Francisco Sarsfield Cabral, in RR
O mundo está menos desigual, graças ao crescimento económico dos países emergentes. Mas as desigualdades acentuam-se no interior dos países ricos.
Predomina o pessimismo sobre a evolução da economia mundial. A guerra comercial desencadeada por Trump cria incerteza, o que trava a iniciativa privada e o investimento empresarial. E as alterações climáticas começam a apresentar uma fatura pesada, não só na Amazónia.
O presidente Macron, anfitrião da cimeira do G7 em Biarritz, fala de um “capitalismo doente” e apela ao regresso a uma “economia social de mercado”, rejeitando “a apropriação das riquezas por apenas alguns”. Ou seja, trata-se das crescentes desigualdades económicas.
À margem do G7, a consultora McKinsey apresentou um estudo sobre desigualdades de riqueza. A conclusão é que o mundo está menos desigual, graças ao crescimento económico dos chamados países emergentes. Inversamente, entre 2000 e 2014 a parte da riqueza mundial captada pelos países mais desenvolvidos desceu de 80% para 71%. Os países mais pobres estabilizaram, passando de 6% para 7% da riqueza mundial.
Mas no interior dos países ricos as desigualdades acentuaram-se e muito. Segundo a McKinsey, nos países da OCDE, em 1980, as famílias que integravam 1% das mais ricas absorviam 6% do rendimento total. Em 2014 absorviam quase o dobro, 11%.
Estes números referem-se a rendimentos antes de impostos. Ora os impostos e as transferências sociais contribuíram muito para atenuar o crescente desequilíbrio de riqueza. Em França, por exemplo, a redistribuição de rendimentos baixou a taxa de pobreza para 8%; sem essa redistribuição atingiria 37%.
Por isso, acrescento da minha parte, não faz sentido regressar a propostas que estiveram em voga nos anos 80 do século passado, como a “flat tax” – um imposto com uma percentagem igual para todos, ricos e pobres. Um imposto regressivo, portanto.
A McKinsey considera, e bem, que não basta o crescimento económico e que novas intervenções do Estado são necessárias para lutar contra as desigualdades. Políticas sociais na saúde e na educação, por exemplo. Pena é que nos EUA estas ideias não sejam postas em prática por quem manda, por muito que Trump seja apoiado pelas vítimas do progresso.