João Tereso Casimiro, in Jornal Económico
Um quinto dos portugueses pede dinheiro emprestado mensalmente
O relatório realizado em 24 países da Europa com a contribuição de mais de 24 mil participantes, faz revelações preocupantes ao nível das finanças pessoais, com 16% dos inquiridos a afirmar que “não tem controlo” sobre o seu endividamento. Em Portugal, 10% afirma “não saber” quanto deve.
A pandemia de Covid-19 aliada ao conflito no leste da Europa fez os preços disparar e, consequentemente, provocou um aumento da inflação que já se reflete nas carteiras dos portugueses. Segundo o relatório ‘European Consumer Payment Report’ (ECPR), elaborado pela Intrum, os portugueses estão entre os que sentem mais dificuldades em gerir o pagamento das suas dívidas, comparativamente aos seus pares europeus.
O relatório realizado em 24 países da Europa com a contribuição de mais de 24 mil participantes, faz revelações preocupantes ao nível das finanças pessoais, com 16% dos inquiridos a afirmar que “não tem controlo” sobre o seu endividamento. Em Portugal, 10% afirma “não saber” quanto deve.
Outra das conclusões preocupantes prende-se com a fatia da população europeia que pede dinheiro emprestado mensalmente — 25%. Em território nacional a percentagem é ligeiramente inferior, 23%, mas que representa um aumento de cinco pontos percentuais face a 2020 e que faz prever preocupações adicionais, tendo em conta aumento da inflação e em particular para quem afirma não ser sua prioridade saber o impacto que eventuais alterações nas taxas de juro possam ter nas obrigações financeiras assumidas (21% dos inquiridos em Portugal).
“A pandemia deixou alguns grupos de consumidores em situação financeira delicada e alguns contraíram dívidas adicionais para sobreviverem até ao fim do mês. O nosso estudo revela que muitos perderam a noção do valor total da sua dívida. Por este motivo e com o aumento da inflação, esperamos mais problemas com pagamentos no futuro”, aponta Luís Salvaterra, diretor-geral da Intrum Portugal.
O responsável acrescenta que “as empresas irão precisar de rever as suas estratégias de gestão de crédito para enfrentar os desafios futuros e reduzir as perdas por incobráveis. Por outro lado, os consumidores devem ter um comportamento responsável nas suas compras e aquisições de bens”.
Apesar das famílias portuguesas reconhecerem e identificarem o aumento da inflação, permanece a incerteza generalizada sobre como é que este fator influenciará o orçamento das famílias. De acordo com o estudo da Intrum, apenas 64% dos inquiridos entendem como o seu dinheiro seria afetado se a inflação fosse maior do que a taxa de juros sobre a poupança.
Ainda no contexto de crescimento da inflação, o ECPR revela que 40% dos portugueses afirmam que, após o pagamento das contas, sobra menos de 10% do seu rendimento, sendo provável que muitos tenham dificuldades em suportar um aumento geral nos preços. A média europeia situa-se nos 23%.
Por grupos etários, as gerações mais jovens são as que revelam menos interesse em saber o valor total das suas obrigações financeiras. Dos inquiridos portugueses, a geração Z (18 aos 21 anos) destaca-se com 23%, praticamente o dobro do grupo etário dos 22 aos 37 anos, com 12%.
Por fim, 70% dos portugueses admitem estar preocupados que as taxas de juro elevadas do seu país possam ter um impacto negativo no seu bem-estar financeiro. Valor significativamente superior quando comparado com a média europeia (48%).