in Jornal de Notícias
Há mais de 300 famílias de pescadores do Norte do país em situação e pobreza, devido às adversas condições climatéricas que condicionam a atividade da pesca desde novembro do ano passado.
O alerta foi dado, esta terça-feira, por José Festas, presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar, na sequência de uma vista do padre Jardim Moreira, presidente da Rede Europa Antipobreza, à instituição sediada na Póvoa de Varzim.
"A situação tem ultrapassado todos os limites, sobretudo na zona norte. Não tenho palavras para descrever os pedidos de ajuda que nos chegam. Estimo que mais de 300 famílias estejam numa situação muito difícil", revelou o dirigente.
José Festas fala "em necessidade ajuda imediata", lembrando que já partilhou esses anseios à Ministra da Agricultura e Pescas, Assunção Cristas.
"Não temos mais oxigénio para sobreviver. Mesmo que o tempo melhore, serão precisos 3 a 4 anos para se recuperar estes meses que não fomos ao mar. A ministra esteve aqui e sabe destas nossas preocupações", partilhou o líder da associação.
José Festas confirmou, também, que "é muito difícil conter pescadores que arriscam a saída para o mar mesmo com mau tempo, porque as necessidades são muito grandes".
Já Francisco Cruz, armador [proprietário de barco], vincou que os problemas maiores são para as embarcações de pesca local [mais pequenas].
"Há quem não consiga ganhar dinheiro desde novembro. Pergunto-me como é possível a esses pescadores sustentar famílias numerosas, com 4 ou 5 filhos. Já aconteceu de me pediram emprestado 20 euros só para poderem meter combustível no barco para tentarem ganhar algum dinheiro", confessou.
Para este pescador, a solidariedade da classe tem sido fundamental para "evitar casos de fome"
"Não posso dizer que haja pescadores a passar fome, porque vamos nos ajudando. Mas a situação é terrível. E muitos pescadores não querem expô-la por vergonha. É uma questão de honra não partilhar as dificuldades que passam", afirmou Francisco Cruz.
Após ouvir os anseios, dos "homens do mar", o padre Jardim Moreira, não teve dúvidas em afirmar que "esta é, sem dúvida, uma questão da pobreza, mesmo que seja temporária".
"É dramático ver que estes homens têm o mar à porta e não podem ir trabalhar para matar fome das famílias. É preciso dar a conhecer esta situação para que quem tem competências nos possa ajudar esta gente", afirmou o clérigo.
Jardim Moreira espera que a sua presença nesta reunião com os pescadores "possa ajudar a divulgar este problema", deixando uma garantia.
"Da minha parte tudo farei para que os vossos anseios possam chegar a quem de direito. Deixo um apelo aos privados e aos responsáveis políticos que olhem para os pescadores com um olhar de respeito e justiça", afirmou.
A finalizar, o religioso não deixou de notar "a solidariedade que estes pescadores têm demonstrado entre si é um exemplo da unidade de uma classe".