18.7.22

É preciso ajudar quem perdeu tudo!

Felisbela Lopes, opinião, in JN

Mais do que as contas à área ardida, interessa-me sobretudo outro balanço: saber o que perderam aqueles que viram os seus únicos bens engolidos pelas chamas e que não têm substanciais meios de subsistência. Há um Portugal pobre que, por estes dias, empobreceu ainda mais. E que, por isso, precisa de ajuda.Na quarta-feira, parte da Quinta do Lago foi fustigada pelas chamas que ameaçaram violentamente abastadas moradias. 

Nas imediações das casas, viam-se sobretudo bombeiros. Os repórteres iam dizendo que os donos das casas haviam abandonado o local, alguns em direção a hotéis. Cenário muito diferente se vê nas aldeias do Portugal profundo em chamas onde a povoação se une em defesa do pouco que tem. Porque está ali o património de uma vida toda. Que é preciso defender a todo o custo.

São de uma enorme violência os depoimentos que os jornalistas vão recolhendo daqueles que perderam bens por incêndios impossíveis de controlar. Mas é importante ouvi-los com atenção. Porque essa gente fala-nos a partir de territórios esquecidos, onde não chega uma economia em franca aceleração, nem sequer aí se discutem fundos europeus vocacionados para aplanar assimetrias. Aqueles que dizem que perderam tudo são pessoas simples, impreparadas para encenações oportunistas no espaço público mediático. Falam com os jornalistas como quem fala com um conterrâneo, partilhando desabafos arrancados de uma alma num desalento que ninguém pode afagar.

Com aquilo que aprendemos com a ajuda aos incêndios de 2017, precisamos de pôr em marcha um plano de recuperação das zonas mais afetadas, que vá ao encontro dos mais desprotegidos, atendendo de forma particular aos idosos que, perante estas inesperadas perdas, ficam sem meios para qualquer recomeço.

Uma palavra de reconhecimento aos bombeiros e a todos aqueles que têm estado nas frentes de combate. Com temperaturas impossíveis de aguentar em contextos de alguma normalidade, custa imaginar como é possível enfrentar violentas chamas. Mas há gente que não vira costas.

Pelo seu lado, os jornalistas têm procurado fazer uma cobertura exaustiva deste inferno que reapareceu com temperaturas inimagináveis. Talvez fosse aconselhável interpelar menos aqueles que estão em pânico ou aqueles a quem cabe a tarefa de coordenar no terreno os trabalhos de combate aos incêndios. Todavia, reconhece-se o esforço em dotar o jornalismo que aí se faz de interesse público. Porque, de facto, este Portugal em chamas é um problema de todos.