Rui Pedro Paiva, in Público on-line
Sofia, Leonor, Catarina, Adriana e Margarida são as cinco embaixadoras de carreiras da União Europeia em Portugal. A missão delas é descomplicar as candidaturas, divulgar as oportunidades de trabalho em diversas instituições e, pelo meio, aproximar os jovens do projecto europeu.
Estima-se que pelo menos 46 mil pessoas trabalham na União Europeia (UE), divididas por agências, instituições e organismos. A lista inclui, entre outros órgãos, o Parlamento e o Conselho Europeu, a Comissão Europeia, o Tribunal de Justiça, o Comité Económico e Social e a Autoridade Europeia para a Protecção de Dados. Só de ler, provavelmente já te aborreceste (e a lista até foi reduzida para poupar bocejos). A maioria das pessoas, mesmo que interessadas em trabalhar nessas entidades, desiste ao pensar na existência de penosos processos burocráticos ou na necessidade de fazer carreira política vinculada a algum partido para conseguir ter um lugar. Desengana-te. Pelo menos, é o que garantem as embaixadoras de carreiras da UE em Portugal. A missão delas é descomplicar e mostrar as diferentes oportunidades de trabalho e estágio disponíveis. Em todas as áreas e para toda a gente.
Em Portugal, existem cinco embaixadoras. Todas mulheres, jovens e universitárias – quase licenciadas. “O nosso papel é descomplicar e desmistificar. Eu própria pensava que quem trabalha na EU ou tinha filiação partidária ou era de Direito ou Ciência Política”, diz ao P3 a embaixadora Adriana Santo, de 22 anos, natural de Leiria. É finalista de Matemática Aplicada à Economia e Gestão, no Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, e “não fazia ideia” de que na UE havia lugar para “imensas áreas”: “A União Europeia é como uma mega-empresa que gere países, portanto há mesmo lugar para todos”, compara.
Caso disso é Catarina Hoosseni, de 22 anos, outra das embaixadoras: “Muita gente pensa que a UE é só política e por isso descarta logo [esta oportunidade de trabalho], mas eu, por exemplo, estou numa faculdade de ciências”. Frequenta o último ano do mestrado integrado em Engenharia Biomédica e Biofísica na Universidade de Lisboa e assegura que nos vários organismos europeus existem oportunidades para diferentes áreas e, até, formações —“com e sem curso superior e com e sem experiência profissional”. Com vantagens como trabalhar “noutros países”, num “ambiente multicultural”, para uma instituição “onde tudo funciona bastante bem”, com “eficácia e rigor”. “Queremos mesmo é desmistificar alguns mitos e teorias pré-concebidas sobre a UE”.
Para isso, são presença habituais em feiras de emprego, organizam sessões de esclarecimento, vão a universidades e escolas e apostam na comunicação nas redes sociais, onde podem sempre ser contactadas. “Nós as cinco temos uma estratégia coordenada”, destaca a lisboeta Leonor Farmhouse, de 20 anos, que estuda Economia na Universidade Nova. Assim, estão em permanente contacto com o Serviço Europeu de Selecção de Pessoal (EPSO) e com o Instituto Jacques Delors para estarem actualizadas quanto às oportunidades existentes.
Faltam portugueses a trabalhar na UE
Segundo outra embaixadora, Sofia Pais, de Santa Maria da Feira, existe uma “sub-representação de portugueses”, quer a trabalhar nos organismos europeus, quer a candidatar-se a ofertas de emprego e estágio. No final de Setembro, as cinco jovens portuguesas foram a Bruxelas para uma reunião onde estiveram presentes os cerca de 170 embaixadores de carreiras da UE, que estão distribuídos pelos vários países membros. “Aí foi-nos dito que ou os portugueses não se querem candidatar ou não sabem que se podem candidatar”, explica a jovem de 21 anos, finalista do curso de Direito na Universidade do Porto, para depois concluir: “É isso que queremos mudar.”
Esperam ainda, aponta Catarina, diminuir a distância entre “os jovens e o projecto europeu”. Uma aproximação necessária tendo em conta a abstenção de 68,6% (a mais elevada de sempre em Portugal) nas eleições europeias deste ano e as “inúmeras vantagens de pertencer” à UE. “Hoje em dia vamos a qualquer lado, temos o programa Erasmus, temos a moeda única”, exemplifica Adriana, considerando que são proveitos “tão banais actualmente” que muitas pessoas “acabam por não lhes dar o devido valor”. E que se mantêm mesmo com a UE a atravessar uma “crise”, diz a embaixadora Margarida Nogueira, de 21 anos, natural de Santarém. A estudante, no último ano de Direito na Universidade Católica, em Lisboa, defende que cabe aos mais novos ajudar a “reformular” o projecto europeu e garante que a sua geração está disponível para isso: “Os jovens da minha idade estão dispostos a lutar pela Europa, beneficiam tanto que já não sabem viver sem a União Europeia.”
O projecto europeu pode vir a ser uma das “causas” desta geração. Uma geração que não é “desinteressada” (como demonstram as várias Greves Climáticas), apenas não se “cativa pelo discurso político actual”, acredita Sofia, que em tempos foi a mais jovem autarca do país. “É preciso revigorar o discurso político, é importante fazer política de forma diferente”, diz, até olhando para a recente ascensão dos populismos e da extrema-direita. Uma tendência para a qual não há “fórmulas mágicas”, mas exige uma reflexão de todos, incluindo dos jovens, porque é um “problema de todos”. E, na sua opinião, um dos caminhos passa, precisamente, por envolver os jovens na “tomada de decisões” em vez de se ficar apenas pela “aparência”. “Muitas vezes (os políticos) dizem que dão vozes aos jovens, até se reúnem connosco, mas nos momentos importantes, os jovens não estão lá”, critica.
Esta geração, sublinha Margarida, quer “ter um propósito, quer ver o impacto no quotidiano” e “não se sentir como um número”. “Não é tanto fazer política partidária, é mais contribuir para a política”. E também por isso pode ser interessante começar uma carreira na União Europeia. “Ao trabalhar na UE estamos a ter um propósito e acho que é uma das maiores motivações que alguém pode ter no trabalho: contribuir para o bem comum, para a Europa e para o nosso futuro”. E os jovens querem fazer parte disso. Do próprio futuro.