por Celso Paiva Sol, RR
Rui Pereira considera que o problema português “não é de criminalidade ou contestação na rua, mas económico, político e social”. Em entrevista à Renascença, lembra ainda que, além de direitos, as forças de segurança têm “um especial dever de dar o exemplo”.
O antigo ministro da Administração Interna Rui Pereira, actual presidente do Observatório da Segurança, Crime Organizado e Terrorismo, considera que o Governo deve ter muita atenção aos efeitos que a austeridade pode vir a ter na paz social e até mesmo nos níveis de criminalidade.
“Para que a situação evolua bem, é necessário que as políticas de austeridade sejam políticas de justiça, isto é, procurem salvaguardar o mais possível os mais desfavorecidos. Então, conseguiremos, seguramente, salvaguardar os níveis de coesão social, que permitirão atravessar este período difícil, sem contestação e manifestações violentas e até contendo também níveis de criminalidade”, defende, em entrevista à Renascença.
Rui Pereira saúda o facto de a crispação social portuguesa estar longe da vivida na Grécia ou em Espanha, mas alerta para o risco de a situação se alterar, caso as pessoas se sintam ignoradas.
Em seu entender, “o problema português não é de criminalidade nem de contestação de rua, é um problema económico, social e político e é a esse nível que têm de ser dadas respostas, para que também no plano da paz social as coisas se não agravem”.
Sobre o risco dos protestos se radicalizarem em sectores como as próprias Forças Armadas e de Segurança, o ministro do Governo de José Sócrates sublinha o “especial dever” destas forças.
“É óbvio que, tendo o direito de manifestar os seus pontos de vista, nunca se podem esquecer de qual é o seu papel na sociedade e, portanto, de que darem um mau exemplo – um exemplo pouco cívico, pouco digno – nessas manifestações, reverte-se sempre contra eles”, sustenta.
Nesta entrevista à Renascença – uma das raras que concedeu desde que deixou o Governo, há ano e meio, e que vai poder ouvir na íntegra na Edição da Noite, às 23h00 – Rui Pereira também elogia o modo como a polícia tem gerido os inúmeros protestos de rua registado nos últimos meses.
É com contenção que se evitam males maiores, defende.