in a Voz de Trás-os-Montes
As políticas públicas de emprego foram hoje criticadas, em Bragança, por serem entendidas como destinadas a servirem apenas as estatísticas de diminuição de desemprego e aproveitadas por empresas e instituições para mão-de-obra barata.
A crítica foi assumida por Ivone Florêncio, responsável pelo Núcleo Distrital de Bragança da Rede Europeia Anti-pobreza (EAPN) durante um debate promovido por esta organização para assinalar o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.
O tema do debate foi as "Fragilidades do Mercado de Trabalho Local - Desencontros entre a oferta e a procura” e, no entender daquela dirigente, a principal causa do desfasamento que existe é precisamente a forma como estão pensadas as políticas ativas de emprego.
“As medidas dão prioridade a pessoas que estão a receber subsídios como o de desemprego e RSI (Rendimento Social de Inserção) e essas pessoas dificilmente aceitam ir trabalhar porque já têm uma prestação, é um direito que elas têm e ao irem trabalhar em nada lhe vai ser compensatório relativamente ao que auferem”, afirmou.
Colocar um desempregado que está a receber subsídio a trabalhar não lhe vai modificar, como considerou, a situação de pobreza em que se encontra, nem garantir que vai ficar a trabalhar”
“A única coisa que vão estar é a trabalhar durante algum tempo afetas a uma instituição, a receber pouco mais do que o que receberiam estando em casa, fazendo as contas se calhar ainda vão receber menos com os custos que implica”, acrescentou.
Acresce ainda, segundo Ivone Florêncio, que “a maior parte das instituições querem pessoas que estejam a receber esses apoios porque lhe fica mais barato, ao centro de Emprego interessa-lhe colocar essas pessoas porque ao irem trabalhar deixam de contar para as estatísticas (do desemprego)”.
“Mas no fundo nem estão a contribuir para a empregabilidade, porque acabando a medida a pessoa volta a ficar desempregada, a instituição volta a ir buscar outra na mesma situação e temos aqui um ciclo”, observou.
Para esta técnica, “quem nunca trabalhou nem por aí consegue estar no mercado de trabalho porque nunca lhe dão essa oportunidade” e “o mesmo acontece com os estágios profissionais para recém-licenciados”.
E os baixos salários, reduzidos ao Salário Mínimo Nacional, são apontados também como a causa do desfasamento entre as ofertas de emprego existentes e que ficam vagas na região e a procura de trabalho por parte de desempregados.
“O ordenado mínimo nacional, apesar dos aumentos que tem tido, não é suficiente para as pessoas conseguirem ter uma vida livre de pobreza e de exclusão social.
Por alguma razão é que nós (em Portugal) temos uma percentagem tão grande de trabalhadores a viver na pobreza, um em cada dez”, indicou.
Feitas as contas, “o rendimento auferido não é o suficiente para fazer face às despesas diárias que o trabalho implica”, além das despesas familiares agravadas em regiões com o clima de Bragança pelos gastos em aquecimento no inverno.
“Um dos problemas do nosso mercado de trabalho é, além de o trabalho ser precário e não garantir estabilidade é o fraco rendimento que proporciona”, reiterou.
De acordo com Ivone Florêncio, na região não há estatísticas nem estudos de análise sobre estas questões, embora as entidades locais entendam que “o panorama vai muito ao encontro ao nacional: há uma desadequação entre as exigências das empresas e as qualificações das pessoas que estão disponíveis para trabalhar”.