Erika Nunes, in Jornal de Notícias
A União Europeia deve dar "apoios significativos" à interligação da Península Ibérica com o resto da Europa, quer para a energia elétrica, quer para o gás natural, e isso deve fazer parte do pacote de políticas da UE até 2030, defendeu Jorge Moreira da Silva, ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e da Energia, na Conferência "Gás Natural em Portugal", a decorrer na Alfândega do Porto.
"Já falhámos a meta dos 10% de interligação [elétrica] na Península Ibérica - toda a Europa cumpre com os países vizinhos, nós só temos 1,6% - e o objetivo para 2030 é agora de 25% e não queremos falhar", apontou o ministro, adiantando que o apoio da UE para essa fase foi aprovado. Até o objetivo ser concluído, a Europa está a perder a oportunidade de aproveitar a "produção das renováveis que, em Portugal, são abundantes e podem ajudar outros países a suprir as suas quotas nacionais a partir de parceiros".
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O ministro alertou, ainda, que, no que respeita ao gás natural, é "prioritário concretizar a terceira interligação [com Espanha]", mas tal "não será feito enquanto não for resolvido o bloqueio com a França, o que deve ser assumido previamente" e que, considerou, "não é um problema só português ou ibérico", pelo que deverá ser também a UE a "dar um sinal muito significativo no financiamento" da infraestrutura que terá benefícios comunitários. A competitvidade europeia depende, assim, da "eliminação de bloqueios" que nos permitam enfrentar a concorrência. "Nos EUA, o preço da energia elétrica é metade do da UE e o do gás natural é 1/3", disse Moreira da Silva. Em Portugal, adiantou, "o preço do gás natural para o setor industrial está em linha com os preços da UE e é superior ao da UE para o setor doméstico devido a questões fiscais".
"Mas as tarifas podiam subir quase 50% até 2020, se o Governo não tivesse efetuado cortes no valor de 3,4 mil milhões de euros e assumido entre 1,5% e 2% de aumento anual. De um défice tarifário de 4,4 mil milhões de euros vamos passar para uma dívida tarifária em 2015 e abandonar o défice", revelou.
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O gás natural chega a apenas 25% dos consumidores portugueses e a ampliação da rede será feita, adiantou o ministro, através do "alargamento da distribuição AG [distribuição e armazenamento] a mais 30 municípios" através de pontos de abastecimento. Quanto aos restantes, tal como já tinha sido anunciado, além de o Governo pretender alterar, em breve, as especificações técnicas das botijas de gás "de forma a harmonizá-las com o padrão europeu", mediante os resultados do estudo que está em curso sobre os preços do gás butano e propano em todo o país, o Executivo admite que "poderá ser necessário fixar preços para o gás de botija".
O gás natural é, ainda, considerado uma "solução de transição" no que toca à mobilidade, onde o Governo continuará a apostar na energia elétrica. "Também os fundos comunitários para Portugal 2020 irão dar sinal disso", adiantou Moreira da Silva.