por Mariana Branco, in Sábado
Grande parte das pessoas nesta situação são espanhóis, adultos, com trabalho e com um nível de educação médio ou alto. "Acreditamos que é preciso passar fome para ser pobre, e não é necessariamente assim", disse o sociólogo Juan Carlos Llano.
Em Espanha, mais de um milhão de licenciados está em risco de pobreza, um aumento de 320 mil pessoas nos últimos anos, revela um estudo apresentado esta terça-feira pela Rede Europeia de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social no Estado Espanhol (EAPN) e avançado pelo El País. Segundo o jornal, a saída da crise redefiniu o perfil das pessoas pobres – em 2017, 35,8% de maiores de 16 anos com níveis de estudo médios ou elevados encontravam-se nestas circunstâncias.
"Passei muitas noites sem dormir pela angústia", contou ao jornal uma mulher de 52 anos, de Madrid. Engenheira de sistemas informáticos, trabalhou a vida toda nos Estados Unidos. No entanto, em 2006, regressou a Espanha. Desde 2016, altura em que foi despedida da empresa onde trabalhava, que não sabe arranjou uma solução. "Mandei mais de 500 currículos. Nestes dois anos aguentei-me com o dinheiro da indemnização, mas as poupanças acabaram". Inscreveu-se num programa de ajuda de procura de emprego e em Setembro conseguiu trabalho. Mas continua a viver no limite.
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No ano passado, 26,6% da população espanhola encontrava-se em risco de pobreza ou exclusão social – o equivalente a 12,4 milhões de pessoas.
O estudo traça, ainda, o perfil dos pobres em Espanha – sendo que grande parte das pessoas nesta situação são espanhóis, adultos, com trabalho e com um nível de educação médio ou alto. "Acreditamos que é preciso passar fome para ser pobre, e não é necessariamente assim", disse o sociólogo Juan Carlos Llano, responsável pelo estudo. "Primeiro educaram-nos para acreditar que ter emprego era suficiente para não cair na pobreza. Vimos que não é assim. Na verdade, mais de 30% das pessoas pobre tem trabalho. Depois acreditámos que bastava a universidade para poder ter uma vida decente, e também não", criticou. "A precariedade causa estragos. Não alcança só trabalhos menos qualificados, vai subindo de nível e chega a grupos que acreditavam estar livres disto".