Rita Cipriano, in o Observador
O número de casos de suicídio registados pelo Instituto de Medicina Legal é o mais baixo dos últimos 15 anos. Desde 2007 que a contabilização não ficava abaixo dos mil.
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Em 2015, registaram-se 1.127 suicídios em Portugal, um valor muito superior ao do ano seguinte
Em 2016, registaram-se em Portugal 829 suicídios, de acordo com dados do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML), a que o Jornal de Notícias teve acesso. O valor é o mais baixo dos últimos 15 anos e é a primeira vez, desde 2006, que fica abaixo dos mil.
Em 2001, foram registados 754 suicídios em Portugal. O número subiu para 1.199 no ano seguinte, mantendo-se acima dos mil até 2004, altura em que voltou a sofrer uma quebra. Em 2007, foram contabilizadas 1.014 mortes por suicídio e, a partir desse ano, o registo do INML manteve-se sempre acima dos mil, atingindo o pico máximo em 2016, com 1.216 casos.
O número de suicídios em Portugal aumento exponencialmente na altura da crise, como revelou no início do ano passado um relatório da Direção Geral de Saúde (DGS). De acordo com o organismo, entre 2008 e 2012 a taxa de suicídio aumentou 22,6%, sendo que em 2012 a taxa rondava as 10 mortes por 100.000 habitantes. Apesar de “a presença do Fundo Monetário Internacional (FMI) por três vezes em Portugal, no ano de 2011″ ter trazido medidas de austeridade severas e consequentes cortes nos gastos dos cuidados em saúde e segurança social”, a DGS alertou na altura para o facto de não existirem “estudos com base na revisão bibliográfica realizada que comprovem a ligação entre a crise económica e a mortalidade por suicídio em Portugal”.
Carlos Braz Saraiva, psiquiatra e membro do Conselho Médico-Legal, disse ao Jornal de Notícias que os fatores externos têm obviamente “um grande peso” e que “o facto de as condições económicas terem melhorado, influencia”. Ainda assim, lembrou que “podem estar a escapar alguns números ao INML, pois é preciso que se façam mais autópsias psicológicas para destrinçar entre o que é acidente e o que é suicídio”.
O INML só realiza as autópsias se houver ordem do Ministério Público. Para que tal aconteça, é preciso que exista suspeita de crime, como explica a edição de domingo do Jornal de Notícias. Alguns casos de suicídio podem, por isso, nunca chegar às mãos do instituto, o que significa que os números oficiais podem ser inferiores aos números reais.