in Diário de Notícias
O desconhecimento e a ignorância são fatores que dão continuidade à prática da Mutilação Genital Feminina (MGF), cuja solução passa pela educação e pelo papel do homem na comunidade, segundo um membro da Associação de Estudantes da Guiné-Bissau em Lisboa.
"O que continua a alimentar essa prática da MGF é o desconhecimento e a ignorância que giram em torno do tema", disse à Lusa Tcherno Amadu Baldé.
No dia internacional da rapariga, a Associação Mulheres sem Fronteiras organizou a conferência internacional "Meninas e raparigas entre direitos e tradições: a excisão e outras práticas nefastas", em que um dos principais temas discutidos foi a MGF.
A MGF é efetuada maioritariamente em meninas entre os 0 e os 15 anos e consiste na remoção, parcial ou total, dos órgãos genitais femininos, por razões não médicas, associadas a rituais ou tradições inseridas em comunidades onde a prática é comum.
Para Tcherno, um dos principais desafios no combate à excisão feminina é "quebrar o tabu" e abordar o tema junto não só das mulheres, mas também dos homens.
"Temos de abordar o homem também. Abordar apenas a mulher é abordar só uma parte do problema", afirmou durante a sua intervenção num dos painéis da conferência.
Segundo a mesma fonte, o trabalho a realizar juntos dos jovens é o de "formação e sensibilização", uma vez que são membros da comunidade "mais recetivos e mais predispostos" a mudar a mentalidade.
Tcherno Baldé acrescentou que a maior dificuldade que os jovens poderão encontrar será a de "introduzir o tema dentro da família".
Filipa Domingos, da Comissão para a Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) da Amadora, considerou que a mudança de mentalidade é um caminho para a resolução do problema da MGF e que passa pela promoção da igualdade de género.
"Se atuarmos na promoção da igualdade de género em todos os sistemas de ensino onde estão todas as crianças estamos com certeza a contribuir para a promoção do papel da mulher na sociedade", referiu em declarações à Lusa.
Filipa Domingos indicou que a prevenção da MGF é um dos principais focos da CPCJ da Amadora que, através de indicadores de perigo, identifica possíveis casos de excisão feminina.
"No caso de uma mãe ter sido mutilada, sabemos que a probabilidade da filha vir a ser mutilada aumenta".
Por sua vez, Carolina Neira Vianello, da organização GAMS Bélgica, considerou, em declarações à Lusa, que "não há uma proteção real" em casos de MGF, uma vez que se trata de um tema do seio familiar, "do privado".
Carolina defendeu também a mudança de mentalidade junto das comunidades como solução para o problema da excisão feminina.
"No minuto em que se assimilar que é uma violência, não se perguntará se é cultura ou se temos de fazê-lo", sublinhou, acrescentando que a MGF tem de ser tratada "como qualquer tipo de maus-tratos e de violência".
Para Carolina, a MGF "não é um problema só das mulheres" mas também dos homens e, por isso, o trabalho de mudança de mentalidade deve abranger toda a comunidade.