6.9.19

A viver do RSI, extorquiam vítimas a quem concediam empréstimos

Alexandre Panda e Roberto Bessa Moreira, in JN

Um casal de desempregados e a viver apenas do rendimento social de inserção montou um esquema para conceder empréstimos com juros avultados a pessoas a atravessar dificuldades financeiras.
Ele, U. F., de 45 anos, e ela, J. M., 43, residentes no Bairro do Lagarteiro, no Porto, também extorquiam as vítimas, recorrendo a ameaças de rapto e morte para cobrar as quantias exigidas. Num dos casos, a dona de uma frutaria pagou cerca de 5500 euros por um empréstimo de 500 euros.

O casal vai a julgamento no Tribunal de S. João Novo, no Porto, responder pelo crime de extorsão.

Uma da vítimas foi uma comerciante da cidade do Porto, que pediu 500 euros emprestados com o intuito de expandir o negócio de venda de fruta. A mulher aceitou, em agosto de 2016, pagar 300 euros de juros, mas logo que foi levantar o dinheiro só recebeu parte desse valor. Duzentos euros, foi-lhe dito, ficaram retidos como pagamento antecipado de juros. Nos dois meses seguintes, a comerciante pagou 600 euros e quando se preparava para liquidar a dívida foi informada que teria de pagar 300 euros mensais até abril de 2017. Afinal, explicaram os agiotas, os 300 euros de juros eram válidos, apenas e, só se o valor do empréstimo fosse devolvido logo no final do mês seguinte ao acordo.

A comerciante começou por recusar pagar, mas mudou de ideias após ter sido ameaçada. O casal também lhe comunicou que estava ao serviço de uma "máfia", cujos elementos facilmente lhe invadiam a casa para raptar o filho. Com medo, a vítima pediu dinheiro emprestado a familiares e amigos para poder suportar as quantias exigidas. Acabou por encerrar o negócio
Quando ficou sem dinheiro, fugiu de casa, refugiu-se na habitação dos sogros e deixou, tal como o marido, de comparecer no emprego com medo de ser atacada.

Pormenores
Ameaças ao marido
Quando a comerciante deixou de pagar as quantias reclamadas, o casal exigiu ao seu marido e aos pais que assumissem a dívida.
Dívidas de amigas
Os agiotas também exigiam que a comerciante pagasse o dinheiro emprestado a amigas desta. Alegava que a mulher tinha sido intermediária no negócio.