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São as unidades móveis da Cruz Vermelha Portuguesa que vão testar se funcionários e idosos dos lares de Lisboa têm infeção. Depois, será recolhida uma amostra para análise ao novo coronavírus. Chama-se "triagem smart" e começa esta terça-feira.
A Residência Pratinha, em Famalicão, foi dos primeiros lares onde se detetou a presença de covid-19, tendo recebido, então, uma equipa do INEM para a recolha de amostras para análise. © Miguel Pereira/Global Imagens
Os anunciados testes ao covid-19 nos lares de terceira idade vão começar por Lisboa e terão um formato diferente do habitual. Haverá uma primeira triagem rápida, feita pela Cruz Vermelha Portuguesa, e só depois de detetada uma infeção avançar-se-á para um teste mais específico à covid-19 fornecido pelo Insituto de Medicina Molecular. É o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) que centraliza toda a informação sobre este processo, embora o gabinete da ministra Ana Mendes Godinho não tenha respondido às perguntas do DN.
A medida anunciada pelo governo resulta de um protocolo com o Instituto de Medicina Molecular (IMM), que anunciou ter uma capacidade para a realização de 300 testes por dia, e da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), que irá deslocar-se às residências seniores e fará as zaragatoas para a recolha das primeiras amostras. Começam, para já, na Grande Lisboa, estendendo-se posteriormente a Aveiro, Évora, Guarda e Faro. O primeiro-ministro afirmou que o objetivo é alargar os testes a todo o país na próxima semana.
António Costa sublinhou que tal objetivo será alcançado com "o esforço", das universidades e politécnicos. Terá sido essa a razão pela qual os testes vão começar em Lisboa, Aveiro, Évora, Guarda e Faro, onde estão os centros de investigação que se disponibilizaram para fazer as análises ao vírus. Nesse sentido, estabeleceram-se já acordos com as universidades de Aveiro, da Beira Interior e do Algarve, além da Nova de Lisboa (IMM).
A diretora do IMM, Maria Manuel Mota, disse ao DN que têm capacidade para realizar dez mil no total, mas que nem todos se destinarão aos lares, uma vez que há outros acordos. O trabalho com a CVP estende-se às suas unidades de saúde, cujas análises já estão a ser feitas pelo instituto.
Nesta terça-feira, às 17.30, será feito o lançamento da "triagem smart" no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, com testes rápidos e que levam oito a dez minutos a obter um resultado. "É uma análise bioquímica e, nos casos em que há alterações (infeção), só a esses, faremos uma zaragatoa para o diagnóstico molecular da presença do vírus, cujas análises serão feitas pelo laboratório de biologia do IMM", explicou ao DN o diretor da CVP, Francisco George.
Adiantou que o programa de testes em lares arranca logo após o lançamento daquelas unidades móveis, onde se espera a presença dos ministros Ana Mendes Godinho e Manuel Heitor. Uma unidade móvel irá para o lar, entretanto indicado pelo MTSSS. Numa primeira fase, os técnicos da Cruz Vermelha apenas irão aos lares da Grande Lisboa.
Uma segunda unidade ficará junto ao hospital, para receber os utentes que, através da aplicação "triagem smart" e do preenchimento de um questionário, poderão fazer a mesma triagem.
94 mil utentes vivem em instituições públicas e privadas.
Sérgio Cintra, responsável da Ação Social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), ainda não teve qualquer indicação sobre a realização de testes aos utentes que apoiam: 497 pessoas nas 13 residências seniores da instituição e 1512 que estão em outras Instituições. "A indicação que temos é que, nesta primeira fase, os testes são canalizados para os locais onde há evidência de contaminação, para acautelar quem precisa de cuidados médicos e que deverá ser separado dos restantes. E nós, felizmente, não temos nenhum caso."
A SCML criou em finais de fevereiro um plano de contingência, com a implementação de medidas de higiene e o uso de equipamentos de proteção, além da disponibilização de quartos que permitem o isolamento dos utentes contaminados pelo vírus.
O relatório da Carta Social de 2018 indicava a existência de 94 067 residentes em lares, distribuídos por 1704 unidades apoiadas pela Segurança Social e 717 equipamentos privados. O objetivo é que, aos dez mil testes disponibilizados ao longo dos próximos meses pelo IMM, se juntem os de outros centros de investigação, seguindo os mesmos protocolos do Instituto da Universidade Nova de Lisboa.
O padre Lino Maia, que preside à Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade, em coordenação com os representantes das cooperativas, misericórdias e associações mutualistas, pediram ao MTSSS para ser informados da calendarização dos testes. "Numa primeira fase, serão examinados os locais onde existam suspeitas de covid-19, segundo uma ordem definida pela da Segurança Social. Penso que este será o método adequado", defendeu.
Também João Ferreira Almeida, diretor da Associação de Lares para Idosos, aceita aquele método, salientando que apenas têm conhecimento de três casos do SARS-Cov-2 em estabelecimentos privados.