3.3.22

Sistema de saúde: lições de uma pandemia

Vasco Antunes Pereira, opinião, in DN

No final do ano passado o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou os resultados provisórios dos Censos 2021, evidenciando um aumento expressivo da população idosa e um decréscimo da população jovem em todas as regiões de Portugal. Segundo o INE, existem 182 idosos por cada 100 jovens, quase o dobro do início do século.

A crise da pirâmide etária não é uma novidade, mas constitui, cada vez mais, um sinal de alarme para toda a sociedade. É urgente fazer escolhas que promovam o envelhecimento ativo e saudável e garantam o acesso adequado aos serviços de saúde. A responsabilidade pelas atuais e futuras gerações de idosos deve ser uma prioridade política e um compromisso individual e coletivo.

Dois anos depois do início da pandemia, com um Plano de Recuperação e Resiliência que prevê investimentos de 1,4 mil milhões de euros no setor da saúde, Portugal tem uma oportunidade única para fazer as escolhas certas ou continuar a ser um País envelhecido e com agravadas dificuldades no financiamento das pensões e do Serviço Nacional de Saúde.

Quando finalmente se vislumbra a passagem à fase da endemia, há uma grande lição que não pode ser esquecida: os grupos privados de saúde deixaram mais claro do que nunca o seu contributo indelével para fazer face a uma emergência nacional que não respeitou a fronteira administrativa público-privado.

Necessitamos de um único sistema de saúde a servir os portugueses e com capacidade para responder ao desafio de melhorar o acesso, a eficiência e a eficácia. É uma das ferramentas mais importantes para trilhar um caminho equitativo, sustentável e inclusivo.

Um sistema centrado no doente e nos seus interesses e necessidades, alinhado com as alterações demográficas e epidemiológicas do País, que acelere a mudança de paradigma em curso, de "cuidados" para "saúde e bem-estar".

Um sistema que promova a colaboração mais efetiva entre todos os agentes do setor, retire o máximo proveito da inovação e da transformação digital e invista em literacia.

Só este modelo colaborativo e integrado, que privilegie o País em detrimento de extremismos ideológicos e da diabolização do setor privado, pode responder à inevitabilidade de uma reinvenção nacional.

Vasco Antunes Pereira, CEO da Lusíadas Saúde