Por Marta F. Reis, in iOnline
Há 509 sem-abrigo a dormir nas ruas de Lisboa. Boa parte mantém contacto com família
Colchões com cobertor, cortinados, pratos de fruta. Estas foram algumas das surpresas da equipa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no projecto que, desde o Abril de 2013, se dedicou a diagnosticar a realidade dos sem-abrigo na capital. O objectivo passou por encontrar as melhores estratégias de apoio. Embora não exista um estudo comparável para dizer se os 852 sem-abrigo sinalizados – dos quais 509 a dormir na rua e os restantes em albergues – são mais ou menos do que no passado, há uma convicção de que o perfil é diferente e exige novas respostas.
Um abrigo de transição com menos regras e que afastam pela burocracia, e um centro de competências psicossociais com formações e apoios na área do emprego e gestão doméstica são alguns projectos em mente, revelou ontem na apresentação dos resultados a administradora para a Acção Social da SCML Rita Valadas.
“Ao contrário do que via no passado, encontrei nas ruas muitos lares, sinal de que as pessoas querem ter o seu espaço próprio”, contou Valadas, adiantando que vão aproveitar o facto de terem sinalizado uma maioria de casos em que o sem-abrigo mantém contacto regular com familiares para perceber se é possível ajudar a família a integrar o elemento, “com apoios à medida das necessidades”.
A forma como zonas de pernoita são cuidadas, indicia pessoas mais estruturadas do ponto de vista emocional, e a ideia de que a maioria não está isolada são apenas alguns indicadores de um novo perfil. Do inquérito a que responderam 454 sem-abrigo resultaram pistas como haver menos casos de dependência de álcool e droga e de problemas mentais, as características que tipicamente construíam o perfil do sem-abrigo, lembrou Valadas. Um espectro alargado de idades e formações académicas, inclusive 5% de licenciados, são novos indicadores.
Foram ainda detectadas diferenças consideráveis nos perfis das mulheres e dos homens sem-abrigo, que merecem mais investigação defendeu o sociólogo da SCML Paulo Ferreira e que podem motivar respostas diferentes. Elas são maioritariamente mais novas, casadas e estão há menos tempo na rua. Eles maioritariamente o oposto.
No curto prazo, explicou Rita Valadas, a expectativa é coordenar soluções na capital a partir de um novo centro para a problemática dos sem-abrigo que abrirá dentro de um mês no Cais do Sodré e que visa reunir as diferentes instituições e voluntários para uma resposta mais articulada.
Isto porque um dos problemas detectados foi a sobreposição ajudas como a distribuição de alimentos. Além de garantir que o interesse na procura de soluções não “esmorece”, como o objectivo final de que “ninguém passe a primeira noite na rua”, as ideias repetidas pelos responsáveis da Santa Casa, pretendem no futuro manter o diagnóstico actualizado.