5.7.22

Portugueses são os segundos da UE a sentir mais as consequências económicas da guerra

Diogo Queiroz de Andrade, in Expresso


Um Eurobarómetro especial mostra que Portugal é o segundo país onde mais se sentem as consequências económicas da guerra na Ucrânia, que a maioria dos europeus diz ainda não sentir. E só 49% assumem que a defesa da democracia e da liberdade tenha prioridade face à manutenção do nível de vida - contra 59% dos europeus

Os resultados revelam que, em geral, os portugueses estão mais preocupados com as consequências da guerra e consideram-se menos preparados que a média europeia. E os números também demonstram de forma bastante clara que os portugueses já estão a sentir o impacto no nível de vida, aumentando o seu pessimismo face ao futuro: 57% dos portugueses dizem já ter sentido os efeitos da guerra, contra apenas 40% dos europeus que dizem já ter sentido os efeitos.

E as consequências começam já a fazer-se sentir de uma forma mais profunda. À pergunta sobre se é mais importante defender os valores europeus ou manter o nível de vida, os portugueses distanciam-se novamente dos europeus: enquanto 59% dos europeus querem que a defesa da democracia e da liberdade tenham prioridade, apenas 49% de portugueses defendem o mesmo. E, quando perguntados sobre se a manutenção dos preços e do custo de vida deve ser uma prioridade mesmo que ponha em causa os valores comuns, 45% dos portugueses já concordam, contra 39% da média europeia.

E as preocupações nacionais ficam mais uma vez claras quando se lhes é perguntado quais devem ser as prioridades do Parlamento Europeu. Para os portugueses, a prioridade absoluta deve ser a luta contra a pobreza (66% contra uma média europeia de 37%), a defesa da saúde pública (53% contra 35%) e o apoio à economia e à criação de emprego (52% contra 30%). Henrique Burnay, consultor em assuntos europeus, refere que "estes resultados mostram que temos a perceção de que somos um país pobre, e que estamos mais preocupados do que esperançosos, o que não surpreende." E nota que o processo não está confinado a Portugal e “vai alastrar para o resto da Europa”, sendo que isso levanta outra questão, "que se prende com os instrumentos que serão usados para combater a crise, que podem agravar as assimetrias que já existem."

A imagem do Parlamento Europeu tem mais 3 pontos percentuais de perceção positiva do que no ano passado, sendo Portugal o terceiro país que tem melhor imagem da instituição - só atrás da Irlanda e de Malta. Outro aspeto interessante: a percentagem de portugueses que tem uma opinião positiva sobre a Rússia é 2%, muito menor do que a média europeia de 10%. A isto Burnay responde que "para um país que está geograficamente distante da guerra, mostra que os portugueses percebem o que está a acontecer e que tratam o assunto com a dignidade que ele merece. Em momentos de crise, as pessoas percebem que a Europa é importante e que é nela que estará a solução para os problemas."

Este Eurobarómetro é um especial do Parlamento Europeu na Primavera e é a primeira avaliação ponderada do sentimento dos Europeus face à guerra e aos sinais da crise económica que se instala em alguns setores. As entrevistas foram realizadas entre 19 de abril e 16 de maio, tendo sido recolhidos resultados de 26.580 europeus (entre os quais 1.006 portugueses).

Os resultados do Eurobarómetro especial do Parlamento Europeu revelam que os portugueses são dos primeiros a sentir as consequências da guerra e que, em consequência, se estão a distanciar dos restantes europeus no que toca às prioridades a considerar. Para os portugueses, dada a degradação económica, é mais importante proteger a qualidade de vida do que a promoção dos valores da democracia e da liberdade.