por Texto da Lusa, publicado por Lina Santos, in Diário de Notícias
Menos de um terço dos portugueses seguem comportamentos de envelhecimento ativo, que contribuem para a qualidade de vida, ficando a meio de uma tabela europeia, situação que deverá melhorar nos próximos anos, revelou hoje o investigador Manuel Villaverde Cabral.
O coordenador do estudo "Processos de Envelhecimento em Portugal, usos do tempo, redes sociais, e condições de vida", disse à agência Lusa que "a percentagem de portugueses que investem minimamente em atividades que promovem o envelhecimento ativo é da ordem de 30%". Esta é uma das conclusões do trabalho, com base em inquéritos a mil portugueses a partir dos 50 anos, que hoje é apresentado e que Villaverde Cabral comparou com um estudo europeu, realizado com uma metodologia diferente e a partir dos 65 anos. O envelhecimento ativo contempla a adoção de ações cognitivas e físicas, de cuidados médicos ou hábitos de saúde, que promovem uma maior longevidade com qualidade. Trabalhar ou não, pertencer a associações, fazer voluntariado, ir ao cinema ou assistir a espectáculos são alguns exemplos avançados pelo investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. No estudo europeu, "Portugal apareceu com uma percentagem ligeiramente superior (35%) de potencial realizado em relação ao envelhecimento ativo" e na comparação europeia ficou "mais ou menos a meio da tabela", sendo um dos elementos que "contribuiu mais favoravelmente o facto de os seniores portugueses se reformarem um pouco mais tarde do que a média europeia". A taxa mais elevada de adoção de envelhecimento ativo está no grupo entre 50 e 64 anos, por isso, a expetativa é que, com os anos, e a passagem destes portugueses à faixa dos "mais velhos", a prática do envelhecimento ativo aumente. "À medida que os mais idosos forem falecendo e os que têm agora menos de 74, menos de 65, menos de 50 forem envelhecendo, este movimento natural demográfico, pelos atributos socio-económicos, nomeadamente a escolaridade e o próprio nível de vida, apesar da crise", vai fazer com que se generalize "crescentemente a adoção de práticas de envelhecimento ativo", explicou Villaverde Cabral. Apenas 1% ou 2% dos inquiridos que não sabem ler ou escrever aderem às "boas práticas", contra os menos de 19% dos que têm o ensino básico. Nos idosos que têm o ensino básico, cerca de dois terços segue as boas práticas de envelhecimento ativo, enquanto nos que têm o ensino superior a percentagem sobe para os 80%. A terceira conclusão do trabalho vai "contra o que, por vezes, o discurso do envelhecimento ativo dá a entender quando é criticado", "Há a indução de uma ideia de que o envelhecimento ativo faria "milagres" - não faz", salientou o investigador. O documento diz que, "contrariamente àquilo que a ideologia do "envelhecimento ativo" parece, por vezes, induzir, o efeito de idade tende a exercer o seu impacto, virtualmente, a todos os níveis da existência dos indivíduos (...), confirmando as teses da desvinculação gradual dos mais idosos em relação à participação na vida social e até familiar".