16.1.14

Dívida. Famílias investiram 648 milhões nos novos títulos em apenas dois meses

in iOnline

Quase ao mesmo tempo que vendia dívida de curto prazo a taxas de 2009, o IGCP (Agência para a Gestão da Tesouraria e Dívida Pública) anunciou ontem o programa de financiamento de Portugal para 2014. O plano é revelador da crescente confiança no regresso aos mercados, animada pelo sucesso das emissões realizadas este ano.

Em relação à estratégia apresentada em Outubro, no quadro da proposta de Orçamento do Estado para 2014, o plano agora conhecido aumenta a aposta na emissão de dívida de longo prazo em mercado. A meta passa de 10,5 mil milhões de euros de Obrigações do Tesouro para um montante no intervalo entre 11 e 13 mil milhões de euros. Em sentido contrário, o montante de financiamento a obter no retalho é revisto em baixa, de 2500 milhões para 2000 milhões de euros.

A principal razão para esta mudança reside na forte adesão que os novos certificados do Tesouro conquistaram logo nos dois primeiros meses de subscrição. Segundo dados obtidos pelo i junto do IGCP, o investimento das famílias nos certificados do Tesouro Poupança Mais atingiu, até Dezembro, os 648 milhões de euros, o que permitiu antecipar em 2013 parte da meta prevista para este ano. O maior boom de subscrições aconteceu, como era de esperar, entre os dois últimos dias de Outubro e Novembro, quando foram captados 461 milhões de euros. O ritmo abrandou em Dezembro, mas ainda assim foram canalizados mais 187 milhões de euros. O novo produto de aforro assegura uma remuneração crescente, de 2,75% no primeiro ano a 5% no quinto ano, e tem feito forte concorrência aos depósitos bancários.

Diluir pagamentos O aumento do valor a captar com emissões de dívida de longo prazo visa já preparar o financiamento de 2015, em linha com o objectivo já assumido pelo presidente do IGCP, João Moreira Rato. Portugal pode ainda reforçar a folga para realizar operações de recompra de dívida. A possibilidade, prevista no plano, insere-se na gestão do risco de refinanciamento do país que passa por evitar a criação de excessivas concentrações temporais de amortizações de dívida.

Com o mesmo objectivo, poderão avançar novas operações de troca de dívida, adiando reembolsos, à semelhança da transacção realizada em Dezembro do ano passado.

Filipe Garcia, analista da consultora financeira IMF, recorda que a ausência de financiamento regular em mercado durante o período de assistência financeira resultou em concentrações de pagamentos de dívida que é importante corrigir.

Com base no intervalo para a emissão de obrigações do Tesouro - entre 11 e 13 mil milhões -, Filipe Garcia admite que Portugal possa realizar este ano mais três ou quatro emissões, além da venda de dívida a cinco anos no valor de 3,250 mil milhões de euros concretizada na semana passada. Para alisar o calendário de reembolsos seria útil uma emissão a dez anos, uma entre um e três anos e outra entre cinco e dez anos, adianta este analista.

No menu financeiro para 2014 está prevista a possibilidade de regressar ainda no primeiro semestre aos leilões de dívida de longo prazo, uma prática que foi abandonada durante o período de assistência financeira. As emissões de obrigações do Tesouro realizadas desde 2012 foram concretizadas com o apoio de sindicatos bancários. Uma cautela que ajuda a assegurar o êxito da oferta e que foi também adoptada pela Irlanda na primeira emissão que fez depois de sair do ajustamento.

As necessidades de financiamento líquidas do Estado para 2014 situam-se em 11,8 mil milhões de euros, valor que cobre o défice previsto e aquisições de activos financeiros, em que estão o refinanciamento de empresas públicas e outros compromissos. Além do financiamento em mercado, Portugal conta com uma almofada de liquidez em depósitos de 7900 milhões de euros e as últimas tranches da ajuda de 7,8 mil milhões de euros.