3.7.13

Portugal já chegou à Grécia e o segundo resgate vem a caminho

Por António Ribeiro Ferreira, in iOnline

A sétima foi tirada a ferros com a ajuda divina. A oitava, com 4700 milhões de cortes na despesa do Estado, morreu à nascença


O guião português é semelhante ao grego dois anos depois da chegada da troika e de sete avaliações. Na hora das grandes decisões, o espectáculo político, económico e social é o mesmo a que os portugueses assistiram há um ano nas ruas e nos gabinetes políticos de Atenas. Quando os políticos portugueses, da esquerda à direita, clamavam que Portugal não era a Grécia. Agora passou a ser.

Recusa de avançar com a reforma do Estado e fazer cortes significativos na despesa pública, instabilidade social, com patrões e sindicatos a baterem o pé não só ao caminho de austeridade como a medidas duras na administração pública, alta tensão na coligação, com a ruptura entre os partidos do governo, indicadores económicos descontrolados, como o défice, a dívida pública, o desemprego e a recessão. Para não falar do afastamento total da oposição, com a exigência de eleições antecipadas.

seguir a desgraça grega E o guião português continua a seguir à risca a desgraça grega. Eleições antecipadas sem garantia de maioria absoluta de qualquer partido e, claro, a exigência frontal da troika de um segundo resgate violento, que pode ou não incluir a reestruturação da dívida. Quem ganhar as eleições terá este cenário pela frente. Ou pior. Poderá mesmo ter de equacionar a saída do euro. É que os tempos são outros e as vontades na Europa de terem uma segunda Grécia na zona euro estão a perder força.

Ultimato à Grécia Ainda ontem, num aviso solene à navegação da zona euro, a União Europeia lançou um ultimato à Grécia. O país tem três dias para assegurar aos seus credores que pode cumprir as condições associadas ao resgate internacional a fim de receber a próxima tranche da ajuda. Caso contrário, "Atenas terá de enfrentar consequências". A notícia foi veiculada pela agência Reuters, que citou quatro responsáveis europeus, que garantem que, se a Grécia quiser receber o próximo cheque, no valor de cerca de 8 mil milhões de euros, terá de apresentar garantias nos próximos dias. "Há uma insatisfação geral com o progresso da Grécia quando se trata de reformar o sector público, fiscal ou os serviços de saúde", disse um dos funcionários da UE. Outro dos responsáveis afirmou que a Grécia precisa de dar provas até ao final desta semana, antes da reunião do Eurogrupo marcada para a próxima segunda- -feira. A Grécia e os credores internacionais retomaram no início da semana as discussões que permitem libertar 8,1 mil milhões de euros no âmbito do programa de resgate, depois de uma interrupção de duas semanas devido ao encerramento da TV estatal grega ERT, que quase levou ao colapso do governo. Se as discussões falharem, o Fundo Monetário Internacional pode retirar o apoio ao resgate grego para não violar as suas próprias regras.

A miragem da reforma As Finanças de Vítor Gaspar lançaram um importante aviso no fim-de-semana. Os técnicos da troika, que estiveram a semana passada em Lisboa a preparar a vinda da equipa principal a 15 de Julho, saíram de Portugal convencidos de que não havia condições políticas e sociais para o governo conseguir cumprir o compromisso de cortar 4700 milhões de euros na despesa do Estado até final de 2014, para além das naturais dúvidas constitucionais. Mas Vítor Gaspar fez mais no seu último fim--de-semana no governo. Divulgou um documento de 13 páginas entregue aos deputados da maioria em que desmonta uma a uma as medidas económicas do PS que os parlamentares do PSD e do CDS acolheram em grande parte. O ex-ministro das Finanças já podia ter pedido a demissão duas vezes. Mas o fim problemático da sétima avaliação e o ambiente político dentro e fora no governo foram a prova provada para Gaspar de que a reforma do Estado em Portugal é uma miragem e os cortes estruturais e permanentes na despesa do Estado são outra miragem.

Agora já não há oitava avaliação. Chegou a vez do inferno. Para todos os portugueses, com respeito integral pelo princípio constitucional da igualdade.