Por Filipe Paiva Cardoso, in iOnline
Organização adianta que a economia portuguesa vai continuar a divergir dos parceiros da zona euro e dívida vai chegar a 132% do PIB
A dívida portuguesa vai crescer 10 mil milhões de euros até ao final de 2015, prevê a OCDE, que antecipa que o nível de endividamento do Estado chegará aos 131,8% do PIB no final do próximo ano - valor que compara com os 129% registados no final de 2013. Mas não é só neste ponto que as previsões para Portugal da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico são menos optimistas que as da troika ou governo.
Apesar do declínio acentuado imposto à economia portuguesa nos últimos anos, as previsões da OCDE apontam no sentido de que os primeiros anos do pós-troika ficarão marcados pelo problema estrutural que tem marcado o país: os portugueses continuarão a ficar mais pobres face aos seus pares europeus, apesar de pagarem impostos mais elevados e ganharem salários bem mais baixos.
A OCDE antecipou ontem que o PIB português este ano cresça apenas 1,1% e mais 1,4% em 2015, valores que comparam mal com o crescimento económico previsto para a zona euro. O conjunto de países da moeda única deverá crescer 1,2% e 1,7%, continuando assim a trajectória de empobrecimento dos portugueses face aos seus congéneres do euro.
Esta evolução implica que se no final de 2012 o PIB per capita português já estava 30% abaixo da média da zona euro, quando em 2010 estava 25% aquém, até 2015 a situação vai piorar, com os portugueses a ficarem ainda mais pobres em relação à zona euro. Em 2010, o PIB per capita português estava 6,8 mil euros abaixo da média da zona euro (18 países), em 2012 a diferença já superava os 8,1 mil euros. Nos próximos anos, o fosso continuará a aumentar. Especialmente em relação à Alemanha, que deve continuar a crescer num ritmo superior ao da zona euro.
Apesar da continuação da estratégia de empobrecimento do país, ao nível do emprego nada irá melhorar em relação à situação europeia. Apesar da OCDE prever um ligeiro recuo na taxa de 2014 para 2015, de 15,1% para 14,8%, a queda prevista é idêntica à que a OCDE prevê que ocorra em toda a zona da moeda única, assim como no conjunto de países que compõem a OCDE: o organismo prevê que em todas as zonas geográficas o desemprego caia em 0,3 pontos percentuais, o que indicia que o desemprego melhorará em conjunto com o ambiente económico internacional e não graças a alguma mudança específica da situação portuguesa.
Deflação e comparação "Como a travagem da economia é e continuará a ser considerável, a inflação deverá manter-se muito baixa, existindo o risco de deflação, o que tornará a redução da dívida mais difícil", salienta a OCDE na análise à situação portuguesa, avançado com uma previsão de recuo de 0,3% nos preços este ano, subindo apenas 0,4% durante 2015.
As previsões da OCDE para Portugal são ligeiramente inferiores às feitas pelo governo e pela troika recentemente, já que acreditam apenas num salto de 1,1% do PIB, contra os 1,2% de previsão "oficial". Em sentido contrário, estão os números previstos para o desemprego em Portugal segundo a OCDE. A troika prevê que a economia nacional feche 2014 com uma taxa a ronda os 15,4%, contra os 15,1% avançados ontem pela OCDE, ainda que para 2015 todas as previsões coincidam: 14,8% de desemprego.
As previsões da OCDE foram publicadas no "Economic Outlook" de Primavera, divulgado ontem. Tal como qualquer organização que tem falado sobre Portugal, também a OCDE salienta que "é necessário prosseguir o ajustamento orçamental para além do programa de ajuda".