Sónia Bexiga, in Executive Digest
O Índice de Bem-estar (IBE) da população portuguesa evoluiu positivamente entre 2004 e 2019, tendo registado uma inflexão em 2007, 2008 e em 2012. Recuperou no ano seguinte, estimando-se uma continuação de crescimento para 2019, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgados esta terça-feira.Dos dez domínios que integram o IBE, a Segurança pessoal, a Educação, conhecimento e competências e o Bem-estar económico, são os que apresentaram uma evolução mais favorável no período analisado.
Inversamente, o domínio do Emprego foi o que apresentou evolução mais desfavorável, embora tenha vindo a recuperar continuamente desde 2013. A evolução mais recente dos dez domínios, permite concluir que entre 2014 e 2019, nove de entre eles apresentaram uma evolução positiva.
O IBE reflete a evolução do bem-estar da população recorrendo a dez índices sintéticos. Estes índices traduzem duas perspetivas de análise: Condições materiais de vida e Qualidade de vida.
Entre 2007 e 2008, e entre 2010 e 2013 estes dois índices evoluíram em sentidos opostos. No primeiro período as Condições materiais de vida evidenciam uma tendência crescente e a Qualidade de vida uma tendência decrescente, invertendo-se esta situação no segundo período. A partir de 2013 iniciaram uma evolução no mesmo sentido.
Segundo o INE, dos sete domínios que explicam o bem-estar em matéria de Qualidade de vida, quatro contribuíram destacadamente para a evolução globalmente positiva registada nesta perspetiva.
Em primeiro lugar, o domínio da Segurança pessoal, cujo índice desceu de 2006 a 2009, cresceu a partir desse ano, atingindo em 2016 o seu valor mais elevado, e decresceu ligeiramente a partir daí.
Em segundo, a Educação, conhecimento e competências cresceu continuamente no período em estudo, com a exceção apenas do ano 2012.
Em terceiro, o domínio da Saúde apresenta também uma evolução tendencialmente crescente do índice, apenas com uma quebra em 2014.
Por último, a evolução do índice relativo ao domínio do Ambiente recuou apenas em 2007 e manteve-se relativamente estável a partir de 2013. Trata-se do domínio que durante todo o período apresenta os valores mais elevados do índice, refletindo assim uma posição relevante de Portugal em termos internacionais.
Os índices relativos aos restantes domínios apresentaram evoluções inferiores ao desempenho global da perspetiva Qualidade de vida. Em termos de variação no período 2004-2019, os domínios Participação cívica e governação e Relações sociais e bem-estar subjetivo apresentam comportamentos semelhantes.
Já o domínio do Balanço vida-trabalho é o domínio pertencente à perspetiva da Qualidade de vida que menos cresce no período, mantendo-se relativamente estável sobretudo a partir de 2010.
No que diz respeito às Condições Materiais de Vida, o domínio Bem-estar económico apresentou um crescimento significativo até 2010, inverteu essa tendência até 2012 e iniciou uma recuperação desde então. É de relevar nesta recuperação a evolução favorável dos indicadores de desigualdade e concentração e da despesa de consumo final das famílias.
Estes indicadores e em menor grau o da avaliação subjetiva das condições materiais de vida são os que tiveram o comportamento mais favorável no período. Os indicadores relativos ao património foram não só os que tiveram a evolução mais contida, como também os que apresentaram durante o período valores mais baixos.
O domínio Emprego é a componente do bem-estar com evolução mais desfavorável, devido essencialmente à evolução da disparidade salarial entre homens e mulheres, a qual só muito recentemente tem diminuído, e do subemprego dos trabalhadores a tempo parcial. O indicador com evolução mais favorável, embora muito ligeira, foi o da proporção de pessoas que pensam ser provável ou muito provável perder o seu emprego nos seis meses seguintes. O índice deste domínio que decresceu continuamente até 2013, inverteu a tendência a partir desse ano, tendo-se projetado para 2019 a continuação desta melhoria.
O domínio Vulnerabilidade económica ocupa o segundo lugar dos que apresentam a evolução mais desfavorável ao longo do período em estudo, refletindo a progressiva vulnerabilidade das famílias induzida pelo afastamento das mesmas do mercado de trabalho e pela intensificação da dificuldade em pagar os compromissos assumidos com a habitação. A generalidade dos indicadores decresceu de forma menos pronunciada até 2010, e de forma abrupta nos três anos seguintes. No entanto, registaram-se evoluções positivas a partir de 2014, devidas sobretudo à redução da taxa de privação
material, da taxa de intensidade de pobreza e da intensidade laboral muito reduzida. A partir desse ano, todos os indicadores deste domínio apresentaram uma evolução favorável.
