómica que se vive actualmente tem conduzido a população mais vulnerável e desfavorecida a relegar a saúde para segundo plano. São cada vez mais as pessoas, com escassos, ou até mesmo inexistentes, rendimentos, para quem a saúde deixou de ser uma prioridade. Reflexo deste cenário é o aumento do número de pedidos de medicamentos a instituições como o Centro Social Paroquial S. Nicolau, no Porto, parceiro da Médicos do Mundo. Fomos escutar o testemunho da Direcção do C. S. P. S. Nicolau acerca do impacto que a crise tem tido nas famílias que acompanha.

Quais os principais motivos que estão na origem dos pedidos de apoio medicamentoso que recebem?

A realidade portuguesa tem vindo a alterar-se nos últimos anos e a cidade do Porto não é excepção. O desemprego aparece como principal obstáculo à satisfação das necessidades básicas como a habitação, alimentação, saúde, entre outras.

As profundas alterações nas regras de acesso às políticas sociais, como é o caso do Rendimento Social de Inserção, conduziram a uma redução significativa do rendimento familiar, o que obviamente fragiliza a condição social de cada um.

O aumento considerável do preço dos bens de primeira necessidade (como a electricidade, água, gás, alimentação…) também motivou a redução do rendimento.

Quem procura este apoio?

São muitos os indivíduos/famílias com ausência ou insuficiência de rendimentos – pensionistas com baixos recursos, desempregados – com idades diversificadas, residentes na Porto.

Sente que o número destes pedidos aumentou recentemente?

O número de pedidos aumentou significativamente e identificam-se casos que anteriormente não procuravam os apoios institucionais com esta finalidade.

De facto, a conjuntura económica abalou o quotidiano das pessoas e conduziu a situações de vulnerabilidade económica graves. São situações em que as pessoas tinham as vidas organizadas e, com o recurso ao seu salário, conseguiam satisfazer as suas necessidades. Hoje em dia, têm de priorizar necessidades, como a alimentação e a habitação, e a saúde é, muitas vezes, preterida, devido ao escasso orçamento familiar.

As pessoas que procuram a vossa instituição tinham anteriormente outro tipo de ajuda para comprar medicamentos?

Identificam-se dois tipos de situações diferentes:

- por um lado, a perda de apoios dada a reestruturação das regras de atribuição de apoios sociais;

- por outro lado, situações em que as pessoas usufruíam de um rendimento mensal como garantia de satisfação das suas necessidades básicas e agora vivenciam uma alteração significativa do rendimento familiar.

O Centro Social Paroquial S. Nicolau, criado em 1989, é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sem fins lucrativos, destinada à intervenção social, preferencialmente, junto da comunidade da Freguesia de S. Nicolau, no Porto.

Devido à sua situação dramática, José Silva já pensou muitas vezes em pôr termo à vida. Leia aqui o testemunho de José Silva, que, sem qualquer rendimento, recebe os medicamentos de que precisa através do apoio da Médicos do Mundo.