por Céu Neves, in Diário de Notícias
A 12 de dezembro a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa andou a contar os sem-abrigo da capital. Registou 852, incluíndo os 343 que dormem em centros de acolhimentos. Antes 454 pessoas responderam a um inquérito, concluindo-se que 139 vivem na rua há menos de um ano e 21 têm estudos superiores
O número contabilizado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) é inferior ao de estudos anteriores realizados pela Câmara Municipal de Lisboa, nomeadamente o relatório de 2007, "A população de rua da cidade de Lisboa", que contabiliza 1187 sem-abrigo.
O estudo revela, ainda, que são mais os que dormem em locais públicos (59,7%) do que nos centros de acolhimento, quando alguns trabalhos anteriores indicavam o contrário.
E há, também, uma variedade maior de habilitações académicas. Se é bem verdade que 21 disseram tem qualificações superiores, 35 não sabem ler nem escrever. Um terço concluiu o ensino secundário, técnico ou superior.
Uma caracterização feita no âmbito do Programa Intergerações e pela equipa InterSituações, realizado entre abril e dezembro de 2013. O grupo de trabalho é liderada por Rita Valadas, responsável pela ação social da SCML.
Elaborado o diagnóstico, os coordenadores do estudo apelam aos a organismos públicos e privados para "concertar estratégias para mudar o paradigma de intervenção junto dos sem-abrigo, evoluindo da assistência para a reintegração social". Consideram ser urgente "adaptar as respostas existentes, nomeadamente permitindo o acesso a cuidados de saúde e adequando os horários e serviços dos espaços de acolhimento às reais necessidades desta população".
Apenas 5% das pessoas encontradas disseram ter apoio em cuidados primários ou na medicação, embora 45,2% diga ser doentes. Os mais problemas mais comuns são dentários, diabetes, doenças cardiovasculares, pulmonares e neurológicos, e doenças sexualmente transmissíveis.
As razões que levaram às pessoas a viver na rua são na maioria dos casos "conflitos familiares e relacionais, o desemprego e a doença física ou mental".
Vivem na rua maioritariamente homens (87%), portugueses (58,4%) e solteiros, sendo que uma grande parte tem entre 35 e 54 anos. Cerca de um terço (30,6%) estão há menos de um ano na rua e 17% entre um e três anos, mas também encontraram uma pessoa há mais de 40 anos de rua.
A cave da Gare Oriente acolhe um maior número de sem-abrigo, até porque é um local coberto e que não fecha (nem é possível) como outros edifícios públicos que encerram durante a noite. E faz com que as freguesias de Santa Maria Maior e do Parque das Nações tenham um maior número, 84, seguindo-se Santo António, 64.