A Segurança pessoal permanece o domínio com evolução positiva mais pronunciada entre os dez índices constituintes do IBE. A variação deste domínio permite observar três fases distintas: uma evolução positiva inicial até 2007, uma segunda fase de relativa estabilidade entre 2007 e 2010 e finalmente, a partir de 2010 e até 2016, um crescimento contínuo. Em 2017 verificou-se uma quebra projetando-se uma ligeira recuperação em 2019. Todos os indicadores apresentam uma evolução positiva. Salientam-se os indicadores relativos à mortalidade em acidentes com veículos a motor e com
menor relevo, o indicador de confiança na polícia, e da taxa de homicídio. Igualmente, deve ser relevada a importância do
indicador relativo à criminalidade, o qual assume valores muito elevados ao longo do período, contribuindo assim para valores mais elevados do índice de Segurança pessoal.
Estima-se que o domínio da Saúde, ocupe o terceiro lugar relativamente aos sete domínios que constituem a perspetiva da Qualidade de vida, em termos de evolução favorável, no período 2004-2019. Esta evolução foi muito acentuada até 2006, mais suave desse ano até 2013, e com uma descida mais acentuada em 2014 (devida sobretudo à evolução negativa da população que refere limitação na realização de atividades habituais devido a um problema de saúde prolongado e
da esperança de vida em saúde), voltou a crescer suavemente a partir daí. A esperança de vida, a mortalidade por doenças do aparelho circulatório, a avaliação positiva os serviços de saúde e a taxa de mortalidade infantil foram os indicadores que
apresentaram uma evolução superior à do índice de domínio.
Balanço vida-trabalho. A capacidade de conciliação entre o tempo dedicado ao trabalho e a outras vertentes da vida pessoal, como a família, os amigos ou o lazer em geral, é um importante fator de caraterização do bem-estar. A conciliação vida-trabalho apresentou uma evolução positiva durante o período, mais pronunciada até 2010. A partir deste ano tem vindo a diminuir ligeiramente. Esta diminuição recente resulta do movimento de sentido oposto dos seguintes indicadores: da evolução desfavorável do índice de realização de atividades de apoio familiar e o da conciliação do trabalho com as responsabilidades familiares; este desenvolvimento não foi suficientemente compensado pela evolução positiva do índice de autoapreciação do tempo empregue nos contactos familiares ou outros e em atividades de lazer e pelo índice de satisfação com o trabalho, vida familiar e social.
O domínio da Educação foi a componente do bem-estar com o segundo melhor desempenho. Este índice teve uma evolução positiva durante todos os anos do período, com exceção de um pequeno decréscimo em 2012. A evolução do indicador do abandono precoce de educação e formação é a principal responsável pelo andamento positivo do índice, coadjuvada a partir de 2013 pelas evoluções igualmente positivas da taxa de jovens não empregados que não estão em educação ou formação e pelo índice de consumos culturais. Devem também ser assinalados, pela sua evolução positiva, os
indicadores relativos às publicações científicas e à proporção de pessoas (30-34 anos) com nível de escolaridade completo correspondente ao ensino superior e do número médio de anos de escolaridade completa da população ativa.
A variação do índice no período 2004-2019, no domínio das Relações sociais e bem-estar subjetivo, foi positiva, embora com oscilações (decréscimo entre 2006 e 2008 e 2012 e 2014). A variação favorável registada a partir de 2014 deve-se sobretudo à evolução do grau de felicidade e da satisfação com a vida em geral. Independentemente da análise da sua contribuição para a evolução do índice, sublinhe-se os valores praticamente sempre reduzidos do índice de confiança
interpessoal e os valores sempre elevados dos relacionamentos com familiares, amigos ou colegas de
trabalho.
Participação cívica e governação. Este domínio decresce duma forma suave até 2010 e cresce a partir daí, mais pronunciadamente a partir de 2012. Esta evolução positiva, posterior a 2012, resulta sobretudo do índice de participação em atividades públicas e do grau de interesse pela política. Deve também ser evidenciado o índice de governação
que assume quase sempre no período, valores mais elevados do que os dos restantes indicadores. Uma nota negativa para o índice de participação eleitoral que tem decrescido quase linearmente durante todo o período, assumindo no seu final valores mínimos por comparação com o grupo de países de referência.
O domínio do Ambiente apresenta uma evolução com tendência positiva e pequenas flutuações (um ligeiro decréscimo no ano de 2007 resultante da evolução negativa, nesse ano, de seis dos seus oito indicadores). O indicador com maior contributo na evolução positiva do índice foi a variação da população servida por estações de tratamento de águas residuais. Com contribuições positivas, embora menores, é possível apontar o caso da evolução dos indicadores praias com Bandeira Azul e população que reporta problemas de poluição, sujidade ou outros problemas ambientais na vizinhança da sua residência. Refiram-se por fim, os valores sempre muito elevados ao longo do período, dos indicadores relativos à água segura e total de emissões de gases com efeito de estufa.