13.2.14

Investigadores do Porto apresentam trabalhos entre perspetivas de emigração e auto-emprego

in iOnline

O reitor lembrou que "a investigação não é o único caminho de um recém-licenciado - há também a criação de empresas próprias e o trabalho por conta de outrem de modo empreendedor"

Cerca de mil jovens investigadores vão apresentar, entre hoje e sexta-feira, mais de 500 artigos científicos na reitoria da Universidade do Porto (UP), apesar da "desmotivação" sentida pelos cortes nas bolsas da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Dos três alunos de mestrado ou licenciatura questionados na reitoria pela agência Lusa, no âmbito do 7.º Encontro de Investigação Jovem da UP, dois mencionaram a possibilidade de emigrar e apenas um admitiu a hipótese de recorrer às "caixas do Continente [hipermercado]”, mas todos frisaram o medo da "instabilidade" ou a "falta de encorajamento" perante o desejo de prosseguir uma carreira na investigação.

"É evidente que nos podem dizer para ir buscar dinheiro a outros lados", disse à Lusa Marques dos Santos, reitor da UP, sublinhando que "para isso é preciso tempo" e que "o Estado não se pode eximir da sua função de apoiar a investigação", sobretudo "enquanto o outro braço, o outro pilar, o das empresas, não se desenvolver."

Para Marques dos Santos, "as empresas têm que ter essa função", realizável ao "acolher investigadores para os seus quadros de funcionamento" ou ao criar gabinetes de investigação que complementem a capacidade de integração das incubadoras de empresas criadas pela própria instituição de ensino.

O reitor lembrou que "a investigação não é o único caminho de um recém-licenciado - há também a criação de empresas próprias e o trabalho por conta de outrem de modo empreendedor", opções que, para alunos como Simão Neves, mestrando de Bioquímica, são já quase incontornáveis.

A braços com um projeto de investigação que "consiste em fazer uma análise bioquímica a algas da costa do Norte de Portugal de modo a analisar diferenças entre zonas poluídas e limpas", Simão Neves pretende, aos 23 anos, candidatar-se a uma bolsa, mas está já "mentalizado" para o insucesso.

"Adorava seguir investigação, é o que quero fazer na minha vida, mas não sei se vai ser possível" disse, admitindo que já começou a ponderar alternativas, dadas as "condições muito instáveis, porque as bolsas podem não ser renovadas."

Para o mestrando, "para já, emigrar não é uma hipótese" ou será tão-só se lhe surgir outra proposta, "através dos fundos europeus, para participar em projetos lá fora". As caixas de hipermercados não estão fora de questão, caso tenha que "abrir uma empresa ou um negócio" e precise de financiar-se entretanto.

É também com "muita preocupação" que Jorge Gonçalves, vice-reitor da UP, vê "muito talento a sair do país" e é com "alguma perplexidade" que observa "alguns agentes a hesitar em investir e em criar condições para, pelo menos neste período de transição, este talento ficar cá."

Mariana Araújo, por exemplo, quer seguir carreira na investigação, ainda que mais aplicada a um contexto empresarial, mas dada a situação do país e os problemas que têm surgido com os bolseiros, acaba por não sentir qualquer "motivação em seguir a área", pelo que admite "experimentar uma carreira fora do país, para pelo menos ter alguns anos de experiência fora."

Aos 23 anos, no 3.º ano de Bioquímica e mestranda em Controlo de qualidade na Faculdade de Farmácia, Mariana entende que a situação do país é determinante: “Não basta apenas gostarmos, também queremos ter alguma estabilidade financeira".

"A investigação é uma carreira muito interessante, mas estes cortes todos não encorajam a que a sigamos", concorda Catarina Silva, 19 anos, estudante de licenciatura de Línguas e Relações Internacionais na Faculdade de Letras, que ainda assim não exclui a possibilidade pelo gosto que sente pela área e na esperança de conseguir uma bolsa privada.

Segundo o vice-reitor da UP, "se as empresas ou outras organizações forem incompetentes ao ponto de não perceber esta mais-valia, também é responsabilidade da universidade ajudar a criar as novas empresas baseadas no conhecimento".

Jorge Gonçalves considera, contudo, que esse "deve ser também o objetivo daqueles que tiveram a sorte de não ser expostos às dificuldades que estes jovens têm”. No seu entender, “todos aqueles que têm hoje um lugar mais confortável, as empresas, deviam mobilizar-se para encontrar um novo patamar para acolher todo este conhecimento".