18.7.22

Morre-se demais em Portugal. De quem é a culpa?

Henrique Raposo, opinião, in Público

Eu percebo que não queriam discutir isto, porque estas mortes resultam do radicalismo do #ficaremcasa e do radicalismo socialista na saúde, mas não há como fugir ao facto: neste momento, morre-se demais em Portugal e há culpados

Portugal tornou-se no país europeu com o pior excesso de mortalidade, quase o triplo da média da UE (sim, triplo). São dados da Eurostat. Será que podemos discutir isto? Será que podemos reconhecer que há algo de profundamente errado na forma como a gestão da saúde está a ser feita neste momento? O problema da saúde vai muito além das urgências obstétricas. Bebés por nascer sem atendimento adequado é um cenário triste, sem dúvida, mas não é menos triste do que mortes evitáveis que não estamos a evitar por inoperância e erros. Porque é isso que se passa neste momento: não estamos a evitar mortes evitáveis.

Pelos dados revelados pelo próprio ministério, nós estamos em acentuado excesso de mortalidade desde Maio. Junho foi um desastre, o pior Junho desde 1980. Se cruzarmos os dados da mortalidade geral com os dados da mortalidade infantil, ficamos com um quadro negro: porque é que estamos a perder os indicadores europeus que conquistámos nas últimas décadas?

Como bem ilustrou uma peça da Renascença, este Junho foi o pior em mais de quatro décadas e, neste momento, caminhamos para um Julho igualmente dramático. A média de mortes em Julho na última década ronda os 250/260. Mas, no dia 14, tivemos 440 mortes, é quase o dobro. O cenário repetiu-se no dia seguinte, 415 mortos. Antes e já depois, tivemos dias muito perto dos 400. E por favor não tentem tapar a história com a onda de calor. Em Maio e Junho não tivemos ondas de calor, mas tivemos dias com mais de 400 mortos, números anormais para esta altura do ano. E nos últimos dez anos, também tivemos dias com ondas de calor acima dos 40 graus. Dias com 40 graus não são novidade em Portugal.

Eu percebo que não queriam discutir isto, porque estas mortes resultam do radicalismo do #ficaremcasa e do radicalismo socialista na saúde, mas não há como fugir ao facto: neste momento, morre-se demais em Portugal e há culpados, a saber: quem reduziu a realidade inteira a um único indicador (covid), esquecendo todos os outros, a começar nas outras doenças, que, sem vigilância adequada, mataram e continuarão a matar uma população demasiado envelhecida; quem destruiu PPP na saúde contra factos e números, apenas e só por ódio ideológico.

Infelizmente, como mostra o fracasso destas duas escolhas tão "populares", esta história vai permanecer mais ou menos escondida.