13.6.22

"O que importa é pôr comida no prato das pessoas". A crise de cereais deve levar a Europa adotar medidas excecionais?

Paula Santos, in Expresso

Há cerca de 24 milhões de toneladas de cereais sem escoamento na Ucrânia, na sequência de uma guerra que se prolonga no tempo e que não tem data-limite à vista. E que, mesmo que se resolva, já deixou marcas que vão demorar a serem corrigidas. O tema está em destaque na rubrica Economia dia-a-dia e conta com a análise do jornalista do Expresso Vitor Andrade e de Jaime Piçarra, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos, IACA

Há uma frase do ministro italiano dos Negócios Estrangeiros a marcar a semana e que define o atual momento que se vive com a crise de cereais: "Começou a guerra mundial do pão". Mais do que uma definição nova, a ideia, para Jaime Piçarra da IACA, é marcar uma posição política e fazer o retrato de uma realidade para a qual faltam respostas. E o problema é que não há soluções evidentes à vista, quando não se antecipa o desfecho da guerra.

Os países procuram mercados alternativos para se abastecerem e, no caso português, é do Brasil (como escrevemos na edição do Expresso esta semana) que chegam as maiores encomendas e a rota que substitui a Ucrânia. O que levanta outras questões, sublinha Jaime Piçarra. Ao contrário do que sucede na Europa onde as campanhas dos cereais estão condicionadas por diversas limitações impostas em nome da sustentabilidade, no Brasil e no resto do continente americano, há uma maior flexibilidade dos limites máximos de resíduos permitidos na agricultura o que resulta numa maior e mais eficaz produtividade da terra. Modificar esses limites na Europa não será um retrocesso grave em questões ambientais? É tudo uma questão de equilíbrios e de adaptar a avaliação às necessidades de cada momento, sublinha Vítor Andrade, para quem "em situações excecionais, a Europa deve pensar em medidas excecionais", quando "o que importa é pôr comida no prato das pessoas".

Se é certo que é o abastecimento global que está em causa, não é menos evidente que, em caso de escassez, os países mais pobres vão ser os mais atingidos porque os mais ricos vão ter de pagar mais, mas nem por isso perder o acesso ao abastecimento. A discussão sobre as soluções para o problema ainda mal começou.